Semana passada eu me deparei com um relato que me deixou
perplexa. Era um depoimento que trazia em seu cerne uma dúvida que parecia
afligir bastante o autor. A dúvida, acompanhada da exposição do fato, era
dirigida a Regina Navarro Lins e se encontrava na página do Uol.
Deixo com vocês o relato do moço.
“Mas o que é uma mulher ninfomaníaca? A repressão sexual, ao longo da História, alimentou uma fantasia resistente e de aparência confiável, se é possível dizer isso de um mito: a ninfomania. Desde então, muitas mulheres sofreram em função desse mito. No século 19, uma onda de fervor moral varreu o Ocidente. As mulheres foram conclamadas a proporcionar um modelo de pureza para ambos os sexos. Ao mesmo tempo, o novo ideal feminino – a mulher casta, o anjo da casa – fazia com que elas ficassem num pedestal. Sua missão era domar as paixões dos homens e manter a castidade do lar, mas isso sem participar do mundo. Os médicos avaliaram que elas tinham um sistema nervoso muito delicado, “doença mensal” e cérebro menor, além de órgãos reprodutivos também menores; tudo isso fazia com que fosse insalubre para elas votar, trabalhar fora de casa, escrever livros, ir para a universidade, ou participar de debate público. Eles afirmavam que era da natureza da mulher não se interessar por sexo. Tais “verdades” faziam supor que, se as mulheres não tinham desejo, qualquer uma que tivesse algum era doente: uma ninfomaníaca. Para essas, recomendavam choque elétrico, sedativos, tranquilizantes e até internações. Retiravam os ovários de algumas delas para controlar sua sexualidade, e em alguns casos, removiam o clitóris. Outras foram colocadas em instituições para doentes mentais com o diagnóstico de ninfomaníacas. Diversas teorias médicas tentavam explicar as causas da ninfomania: nervos esgotados, inflamação no cérebro, lesões na coluna, cabeça deformada, além de genitália irritada e clitóris ampliado. Achavam também que a ninfomania se relacionava com o desejo sexual não controlado pela vontade, e sucumbia à tentação. Os preconceitos históricos quanto à sexualidade feminina, aliados à ignorância sempre causaram vítimas. O pesquisador da sexualidade, Alfred Kinsey, dizia que, ninfomaníaca é alguém que gosta sexo, mais do que você. Para muitos, até hoje, qualquer mulher que gosta de sexo, e não se reprime, é considerada uma mulher insaciável, uma ninfomaníaca. Concordo com a escritora americana Carol Groneman, que escreveu o livro ‘Ninfomania’, quando diz: ‘As mulheres precisam entender as várias formas como a ninfomania e outros conceitos têm sido usados para rotular e controlar a sexualidade feminina. São conceitos perigosos, que precisam ser desafiados e alterados.’” Regina Navarro Lins.
Honestamente, acho que Regina deixou de ponderar sobre
questões que ao meu ver são bem importantes. Não é possível falar sobre ninfomania sem falar sobre
a cultura machista e a tentativa de cercear o prazer feminino. O que está em
questão quanto ao discurso do garoto é insegurança com relação à independência da
noiva, principalmente a sexual e amorosa. Esse tipo de mulher, aparentemente
livre (não sei nada sobre ela, além de um pouco sobre suas experiências sexuais),
ameaça, já que sua sexualidade, sobre o estigma da ninfomania, assume o caráter
de doença porque pode colocar por terra a suposta superioridade masculina e sua
libido “inquestionável” e “insuperável”. Então, a liberação sexual feminina é uma clara ameaça ao machismo.