O feirante grita pra chamar a atenção dos
clientes. O leiloeiro grita com o intuito de entusiasmar o comprador. O
treinador grita pra incentivar o time. O homem grita com a companheira com o
intuito de intimida-la, como meio de fazer valer sua vontade, livrar-se de uma
situação desfavorável ou como uma simples demonstração de poder.
É fato que a imensa maioria
dos homens tem compleição física superior a das mulheres e, portanto, um grito
masculino nos soa extremamente intimidador. O simples encarar de olhos
esbulhados já quer nos dizer que há perigo à vista. E o homem sabe disso. Sabe
também que dificilmente vamos enfrenta-los fisicamente. Então ele usa o grito
como ameaça. Subentende-se que depois que ele grita nada mais deverá ser feito
ou dito, pois há risco iminente de ter que enfrentar sua fúria na forma mais
devastadora, a agressão física.
Ouvimos gritos quando
estacionamos mal o carro, quando passamos a marcha errada, não entendemos algo,
cometemos algum erro. Mas, sobretudo, ouvimos gritos quando questionamos os
homens, quando tentamos iniciar um diálogo acerca de algum assunto que lhes
possa ser inconveniente. Nessas ocasiões
o grito é a ferramenta que vai impedir a progressão da conversa, ele vai nos
manter sob controle, vai fazer com que recuemos e desistamos dos
esclarecimentos. O efeito desejado é realmente nos amedrontar, nos acovardar e
nos causar insegurança.
Para o homem, o confronto é
efeito colateral do grito. Ele deseja evita-lo, mas caso não seja possível não
se esquiva dele. Já a mulher se preocupa bastante com o embate, pois não pode
precisar que contorno este irá tomar. Todas nós conhecemos bem as possíveis consequências
do enfrentamento e nos esquivamos dele o máximo possível. É uma batalha
desigual, cujos danos podem ser irreparáveis. Esses fatores nos deixam em
grande desvantagem. Essa fragilidade é usada pelo “macho” pra nos oprimir.
Há a cultura da tolerância
aos gritos, olhares intimidadores, palavras grosseiras e xingamentos. Estamos
tão condicionadas que não vemos toda essa hostilidade como uma forma de
violência, uma forma de demonstrar superioridade física e de nos submeter as
suas vontades. Apesar de passar despercebida, essa é a mais comum forma de
opressão contra nós mulheres. É a cultura machista se impondo sobre nós e nos
mantendo sob seu domínio. E sempre que se sentem encurralados eles gritam. É um
ciclo vicioso, quanto mais se conquista com o grito, mais eles gritam. Não obstante,
quando o grito deixa de surtir efeito, a violência passa a manifestar-se
através do espancamento.
Devemos, portanto não nos
deixar intimidar, devemos encarar o grito como ele realmente é, uma ameaça, uma
violência e mais um mecanismo de opressão contra a mulher. Numa relação entre
iguais deve prevalecer o diálogo, os conflitos devem resolvidos através da
conversa, deve prevalecer o respeito mútuo.
Onde há hostilidade há uma relação doente, falta respeito e igualdade.
Neste contexto não há como se manter saudável ou educar filhos saudáveis.
O grito é uma das
manifestações da violência psicológica e como tal pode ter implicações contra o
agressor quando denunciada. É imprescindível que nós mulheres não sejamos
conivente com essa agressão.
1 comentário:
pena que vc limitou isso simplesmente às mulheres, pois eu como filho também sofro todos os tipos de agressão e abuso vindos de parte da minha mãe.
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