
Aprendemos
quando criança a sonhar com castelos, príncipes encantados montados em cavalos
brancos, com um beijo de amor que nos acorda de um longo e enfadonho sono. Somos
embaladas com histórias sobre fadas que transformam abóboras em carruagem e
ratos em guiadores destas. Temos as fadas que nos levam os dentes e as que com
o toque de sua vara de condão nos fazem voar. Temos o Papai Noel que se desloca
quase do fim do mundo pra nos presentear na noite de Natal. Dormimos acreditando
que os duendes estão vigiando o jardim para que nenhum mal possa invadir a
nossa casa. Acreditamos em poderes secretos e super-poderes. 
Durante
a adolescência passamos a acreditar que a posição dos astros no dia do nosso
nascimento pode interferir e definir como será o nosso dia e nosso
comportamento. Também acreditamos que as linhas das nossas mãos poderão nos
dizer tudo sobre passado, presente e futuro. Até acreditamos que nosso destino
está escrito nas cartas do tarô. Quando nos apaixonamos somos levadas a crer
que Mãe Joana traz nosso homem de volta em três dias. E vamos amadurecendo e
passamos a acreditar que topar com gato preto ou passar por baixo de escada dá
azar. Somos levados a crer que carregar um galho de arruda nos livra do azar e
um trevo de quatro folhas nos trás sorte. Acreditamos que cruzar o réveillon de
branco nos trará paz, de amarelo nós trará dinheiro e de vermelho amor pra o
ano inteiro.
Por trás
da indústria da beleza há outra indústria que trabalha incansavelmente para nos
iludir, a indústria da magia, que transforma sonhos em realidade. Somos diariamente
bombardeadas por centenas e milhares de estímulos que nos fazem desejar. Somos por
essência seres desejantes e para nos instiga-los basta nos estimular os olhos e
os ouvidos, de resto o cérebro inventa. Nada
melhor pra embalar nossos sonhos de juventude eterna, do que ver corpos e
rostos perfeitos dos nossos ídolos estacionarem no tempo e exibirem belezas irretocáveis.
Será? Vejam o vídeo abaixo e me digam o que acham do poder de manipulação da TV
e seu ilusionismo.
Todo
o sistema midiático conhece bem a nossa capacidade de acreditar e a partir da
nossa credulidade nos manipula. O ilusionismo midiático nos mostra o quanto
estamos a aquém das celebridades. Somos apenas pobres mulheres naturais, e por
isso somos levadas a infelicidade e a depressão. Acordamos com olheiras, com os
cabelos desgrenhados e com mau hálito depois das nossas inúmeras e relaxantes
noites de sonhos. Temos celulite, estria e gordura localizada, e tudo isso é
resultado das cervejadas, feijoadas e dos churrascos com a família e os amigos,
e/ou da fantástica experiência de maternar. No rosto temos marcas de todas as experiências
que vivemos, dos nossos sorrisos escancarados, dos choros de emoção ou de olhar
o sol nascer e se pôr. E até mesmo os nossos lindos ídolos são como nós, meros
normais, no entanto, elas sempre aparecem com suas aparências maravilhosas
porque a fada com a varinha de condão, a mesma que atuou no vídeo acima, as
deixa esplendorosas. Quer saber por quê? Porque ninguém quer consumir a imagem
de uma mulher comum, e mulheres comuns todas somos. A magia está em nos mostrar
um modelo desejável, ou por melhor dizer, um modelo vendável, muito embora não atingível.
A beleza eterna e perfeita é o príncipe encantado, a fada do dente, o lobisomem,
o Papai Noel...



1 comentário:
Nós que fazemos parte dos movimentos de Mulheres,movimento de rádios comunitárias, há tempos que se discute a necessidade de mudanças no sistema midiático em nosso país de forma a garantir a liberdade de expressão e o direito à comunicação de todos e todas, e não apenas daqueles que detêm o poder político ou econômico e a propriedade dos meios de comunicação em massa. Historicamente, combatemos a mercantilização de nossos corpos e a invisibilidade seletiva de nossa diversidade e pluralidade e também de nossas lutas. Denunciamos a explícita coisificação da mulher na publicidade e seu impacto sobre as novas gerações, alertando para o poder que esse tipo de propaganda estereotipada e discriminatória exerce sobre a construção do imaginário de garotas e garotos. Defendemos uma imagem da mulher na mídia que, em vez de reproduzir e legitimar estereótipos e de exaltar os valores da sociedade de consumo, combata o preconceito e as desigualdades de gênero e raça tão presentes na sociedade. Para isso acredito na urgência de um novo marco regulatório ,uma mídia efetivamente plural e democrática para a consolidação da democracia brasileira, baseado nos princípios constitucionais do respeito aos direitos humanos e à diversidade de gênero, étnico-racial e de orientação sexual.A luta é árdua por que precisamos mudar o sistema político brasileiro.Rosa Gonçalves Rádio Comunitária de Independência -ACORDI -Conselho e da Rede de Mulheres da AMARC.
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