Sobre a maternidade, algumas
questões aprendi na prática ou no susto, outras eu fui absorvendo das
experiências que nunca tive, mas pude observar de longe. Possivelmente, eu ainda não tenha a exata
noção do que representa maternar, contudo, me permito avaliar, com relativa
precisão, tudo o que a maternidade representa: todas as renúncias, as horas sem
dormir, as despesas, o desafio da educação, as preocupações que sempre estarão
as espreitas à cabeceira da cama... Enfim, todas essas questões práticas que
tão facilmente não damos conta ou levamos em consideração quando somos muito
jovens.
Não quero dizer que a maternidade
seja um inconsequente ímpeto juvenil, muito embora não possa negar que
eventualmente chega a sê-lo. Obviamente, estamos imersas numa cultura e
ninguém, absolutamente ninguém, passa por ela ilesa. E essa cultura influencia
e direciona todas as nossas decisões e nos obriga a fazer coisas sem antes
refletir sobre elas. Então não é difícil compreender porque grande parte de nós
mulheres tendemos a enfrentar a maternidade com a simplicidade de quem vai
brincar de boneca, principalmente quando ainda somos muitos jovens. Afinal, o
nosso condicionamento começa ocorrer na infância. Somos desde cedo submetidas à
ideia de que a nossa função primordial é nos tornarmos mães, que só nos
tornamos plenas após nos tornarmos mãe. E se negar a exercer essa função
fatalmente nos leva a sermos julgadas egoístas, narcisistas ou mulheres
infelizes. Eu já nem sou capaz de determinar quantas vezes fui tratada como
egoísta por afirmar que não queria ter filhos. Também não esqueço as vezes que,
por conta disso, me disseram que nunca iria me tornar uma mulher completa,
conhecer o amor verdadeiro, que eu era uma pessoa amarga e cruel com meu marido
por não permiti-lo se tornar pai.
Particularmente, devo confessar
que nunca sonhei com a maternidade, em nenhum momento esteve entre minhas
prioridades me tornar mãe. Mas, talvez tenha, por algum tempo, acreditado que
havia nascido com o tal instinto materno e que ser mãe poderia ser o melhor que
eu podia me tornar. Acho que assim como eu quase todas as mulheres, em algum
momento de suas vidas, acreditaram nisso, outras nunca deixam de acreditar.
Confesso que, em muitos momentos, isso me fez infeliz, até mesmo quando uma
mulher me dizia para tocar em sua barriga para sentir o bebê e aquilo me
incomodava. Sempre me senti profundamente desconfortável em tocar barrigas
grávidas.
Honestamente, acho um grande
equívoco essa idealização do instinto materno, a crença que toda mulher sabe
exatamente como cuidar e educar uma criança, que este conhecimento e amor
incondicional estão no DNA feminino. Por muito tempo me senti culpada por não
sentir esse tal instinto materno. Acho que muitas mulheres que não
condicionaram sua completude ao exercício da maternidade em muitas ocasiões se
sentiram culpadas e socialmente inadequadas.
Por outro lado, quem cede às
convenções, em muitos casos, se deparam com uma realidade com a qual não está
preparada para conviver. Mesmo nessas circunstâncias há um preço muito alto a
se pagar. Para manter inabalada a crença de que o amor materno supera tudo e compensa
todo sofrimento ou dor, pagamos com o nosso silêncio, a ocultação das nossas dores,
dilemas, dúvidas e muita insegurança. Os conflitos que as mães sofrem são
completamente abafados, se tornam tabus. Durante a minha vida inteira eu ouvi
poucas mulheres reclamarem da maternidade em si, elas reclamam constantemente
dos filhos. Então eu pensava: é só saber educar para tudo sair perfeito e
ninguém precisaria reclamar nem mesmo das filhas ou filhos. Mas, não se tratava
disso, trata-se de tabu. Qualquer mulher sabe que, ao se tornar mãe, sequer
pode reclamar do lado ruim da maternidade sem correr o risco de sofrer olhares
de reprovação, ser julgada péssima mãe, ou ser acusada de estar maculando a
santíssima função de maternar. Reclamar das obrigações de ser mãe é, desde
sempre, socialmente inaceitável. E por conta dessa cultura, a gente cresce
achando que ser mãe é somente a coisa mais linda que nós mulheres podemos nos
tornar, que é, nada além, de maravilhoso. Somos condicionadas a acreditar que
não há nenhum ponto negativo. Eis a receita da frustração.
Sem comentários:
Enviar um comentário