“Heterossexuais adultos representam a maior parcela
nas novas notificações de infecção pelo vírus HIV. Em 2012, 67,5% dos casos
informados pela rede de saúde pertenciam ao grupo de heterossexuais, sendo a
maioria formada por mulheres, com 58,2%. O levantamento também mostra que a
maior incidência de contaminação está na faixa de 30 a 49 anos, incluindo
héteros e homossexuais. Os grupos vulneráveis, somados, responderam por um
terço nas notificações.” Leia mais sobre esse assunto no G1.
"Eu desconfiava que meu marido tinha suas aventuras extraconjugais. Desde 1993, ele apresentava sintomas estranhos. Foi internado várias vezes com crises de herpes-zoster e tuberculose. Resolvi fazer um exame. Nunca mais vou esquecer aquela sexta-feira 13, dia em que saiu o resultado. Era janeiro de 1995. Aos 35 anos de idade, confirmei uma suspeita que me martirizava: fui contaminada pelo HIV por meu marido. Fiquei em estado de choque. Só conseguia chorar e passei a pensar que iria morrer no dia seguinte. Eu me senti impotente, injustiçada, arrasada. Não era promíscua, não recebi transfusão de sangue nem usava drogas de nenhum tipo, quanto mais injetáveis. Só poderia ter pegado Aids de uma maneira: fazendo sexo com o homem com quem vivo há dez anos. Estou pagando pelo prazer que meu companheiro foi buscar fora de casa." Jerusa Maria Mendes, hoje com 38 anos, pedagoga pernambucana. Depoimento publicado na VEJA.
Por volta de 1992 quando as
discussões sobre Aids se encontravam entre os assuntos mais comentados na mídia
e quando ainda se falava muito sobre grupos de risco eu tive a oportunidade de
conhecer uma senhora de pouco mais 40 anos cujo marido, na mesma faixa etária,
havia contraído Aids e morrido pouco antes de nos conhecermos. Eu tinha 20 anos
e como a maioria dos jovens daquela época eu não tinha muita informação a
respeito da doença e das formas de contaminação. Sabia o que dizia o senso
comum, sabia dos grupos de riscos... Conhecer essa pessoa foi um presente que
ganhei e que me fez entender que a coisa mais importante que eu poderia fazer
por mim era cuidar da minha saúde, que os minutos de prazer não poderiam me
levar a correr o risco de passar a vida inteira enfrentando uma doença
extremamente estigmatizada.
Fátima, como vou preferir
chama-la, estava casada há mais de 14 anos quando o marido adoeceu e, por
acaso, descobriu que estava com aids. Além de revelar que ele era soropositivo
ainda informou que era bissexual, que o parceiro também
estava doente e que iria morar com o casal. Por conta de todo estigma que
envolvia a doença no decorrer da década de 80 quem acabou tendo de cuidar do
marido e do parceiro do marido foi Fátima, a família de nenhum dos dois assumiu
essa responsabilidade. Dado o estagio da
doença o parceiro do marido deveria morrer primeiro, o que de fato se confirmou.
Pouco tempo depois o marido também faleceu. Fátima e as duas filhas precisavam,
desde então, fazer exames para verificar se haviam sido contaminadas com o
vírus. Felizmente nem ela e nem as filhas foram contaminada.
Eu nunca havia
visto alguém que conviveu com um soropositivo. Conhecer Fátima me fez
compreender que qualquer pessoa estava exposta ao risco de contaminação. Eu pensei
em todas as relações que tive sem proteção. Eu tinha tido poucos parceiros, mas
eu não havia usado preservativos com eles. Mesmo assim o pânico tomou conta de
mim. Foi então que tive a ideia de fazer uma doação de sangue para fazer o
teste. Quando recebi o resultado de negativo para HIV, sífilis, hepatite e
outras doenças infectocontagiosas senti vontade de dar uma festa. Se a partir
do dia em que ouvi Fátima contar sua história eu havia decidido usar
preservativo em todas as relações, depois de receber o resultado dos meus
exames os cuidados com a minha saúde redobraram.
Então, eu
reencontrei meu marido em 1997, com ele não foi diferente, usamos preservativo
por mais de um ano. Depois de um tempo, e da insistência para que a gente
parasse de usa-lo, eu pedi para que ele os exames pré-nupciais e com os
resultados em mãos a gente parou com o preservativo. Entretanto, depois de
algum tempo eu percebi que fazia mais sentido usa-lo, até com a finalidade de
ter a camisinha como método de barreira á gravidez. Além disso, meu esposo
trabalha na área de saúde e por causa disso ele está mais exposto ao risco de
contrair qualquer doença infectocontagiosa.
Usamos preservativo
até o ano passado quando decidimos que queríamos ter um filho. Estamos tentando
essa gravidez desde esse período. Mas, confesso que para mim, o sexo sem
camisinha ainda não se tornou confortável. Talvez chegue um momento, que mesmo
que o casal resolva ter filhos, eles optem por fazer inseminação artificial ao
invés de sexo desprotegido.
Então, realmente
não me sinto confortável em deixar os cuidados com a minha saúde também nas
mãos de uma outra pessoa. Sinto que esse protagonismo deve estar nas minhas
mãos. Isso implica dizer que acho imprescindível usar preservativo, mesmo no
meu caso, numa relação estável de mais de 17 anos. E eu cobro sim. Vai usar
sim, ou não há sexo! É o mínimo que eu posso fazer por mim. Meu corpo minhas
regras.