Tenho ouvido constantemente
algumas colegas e conhecidas usarem a frase “Quem tem compromisso é ele” como
quem emite um mantra ultrarrevolucionário que exime de qualquer culpa a mulher
que se envolve com alguém comprometido numa relação monogâmica. Mas, o que há
de revolucionário em mulheres não se importando com o dano emocional que poderá
causar à outra?
Ah, mas como culpar a mulher que
se envolve com um cara comprometido sem saber?
Bingoooooo! Claro que não há como
culpar nenhuma mulher por cair na conversa de um canalha! Não é desse tipo de
caso que estamos falando. Discutimos aqui aqueles casos específicos em que a
garota sabe que o cara é comprometido e cuja relação é fechada e mesmo assim se
envolve com o cara.
- Ah, mas quem tem compromisso é
ele. E era uma boy magia todo desconstruidão e ligado nos paranauês do
feminismo, mega- ultra-revolucionário, vegano...
Sim, quem tem compromisso é ele.
Por outro lado, ele realmente era um boy magia desconstruídão e feministo
mesmo?
Vamos pensar um pouco... Um cara
que está numa relação em que a mulher acredita ser fechada e que fica ciscando
por aí é ligado mesmo no feminismo? Será que ele não está te usando e usando a
companheira dele apoiado no mesmo velho machismo de sempre? Você sabe de fato
em que bases estão fundamentadas essa relação fechada?
Honestamente, acho pouco provável
que um cara bacana de fato aja de uma forma tão desonesta com a própria companheira!
Acho pouco provável que ele esteja se importando com o dano emocional que pode
causar em qualquer uma das mulheres envolvidas nesse triângulo. Ele está
preocupado somente com o próprio prazer e privilégio. Ele está sendo só mais um
macho fazendo machice e você contribuindo para alimentar o machismo dele.
Então, será que vale mesmo a pena
provocar dor e sofrimento noutra mulher por causa desse tipo de cara? Será que
vale mesmo a pena se deixar envolver num lance em que vai correr o risco de
também sair machucada por causa de macho sendo macho?
Ótimo pra você que tenha
desconstruído o amor romântico, tenha superado o sentimento de posse e seja
adepta do poliamor ou de relações abertas. Porém, não podemos nos esquecer que
muitas de nós nunca teve o direito de vivenciar relações horizontais de fato. A
maioria de nós sempre esteve sob o controle da cultura permissiva com os homens
e castradora com as mulheres. E que essas mulheres podem levar ainda muito
tempo para atingir esse nível de liberdade emocional. Logo, precisamos ser
desbravadoras, ousadas e livres sim, contudo, não podemos nos esquecer que
nossos atos podem implicar sofrimento em outras mulheres e que sendo escrotos
com mulheres já bastam os homens.