Quando era bem jovem, como a maioria de nós mulheres, eu
idealizei a maternidade. Imaginei o quanto seria maravilhoso abrigar em meu
ventre e dar a luz uma vida que seria a materialização de um grande amor. Eu imaginei
o rosto da criança, o marido beijando e conversando com a barriga, as fotos do
ensaio de gravidez... Contudo, conscientemente eu não optei pela maternidade e,
ainda assim eu experimentei uma gravidez não planejada. Não optei por ela, mas,
mesmo assim vivi a expectativa de vivenciar essa experiência. Porém, sofri um
aborto espontâneo.
Além da violência obstetrícia sofrida durante o aborto,
planos profissionais me levaram, anos depois, a acreditar que eu não queria ter
filhos. Depois da gravidez e aborto aos 25 anos voltei a imaginar que talvez eu
quisesse ter filhos naquela fase que as possibilidades de engravidar são bem
pequenas e que a gente começar a imaginar um milhão de situações de uma vida
sem filhos. E se meu marido engravidar outra mulher? Quem vai cuidar de mim na
velhice? Será que vou me arrepender de não ter filhos? Minhas amigas todas já
tiveram filhos e parecem estar muitos felizes com a maternidade, será que não
sou feliz o suficiente? ...
Foram noites e mais noites de dúvidas e angústia. Eu e o
marido chegamos a brigar porque ele não conseguia me deixar segura o suficiente
sobre que decisão tomar. Eu estava com 36 anos e o tempo passava rapidamente
sem que eu conseguisse decidir sobre o que seria melhor pra mim. Pensava no
marido embalando a criança, nela o chamando de pai, no carinho que ele lhe
dispensaria. Eu pensava que poderia mostrar pra todo mundo que poderia educar
muito bem outro ser humano. Eu não correria o risco de perder o marido pra
alguém que tivesse um filho com ele e nem dividir o patrimônio que construímos.
Eu pensava em muitas coisas, menos no quão feliz ficaria em ser mãe. Meus motivos
estavam focados basicamente em dar resposta à sociedade, permitir meu marido
ser pai e no medo da solidão na velhice. Tudo isso me levou a parar com os
métodos contraceptivos aos 39 anos mas, sem a esperança de engravidar. Estava errada,
engravidei logo em seguida. A constatação
da gravidez me deixou em choque. No começo eu rejeitei a ideia de estar de
grávida e tive dificuldade de aceitar a minha nova condição. No entanto, uma
vez sofri um aborto espontâneo. Não sofri pelo aborto. Foi meio indiferente pra
mim.
Mesmo com todas as dúvidas, eu não voltei ao uso de métodos
contraceptivos por mais 2 anos. Mas, eu inconscientemente evitava sexo durante
o meu período fértil. Felizmente, não voltei a engravidar. Há um ano eu percebi
que não ter sido mãe foi o melhor que poderia me acontecer. Provavelmente nesse
momento eu estaria muito infeliz caso tivesse sido mãe. Eu não tinha os motivos
certos pra querer engravidar. Eu não queria ser mãe. Queria que meu marido
pudesse ser pai e ter alguém pra cuidar de mim na velhice. Queria mostrar pra
sociedade que eu era capaz de maternar e
mostrar para as amigas que poderia ter uma família de margarina. Móvitos claramente
equivocados para alguém querer ter um filho. Logo, estou muito feliz pelas
minhas escolhas e pelo investimento que fiz na minha realização pessoal. Logo,
é sempre muito bom avaliar os nossos sentimentos antes de acreditar que a nossa
felicidade está condicionada à maternidade.