A cultura do medo, do pavor, do horror, da
dominação e do subjugo que os homens impõem a gente é tão poderosa que apenas
recentemente, aos 30 e poucos anos, eu criei coragem de passar a reagir a um
abuso, a um assédio no transporte público, na rua ou em qualquer lugar, ou à
coação por sexo de um parceiro. Eu já perdi a conta de quantas vezes fui
encoxada no transporte público, de quantas vezes entrei no ônibus e ouvi psiu
psiu e era um cara batendo punheta, de quantas vezes isso também aconteceu
quando eu caminhava na rua e passava ao lado de um carro e tinha um homem
fazendo psiu psiu e se masturbando dentro dele, de quantas vezes eu não
consegui reagir a um beijo forçado, a mão insistente de um homem nos meus
peitos ou no meu sexo, depois de eu ter dito algumas vezes que não queria, de
quantas vezes fui agarrada a força em festas, na rua, de quantas vezes enfiaram
a mão na minha bunda ou na minha buceta enquanto eu caminhava pela cidade. Das
tantas vezes, que, com 11, 12, 15, 17, 20, 27, 30 anos, fui apontada como
piranha, chamada de vagabunda, de vadia, por desejar fazer sexo, por fazer
sexo, por não querer fazer sexo, por querer beijar, por não querer beijar, por
estar ou não estar a fim de um garoto, por causa do tamanho da minha roupa, de
algum gesto, do jeito que eu dançava ou me comportava. De quantas vezes eu não
tive coragem, eu simplesmente não consegui!, dizer não a uma relação sexual que
eu não queria, mas coagida de diversas formas por um homem amado. Por mais de
30 anos eu senti medo, pavor, culpa, constrangimento, vergonha - eu, EU!, eu
que sempre me sentia culpada e constrangida por uma coisa ERRADA que um homem
fazia comigo. Por mais de 30 anos eu achei que era normal ser objetificada, eu
achei, todo mundo, o tempo todo, sempre me disse, que ser mulher é isso. Se eu
era mulher, então, meu papel era esse, então eu era isso.
Agora ACABOU. A-CA-BOU. Eu morro, apanho, mas NÃO ME CALO.
EU REAJO! Não só quando é comigo, mas, também, quando vejo alguma irmã em situação de constrangimento ou perigo. Acabou o silêncio, acabou a inércia, acabou o MEDO. EU REAJO.
Ana Paula Martins
EU REAJO! Não só quando é comigo, mas, também, quando vejo alguma irmã em situação de constrangimento ou perigo. Acabou o silêncio, acabou a inércia, acabou o MEDO. EU REAJO.
Ana Paula Martins
Educadora e militante feminista
Então, veja o vídeo gravado por uma garota que registrou
mais de 100 comentários de assédio masculinos filmado durante uma caminhada
pelas ruas de Manhattan, em Nova York. Por conta do vídeo Shoshana, a moça que aparece
sendo assediada, sofreu ameaças de estupro pela internet. Assista aqui.
Mas
enfim, assim como Ana Paula rompeu com a inércia e com o silêncio, eu também
rompi e você pode romper também. Não podemos tolerar abuso, coação e violência.
É difícil romper, mas não silenciar, não acatar e não se resignar diante do
assédio e da violência é libertador. Sonho com o dia que cada mulher no
universo se imponha, se empodere e reaja.
Sem comentários:
Enviar um comentário