quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sob a sombra do medo.





Às vezes me invade uma sensação de que o chão aos meus pés desapareceu e que estou flutuando, procuro algo em que me agarrar, e o máximo que consigo encontrar é vácuo, brisa, um indescritível vazio. Tento me apegar a algo em mim, e o meu eu fora esvaziado, não me restou nada, coisa alguma, sequer uma réstia ou um facho luz.

Vivo a angustiante essência da morte.

As minhas entranhas se fecham.

O ar fica rarefeito.

Sinto por um ínfimo instante uma tontura, um breve desfalecimento. Desejo ardentemente apagar, sentir meu corpo languido se deixar cair. No entanto, uma dor dilacerante ecoa intermitentemente em meu nicho craniano.

Deliro que morri e que estou procurando um local escuro pra me esconder. Vago insana de beco em beco, de viela em viela. Onde larguei o lugar calmo, silencioso e escuro? Lembro que deixei numa rua... Aonde? Quero meu lugar! Um abrigo onde eu não possa me encontrar.

Meu eu está inundado de mim.

Tento me libertar dessa contradição de ser eu a pessoa que ocupa tão espaçosamente este corpo físico e este sujeito paranoico.

Meus gestos são largos, cheios de si. Minhas palavras estão sempre prontas, e saem da boca sem o meu controle.

Sufoco no ócio do meu ser, viajo na sensação de estar fora de mim e atuar como juiz pleno dos meus atos. 

Eu o meu carrasco cruel.

Essa vontade louca de punição.

Um desejo cortante de me apontar o dedo julgador e imputar-me pena máxima me ocorre intempestivamente. A angústia do seu cumprimento é latente, queria pagá-la de pra todo o sempre. Zerar a contar.

E por fim passar uma borracha e esquecer de vez a culpa de ser eu este ente que acorda, anda, come e ri. 

1 comentário:

Luiza Nobel disse...

Nós corta como um faca todos esses sentimentos.