quinta-feira, 30 de abril de 2015

Sobre slut shaming



Há algum tempo tenho pensado em escrever sobre a fiscalização que estamos frequentemente sofrendo sobre a nossa sexualidade, inclusive das próprias mulheres, e essa oportunidade chegou. Particularmente, me sinto bastante incomodada com a necessidade que algumas pessoas têm de tentar regular a frequência com que os outros fazem sexo, com quem ou onde fazem sexo. Tem gente se preocupa com o tamanho da saia ou do short da vizinha, da amiga, da atriz... Enfim, para ver a frequência com que isso ocorre basta apenas você observar quantas vezes as palavras vagabunda, puta, periguete é repetida nas postagens em que aparecem mulheres em situação de exposição na internet. Pode ser em reportagem sobre estupro, pornografia de revanche, em flagra de celebridades mostrando “mais do que devia”, em fotos e vídeos com mulheres em situações sensuais ou eróticas...
Bem, o que me deixa profundamente entristecida é que muitas mulheres também xinguem ou julguem outras mulheres por seu comportamento ou experiências sexuais. É lamentável que isso ocorra porque não é só a mulher alvo do comentário que se torna vítima do machismo, são todas as mulheres que se tornam vítimas deles. Até mesmo porque quem se beneficia com ele é somente o patriarcado, o machismo, os homens. Já as mulheres, inclusive àquelas que criticam as outras, acabam tendo a sua liberdade sexual cerceada.
Então, acho que chegou a hora da gente repensar o nosso comportamento e pensar duas vezes antes fazer qualquer tipo de comentário leviano. Como bem diz Camila Schincaglia.
 
“O que eu to vendo de mina fazendo slut shaming não tá escrito.
Migas, vamos lá, slut shaming é o ato de culpabilizar mulheres por determinadas atitudes ou pelo seu comportamento sexual. Ou seja? É basicamente reprimir a liberdade sexual da mina fazendo ela se sentir culpada ou inferior por fazer o que os homens cis têm toda a liberdade do mundo para fazer.
Então, não é legal sair comentando a vida sexual da amiguinha por aí. Contar para os outros o que ela faz ou deixa de fazer, MUITO MENOS em tom pejorativo, chamando-a de vagabunda, dada, puta ou derivados.
Vamos parar de reproduzir machismo?

 
Praticar slut shaming é ajudar o patriarcado a reprimir a liberdade sexual de TODAS AS MULHERES, inclusive a sua, sabia?
A sociedade já nos reprime/objetifica o tempo todo.
Os homens cis já nos reprimem/objetificam o tempo todo.
A última coisa que precisamos é ajudá-los a nos reprimirem.

Então, o que precisamos?
1. Desconstruir esse pensamento.
As minas têm liberdade de fazerem o que elas quiserem com seus próprios corpos.
2.   Não criticar minas que exercem sua liberdade da mesma forma que os homens cis ou de uma forma diferente da sua.
Sem umbiguismo. Cada uma, cada uma.

3. Precisamos nos unir para combater esse pensamento. Se você vir alguém chamando uma mina de vagabunda/puta/etc em tom pejorativo, explique para essa pessoa que a outra é dona de seu próprio corpo e que ninguém precisa ser fiscal do sexo alheio.
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4. Empodere suas amigas. Mostrem para elas como é bom ser livre para fazer suas próprias escolhas, como é bom exercer o consentimento ou o não-consentimento com total controle de seu corpo.

Por minas livres. Beijas”.
Camila Schincaglia.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Caminhando uma milha com os sapatos dela



 Foto: Mohamed Azakir / ReutersHoje eu me deparei com a informação de que Libaneses (homens) caminharam pelas ruas de Beirute, capital do Líbano, de saltos altos protestando contra a violência à mulher. O evento, segundo organizadores, tem o intuito de relembrar os a violência, o assédio e os estupros sofridos pelas mulheres diariamente no país.
De acordo com o site Terra, mais de 200 homens se uniram na cidade de Beirute para participar do "Walk a Mile in Her Shoes", um projeto internacional que quer ampliar a conscientização sobre todas as formas de violência contra a mulher. 
 Foto: Mohamed Azakir / ReutersA caminhada, realizada ontem, domingo (26), reuniu homens de todas as idades que percorreram uma milha (cerca de 1,6 km) usando sapatos de salto alto vermelhos, carregando cartazes e faixas com os dizeres "o silêncio esconde a violência" e "esmague a violência com os saltos altos", entre outros.  Foi a primeira vez que o evento ocorreu em um país do Oriente Médio. 
Campanha contra o abuso para a Kafa
De acordo com o site Terra os sapatos utilizados na caminhada estavam a vendas lojas que pretendem doar o dinheiro arrecadado em doações à Kafa, organização que luta contra a violência e exploração de mulheres e crianças. 

O projeto, criado em 2001 pelo norte-americano Frank Baird, cujo nome, "Walk a Mile in Her Shoes", é inspirado em uma expressão em inglês que significa colocar-se no lugar de alguém. O projeto tem sido reproduzido em vários países.
Campanha contra o abuso para a Kafa
A mim a caminhada no Líbano parece bastante irônica. Veja bem, o Líbano é uma sociedade que apesar moderna cultiva costumes medievais. Lá, as mulheres, depois do casamento, são consideradas propriedade dos maridos e, portanto, podem ser agredidas, presas e até estupradas. No país, não existe punição para o marido que forçar a mulher a fazer sexo com ele. Os casamentos seguem leis religiosas e as leis muçulmanas e cristãs concedem aos homens poderes sobre as mulheres.
Um estudo divulgado pela ONU, março do ano passado, fez um ranking dos países muçulmanos que mais desrespeitam os direitos das mulheres e o Líbano aparece na posição 14 entre 47 países. 
Campanha contra o abuso para a Kafa
É irônico que homens, que são responsáveis tanto pela violência contra as mulheres quanto “por mudar” as tradições e as leis, saiam em passeata, sem a presença de mulheres, para pedir o fim da violência contra elas. Honestamente, acho que a iniciativa tem mais o intuito de atrair holofotes para eles do que realmente lutar contra a violência. Existem muitas outras formas de atuação em apoio às mulheres do que uma passeata excludente onde, ao que me parece, as mulheres não têm voz.
Ativistas durante o dia Internacional da Mulher em frente ao Museu Nacional de Beirut - foto de Mohammad Azakir
Ativistas durante o dia Internacional da Mulher em frente ao Museu Nacional de Beirute. Foto: Mohammad Azakir
Acho que teria muito mais eficácia e impacto um protesto no qual esses homens se reunissem, ao lado de mulheres, dentro do parlamento exigindo mudanças nas leis que autorizam a violência, estabelecendo e efetivando punição para os agressores e mais liberdade para as mulheres. Passeata de sapatos vermelhos pedindo o fim da violência tem a mesma eficácia daquelas realizadas no Brasil onde todo mundo se veste de branco para pedir paz.    

sábado, 25 de abril de 2015

Machismo na faculdade de direito



Resultado de imagem para machismo faculdade de direito imagensFaculdade de direito e machismo muitas vezes podem ser usados como sinônimo. É histórica a ocorrência de machismo dentro dos limites dessa instituição. Essa semana repercutiu nas redes sociais a piada feita pelo professor Fábio Melo de Azambuja, que ministra a cadeira de Direito Empresarial III, fazendo analogia entre leis e mulheres leis "leis são como mulheres, feitas para serem violadas". 

A piada feita pelo professor da PUCRS, naturalmente, gerou muita polêmica. Alguns sites estão tratando a “piada” como uma brincadeira.
“Uma brincadeira de gosto duvidoso em uma aula da PUCRS, em Porto Alegre, desencadeou uma polêmica entre estudantes, professor e universidade na última quarta-feira. Segundo depoimento de alunos, tudo começou quando Fábio Melo de Azambuja, que ministra a cadeira de Direito Empresarial III, teria pedido licença para "contar uma piada" durante a aula. — Ele perguntou se podia e ninguém contestou. Aí ele disse: as leis são como as mulheres, foram feitas para serem violadas — relata o estudante Luan Sanchotene, 25 anos. Até o fim da tarde de quinta-feira, a publicação tinha 80 compartilhamentos na rede social, além de dezenas de comentários — contra e a favor do professor, que seria conhecido por suas brincadeiras em sala de aula. O episódio motivou uma reunião de estudantes com a diretoria da universidade. Integrante do DCE da PUCRS, Paula Volkart considerou a ocorrência ‘grave’. Ela disse que deve ser aberta uma sindicância para apurar os fatos.Zero Hora.

— Foi um ato de misoginia e machismo, uma apologia ao estupro dentro da sala de aula, e o DCE mantém uma posição que é contra as opressões. Depois disso, outras pessoas vieram até nós e relataram casos que aconteceram com o mesmo professor. Sabemos que é muito difícil que ele seja afastado, mas é importante que a PUC se posicione em relação a isso — Paula Volkart.
Estudantes de Direito promovem ato em apoio a professor que fez piada sobre mulheres Júlia Scheirr/Arquivo PessoalSurpreendentemente, na manhã desta sexta-feira alunos realizaram um ato de desagravo, em apoio ao professor. Os estudantes foram à aula de preto e, no intervalo entre as aulas, aplaudiram o professor enquanto ele saía de uma das salas. Em defesa do professor a aluna Júlia Scheirr, do 7º semestre de Direito, que organizava o ato em desagravo ao professor, disse que estava na aula e as queixas tiraram o comentário do contexto. 

Resultado de imagem para estupro culturaConcordo com Paula Volkart. Não foi uma piada ou uma brincadeira foi a reprodução da cultura do estupro e a propagação da misoginia. A maioria das piadas tem a finalidade de naturalizar o abuso e a opressão. Fazer “piada” com estupro é uma tentativa de legitimar o pleno poder e o direito do homem sobre os corpos femininos. “Piadas” machistas, principalmente sobre violação dos corpos femininos, devem ser abolidas de qualquer ambiente imagina dentro de uma instituição de ensino.

Resultado de imagem para estupro contraNão há contexto que torne aceitável a reprodução de “piadas” sobre violência contra as mulheres. Não é aceitável porque é uma realidade vivenciada diariamente por nós mulheres. Não é tolerável porque legitima e naturaliza a agressão, a opressão, a violência. Mesmo que não desejasse falar o que falou, “as leis são como as mulheres, foram feitas para serem violadas”, a expressão dá a conotação de que é legítima a violação de mulheres e portanto é fazer a apologia ao estupro sim.

Resultado de imagem para estupro contraNão se trata de politicamente correto ou incorreto, trata-se de não ser tolerante com o crime e não fazer apologia a ele. Professor nenhum é pago para fazer piadas, pelo menos os que estão no ensino regular formal. Professores que gostam de fazer piadas infames devem deixar a sala de aula e procurar recintos onde as barbaridades que dizem não sejam levadas a sério. Estupro não é piada é crime!