sábado, 23 de setembro de 2017

Eu queria de fato ser mãe?



Quando era bem jovem, como a maioria de nós mulheres, eu idealizei a maternidade. Imaginei o quanto seria maravilhoso abrigar em meu ventre e dar a luz uma vida que seria a materialização de um grande amor. Eu imaginei o rosto da criança, o marido beijando e conversando com a barriga, as fotos do ensaio de gravidez... Contudo, conscientemente eu não optei pela maternidade e, ainda assim eu experimentei uma gravidez não planejada. Não optei por ela, mas, mesmo assim vivi a expectativa de vivenciar essa experiência. Porém, sofri um aborto espontâneo.
Além da violência obstetrícia sofrida durante o aborto, planos profissionais me levaram, anos depois, a acreditar que eu não queria ter filhos. Depois da gravidez e aborto aos 25 anos voltei a imaginar que talvez eu quisesse ter filhos naquela fase que as possibilidades de engravidar são bem pequenas e que a gente começar a imaginar um milhão de situações de uma vida sem filhos. E se meu marido engravidar outra mulher? Quem vai cuidar de mim na velhice? Será que vou me arrepender de não ter filhos? Minhas amigas todas já tiveram filhos e parecem estar muitos felizes com a maternidade, será que não sou feliz o suficiente? ...
Foram noites e mais noites de dúvidas e angústia. Eu e o marido chegamos a brigar porque ele não conseguia me deixar segura o suficiente sobre que decisão tomar. Eu estava com 36 anos e o tempo passava rapidamente sem que eu conseguisse decidir sobre o que seria melhor pra mim. Pensava no marido embalando a criança, nela o chamando de pai, no carinho que ele lhe dispensaria. Eu pensava que poderia mostrar pra todo mundo que poderia educar muito bem outro ser humano. Eu não correria o risco de perder o marido pra alguém que tivesse um filho com ele e nem dividir o patrimônio que construímos. Eu pensava em muitas coisas, menos no quão feliz ficaria em ser mãe. Meus motivos estavam focados basicamente em dar resposta à sociedade, permitir meu marido ser pai e no medo da solidão na velhice. Tudo isso me levou a parar com os métodos contraceptivos aos 39 anos mas, sem a esperança de engravidar. Estava errada, engravidei logo em seguida.  A constatação da gravidez me deixou em choque. No começo eu rejeitei a ideia de estar de grávida e tive dificuldade de aceitar a minha nova condição. No entanto, uma vez sofri um aborto espontâneo. Não sofri pelo aborto. Foi meio indiferente pra mim.
Mesmo com todas as dúvidas, eu não voltei ao uso de métodos contraceptivos por mais 2 anos. Mas, eu inconscientemente evitava sexo durante o meu período fértil. Felizmente, não voltei a engravidar. Há um ano eu percebi que não ter sido mãe foi o melhor que poderia me acontecer. Provavelmente nesse momento eu estaria muito infeliz caso tivesse sido mãe. Eu não tinha os motivos certos pra querer engravidar. Eu não queria ser mãe. Queria que meu marido pudesse ser pai e ter alguém pra cuidar de mim na velhice. Queria mostrar pra sociedade que eu era capaz de maternar  e mostrar para as amigas que poderia ter uma família de margarina. Móvitos claramente equivocados para alguém querer ter um filho. Logo, estou muito feliz pelas minhas escolhas e pelo investimento que fiz na minha realização pessoal. Logo, é sempre muito bom avaliar os nossos sentimentos antes de acreditar que a nossa felicidade está condicionada à maternidade.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Quem tem compromisso é ele!



Tenho ouvido constantemente algumas colegas e conhecidas usarem a frase “Quem tem compromisso é ele” como quem emite um mantra ultrarrevolucionário que exime de qualquer culpa a mulher que se envolve com alguém comprometido numa relação monogâmica. Mas, o que há de revolucionário em mulheres não se importando com o dano emocional que poderá causar à outra?
Ah, mas como culpar a mulher que se envolve com um cara comprometido sem saber?
Bingoooooo! Claro que não há como culpar nenhuma mulher por cair na conversa de um canalha! Não é desse tipo de caso que estamos falando. Discutimos aqui aqueles casos específicos em que a garota sabe que o cara é comprometido e cuja relação é fechada e mesmo assim se envolve com o cara.  
- Ah, mas quem tem compromisso é ele. E era uma boy magia todo desconstruidão e ligado nos paranauês do feminismo, mega- ultra-revolucionário, vegano...
Sim, quem tem compromisso é ele. Por outro lado, ele realmente era um boy magia desconstruídão e feministo mesmo?
Vamos pensar um pouco... Um cara que está numa relação em que a mulher acredita ser fechada e que fica ciscando por aí é ligado mesmo no feminismo? Será que ele não está te usando e usando a companheira dele apoiado no mesmo velho machismo de sempre? Você sabe de fato em que bases estão fundamentadas essa relação fechada?
Honestamente, acho pouco provável que um cara bacana de fato aja de uma forma tão desonesta com a própria companheira! Acho pouco provável que ele esteja se importando com o dano emocional que pode causar em qualquer uma das mulheres envolvidas nesse triângulo. Ele está preocupado somente com o próprio prazer e privilégio. Ele está sendo só mais um macho fazendo machice e você contribuindo para alimentar o machismo dele.
Então, será que vale mesmo a pena provocar dor e sofrimento noutra mulher por causa desse tipo de cara? Será que vale mesmo a pena se deixar envolver num lance em que vai correr o risco de também sair machucada por causa de macho sendo macho?
Ótimo pra você que tenha desconstruído o amor romântico, tenha superado o sentimento de posse e seja adepta do poliamor ou de relações abertas. Porém, não podemos nos esquecer que muitas de nós nunca teve o direito de vivenciar relações horizontais de fato. A maioria de nós sempre esteve sob o controle da cultura permissiva com os homens e castradora com as mulheres. E que essas mulheres podem levar ainda muito tempo para atingir esse nível de liberdade emocional. Logo, precisamos ser desbravadoras, ousadas e livres sim, contudo, não podemos nos esquecer que nossos atos podem implicar sofrimento em outras mulheres e que sendo escrotos com mulheres já bastam os homens.

terça-feira, 25 de julho de 2017



Eu voltei. Agora pra ficar!

Sim, depois de longo período de silêncio estou de volta. Volto a escrever e me expressar porque finalmente compreendi que viver é de fato “dar a cara a tapa”. Eu emudeci por medo das críticas que haviam tomado um tom extremamente pessoal e se tornado severamente pesadas. Infelizmente me acovardei. Contudo, não me culpo. Esse período de silêncio me permitiram ter mais tempo para outros projetos, inclusive me preparar para o ingresso ao mestrado, que venho cursando desde o início do ano. Bem, este é outro assunto. Vamos focar nos motivos da minha ausência e, logo mais, do meu regresso.

Então... enquanto mulher, enfrento uma série de dificuldades no meu dia a dia, que vão desde o constante medo das várias violências masculinas bem como a necessidade de provar que sou tão boa ou melhor que qualquer homem no desempenho de minhas atividades diárias e no campo profissional. Um exemplo tolo mas, que muita mulher se identifica, é provar que posso dirigir tão bem ou melhor que um homem. Enfim, nós sabemos do que eu falo. Por outro lado, enquanto feminista, enfrento uma batalha ainda mais difícil, que é a luta por tornar essa sociedade mais justa conosco. E nessa militância enfrento uma série de embates com outras colegas de militância por conta de divergências teóricas e até mesmo batalhas internas na desconstrução de comportamentos e pensamentos moldados na cultura machista.

Os ataques dos machistas inconformados com os meus textos, minhas denúncias, eu até tirava de letra, o que mais me incomodava era a forma como algumas colegas de militância faziam críticas aos meus escritos ou de outras feministas. Isso realmente me entristecia, me afetava e me levou, aos poucos, a me conter e escolher melhor os temas, as palavras ou tom com que escrevia. E o que antes era um prazer pra mim tornou-se uma tarefa espinhosa, realmente dolorosa. Eu comecei a ter medo de escrever algo que pudesse provocar a iria de algum grupo e algum tipo de represália. Então, achei melhor não escrever mais.

Reconheço que não tive maturidade suficiente para lidar com os ataques machistas e de colegas de movimento que divergiam de mim. Felizmente, esse período de silêncio me fez perceber que mesmo calada eu não estava imune às críticas, aos conflitos e aos ataques. E para ser sincera, como foi bom perceber isso. 

O último ano me permitiu perceber que as críticas virão sempre. Mesmo que seja para ressaltar o quanto podemos ser “certinhas”, “perfeccionista”, “falar bonito”. Portanto, escrevendo bem ou mal, as críticas e os ataques sempre virão... Algumas vezes eu escrevi algo que me fez pensar “Que puta texto”, “Meu melhor artigo”, contudo, vinha alguém e dizia “que texto bosta” e eu me ressentia muito. Em outro momento eu escrevia algo que ao reler me fazia corar de vergonha por achar uma merda e alguém me dizia que gostaria muito de ter escrito algo parecido e um pouco da vergonha se esvaia. 

Portanto, pra o bem ou para o mal, faço uso da minha liberdade de escrever textos que vão me parecer geniais ou uma merda para continuar alimentando este blog. Fico feliz por perceber que tenho o direito de ser medíocre quase sempre e que jamais serei uma unanimidade. Logo, Vamos se abancando que de vez em quando teremos muito sobre o que falar. Não me comprometo estar sempre por aqui, já que o mestrado me absorve até a alma. No entanto, logo mais falaremos sobre “Quem tem compromisso é ele”.
Beijos, até já!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Camisinha, sério que você não usa?




 
Resultado de imagem para imagem de combate ao hiv“Heterossexuais adultos representam a maior parcela nas novas notificações de infecção pelo vírus HIV. Em 2012, 67,5% dos casos informados pela rede de saúde pertenciam ao grupo de heterossexuais, sendo a maioria formada por mulheres, com 58,2%. O levantamento também mostra que a maior incidência de contaminação está na faixa de 30 a 49 anos, incluindo héteros e homossexuais. Os grupos vulneráveis, somados, responderam por um terço nas notificações.” Leia mais sobre esse assunto no G1.
Resultado de imagem para imagem de combate ao hiv
"Eu desconfiava que meu marido tinha suas aventuras extraconjugais. Desde 1993, ele apresentava sintomas estranhos. Foi internado várias vezes com crises de herpes-zoster e tuberculose. Resolvi fazer um exame. Nunca mais vou esquecer aquela sexta-feira 13, dia em que saiu o resultado. Era janeiro de 1995. Aos 35 anos de idade, confirmei uma suspeita que me martirizava: fui contaminada pelo HIV por meu marido. Fiquei em estado de choque. Só conseguia chorar e passei a pensar que iria morrer no dia seguinte. Eu me senti impotente, injustiçada, arrasada. Não era promíscua, não recebi transfusão de sangue nem usava drogas de nenhum tipo, quanto mais injetáveis. Só poderia ter pegado Aids de uma maneira: fazendo sexo com o homem com quem vivo há dez anos.  Estou pagando pelo prazer que meu companheiro foi buscar fora de casa." Jerusa Maria Mendes, hoje com 38 anos, pedagoga pernambucana. Depoimento publicado na VEJA

Resultado de imagem para imagem de combate ao hivPor volta de 1992 quando as discussões sobre Aids se encontravam entre os assuntos mais comentados na mídia e quando ainda se falava muito sobre grupos de risco eu tive a oportunidade de conhecer uma senhora de pouco mais 40 anos cujo marido, na mesma faixa etária, havia contraído Aids e morrido pouco antes de nos conhecermos. Eu tinha 20 anos e como a maioria dos jovens daquela época eu não tinha muita informação a respeito da doença e das formas de contaminação. Sabia o que dizia o senso comum, sabia dos grupos de riscos... Conhecer essa pessoa foi um presente que ganhei e que me fez entender que a coisa mais importante que eu poderia fazer por mim era cuidar da minha saúde, que os minutos de prazer não poderiam me levar a correr o risco de passar a vida inteira enfrentando uma doença extremamente estigmatizada.

Resultado de imagem para imagem de combate ao hivFátima, como vou preferir chama-la, estava casada há mais de 14 anos quando o marido adoeceu e, por acaso, descobriu que estava com aids. Além de revelar que ele era soropositivo ainda informou que era bissexual, que o parceiro também estava doente e que iria morar com o casal. Por conta de todo estigma que envolvia a doença no decorrer da década de 80 quem acabou tendo de cuidar do marido e do parceiro do marido foi Fátima, a família de nenhum dos dois assumiu essa responsabilidade.  Dado o estagio da doença o parceiro do marido deveria morrer primeiro, o que de fato se confirmou. Pouco tempo depois o marido também faleceu. Fátima e as duas filhas precisavam, desde então, fazer exames para verificar se haviam sido contaminadas com o vírus. Felizmente nem ela e nem as filhas foram contaminada.

Resultado de imagem para imagem de combate ao hivEu nunca havia visto alguém que conviveu com um soropositivo. Conhecer Fátima me fez compreender que qualquer pessoa estava exposta ao risco de contaminação. Eu pensei em todas as relações que tive sem proteção. Eu tinha tido poucos parceiros, mas eu não havia usado preservativos com eles. Mesmo assim o pânico tomou conta de mim. Foi então que tive a ideia de fazer uma doação de sangue para fazer o teste. Quando recebi o resultado de negativo para HIV, sífilis, hepatite e outras doenças infectocontagiosas senti vontade de dar uma festa. Se a partir do dia em que ouvi Fátima contar sua história eu havia decidido usar preservativo em todas as relações, depois de receber o resultado dos meus exames os cuidados com a minha saúde redobraram.

Então, eu reencontrei meu marido em 1997, com ele não foi diferente, usamos preservativo por mais de um ano. Depois de um tempo, e da insistência para que a gente parasse de usa-lo, eu pedi para que ele os exames pré-nupciais e com os resultados em mãos a gente parou com o preservativo. Entretanto, depois de algum tempo eu percebi que fazia mais sentido usa-lo, até com a finalidade de ter a camisinha como método de barreira á gravidez. Além disso, meu esposo trabalha na área de saúde e por causa disso ele está mais exposto ao risco de contrair qualquer doença infectocontagiosa. 
Resultado de imagem para imagem de combate ao hiv 
Usamos preservativo até o ano passado quando decidimos que queríamos ter um filho. Estamos tentando essa gravidez desde esse período. Mas, confesso que para mim, o sexo sem camisinha ainda não se tornou confortável. Talvez chegue um momento, que mesmo que o casal resolva ter filhos, eles optem por fazer inseminação artificial ao invés de sexo desprotegido.

Então, realmente não me sinto confortável em deixar os cuidados com a minha saúde também nas mãos de uma outra pessoa. Sinto que esse protagonismo deve estar nas minhas mãos. Isso implica dizer que acho imprescindível usar preservativo, mesmo no meu caso, numa relação estável de mais de 17 anos. E eu cobro sim. Vai usar sim, ou não há sexo! É o mínimo que eu posso fazer por mim. Meu corpo minhas regras.