Há
algum tempo rompi com o silêncio e resolvi falar abertamente que fui estuprada por duas vezes.
Mas só recentemente, bem recentemente, resolvi romper mais uma vez o silêncio e
contar que quase sofri um terceiro, foi “apenas” uma tentativa, que se houvesse
ocorrido após a publicação da nova lei do estupro seria caracterizada como
estupro. E agora, com a “modinha” de filmar estupros,
acho também que se àqueles escrotos tivessem um equipamento de filmagem
qualquer corria o risco de uma hora dessas topar acidentalmente com as
imagens do meu próprio estupro. Apesar de não ter sido penetrada, me marcou
muito e me deixou psicologicamente muito machucada.
Quem
sempre lê minhas postagens deve ter percebido que nunca relatei sobre como foram os
meus estupros. Eis um dos motivos; não quero nenhum escroto se masturbando lendo sobre os momentos de agonia que passei. No entanto,
pra não deixar assim muito vácuo a história da tentativa de estupro vou relatar
por alto o que aconteceu. Mas antes vamos entender um pouco todo o contexto
desta e de outras histórias.
Então,
quando fui estuprada pela primeira vez, naquilo que foi a minha primeira experiência
sexual, meu mundo caiu por terra e eu me afundei ainda mais no buraco em que me encontrava. Logo, a bebida, o cigarro e o pouco cuidado comigo mesma se tornaram meu
refúgio. O segundo estupro ajudou a me afundar ainda mais. E, eu já nem sabia
mais o que era sentir dor. Já não conseguia mais identificar sequer o que era
violência. Já estava num estado tão grande torpor que achava que não habitava
mais esse corpo, eu só seguia em frente, comendo e andando sem me dar conta do
que ocorria comigo. Engravidei e abortei
sem perceber o que significavam essas situações. Até que sofri a fatídica
“tentativa de estupro” e ruí.
Não
demorou a perceber que a viagem de quatro de quarteirões possivelmente seria
abortada quando ao invés de tomar à direção da esquerda ele se encaminhou para a
direita da via. Eu, meio desconfiada, perguntei por que havia feito a conversão
contrária ao nosso destino. Ele deu uma desculpa que sequer lembro qual foi. O que
lembro bem é da sensação de que havia algo errado naquilo tudo e me desesperei
depois de uns 06 minutos de trajeto. Eles permaneciam calados enquanto eu
gritava e pedindo para me deixarem ir embora durante todo o restante da viagem.
Enfim, fui levada pra uma espécie de sítio na periferia da cidade e lá só não me
penetraram porque eu estava menstruada e sangrava muito. Mas se masturbaram enquanto
me olhavam pelada e me bolinavam.
Calada
e abatida, entrei no terminal, aguardei o ônibus e voltei pra casa. Como falei,
o silêncio que seguiu do retorno do terminal à minha casa, se desdobrou pelos os
dias seguintes e se entendeu até há alguns meses. Isso, porque eu ainda me sentia culpada
por ter estado num bar, ter bebido e por ter entrado naquele carro. Apesar
de compreender que não tive culpa por ter confiado mais uma vez sei que muita
gente vai afirmar que tive culpa. Afinal, eu já havia sido estuprada duas vezes
e ainda entrava no carro de um “desconhecido”, então é porque estava pedindo
pra ser estuprada, né?
O estupro
da adolescente de Pinhal
teria
ocorrido na madrugada do último domingo, na casa de um jovem. A adolescente
teria relatado a polícia que iria a uma festa com amigos, que acabou sendo
cancelada. Por causa do cancelamento, ela foi convidada a ir para a residência
de um adolescente, onde ingeriu bebidas alcóolicas e teria sido estuprada.
O
que mais revolta nesses casos é que muitas vezes a culpa e o medo de
julgamentos nos levam a silenciar. Principalmente porque, mesmo dentro das delegacias,
a gente vai ter de conviver com os comentários maldosos e com insistência de
nos colocar como culpadas. Quando na verdade o que deveria estar em xeque seria
esse comportamento escroto, e muitas vezes estimulado pela sociedade, de tolerância
e compreensão de que o homem, o macho, é tarado mesmo, que ele tem impor sua
vontade, que se a mulher der mole ele tem de “meter a vara”, mesmo que pra isso
o cara cometa um crime. E ESTUPRO É CRIME, não é sexo, não é brincadeira, não é engraçado, não é prova de masculinidade, é crime. E um crime terrível e repugnante.
Só mais uma coisa, um aviso às mulheres que acham que estão imunes a esse tipo de crime; não fiquem falando besteiras do tipo “mulheres que se vestem feito vadias merecem ser estupradas”, “tava pedindo” ou qualquer outra expressão semelhante porque, lamentavelmente, os estupradores não vão lhe dispensar por conta da sua conivência com eles, ESTAMOS TODAS, INDISTINTAMENTE, VULNERÁVEIS A PASSAR POR UM ESTUPRO. O mínimo que podemos fazer é nos solidarizarmos umas com as outras e repudiarmos todo e qualquer tipo de violência contra nós mulheres.
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