Nos
últimos dois meses tenho estado um pouco ausente da internet e não tenho
escrito com a mesma frequência pra esse blog. Felizmente, nada de mal me
ocorreu, exceto pela morte da minha cadelinha de 17 anos, sobre a qual talvez
escreva em breve. O que tem me mantido distante é pura e simplesmente um certo desapontamento.
Não tenho me sentido muito confortável com os comportamentos que venho
observando na internet. Além das usuais pornografias de revanche/vingança que
tem inundado a rede, das páginas dedicadas à misoginia, ainda tem me incomodado
a intolerância com ideias divergentes e a onda de printar comentários e post’s
para que os autores sejam ridicularizados em páginas pessoais ou em grupos. Uma
lástima que isso venha acontecendo, a fofoca tomou outra dimensão, e apesar dos
usos das palavras da vítima, a manipulação continua ocorrendo, pegam frases
e/ou postagens fora do contexto para propositadamente modificarem o que foi
dito. E como na internet todo mundo se sente muito à vontade pra expressar suas
“opiniões” não é raro que muitas das vítimas das famigeradas printagens sofram
verdadeiros linchamentos virtuais. Qualquer coisa que desagrade ou vá de
encontro a opinião de X ou Y é motivo de linchamento. O cenário está tão
complicado que até entre membros de grupos que compartilham praticamente da mesma
ideologia tem havido esse tipo comportamento.
Já
me deixava esgotada uma porção de comportamentos ditos politicamente
incorretos, quando esse esquema de printagem e de linchamento virtual
(usualmente chamado de racha) se alastrou, eu realmente quase perdi o ânimo por
frequentar as redes sociais. Até mesmo porque percebi que o tal chamado “fogo
amigo” (colega printando colega e o expondo a linchamento) também estava
rolando. Aliais, o que me trouxe aqui foi justamente esse “fogo amigo”.
Semana
passada vi uma matéria que até poderia ter me surpreendido, mas infelizmente,
por todos os pontos apresentados acima, não me causou espanto. Mas, vale deixar
claro que não acho que isso seja natural ou aceitável. A reportagem era sobre o
“Boa Noite Cinderela” dado numa garota de 16 anos pelos próprios “amigos”. Sei
que já estou bem atrasada comentando sobre esse episódio, mas é justamente por
minha falta de disposição de ficar diante da tela que me demorei a escrever a
respeito, mesmo assim, acho importante comentar esse caso porque acho bem
emblemático e reflete perfeitamente o cenário atual de falta de hombridade, sororidade,
coleguismos e outros. Veja a notícia.
“Garota
de 16 anos está sofrendo com brincadeiras pesadas após ter sido estuprada [em
festa com amigos] e as fotos do ato terem sido espalhadas pela internet. As
pessoas que fazem ‘brincadeiras’ na web, os chamados trolls, estão deixando a
garota doente e depressiva. Identificada apenas como Jada, ela já observou
inúmeras imagens de homens imitando as posições de seu corpo mole no momento do
estupro. Eles usam a hashtag “#jadapose” para insultá-la. [...] Jada disse à
emissora que ela participou de uma festa com um amigo, e pensou que estava indo
para um ambiente com crianças. Quando chegou, um adolescente lhe deu um copo de
ponche, e ela acredita que dentro tinha algum tipo de droga ou fármaco para
provocar sono, o famoso “boa noite cinderela”. Jada afirmou que desmaiou pouco
tempo depois e não sabe o que aconteceu a noite toda na festa. Então, ela
começou a perceber que imagens de seu corpo nu começaram a “pipocar” por todas
as mídias sociais. Ela só entendeu que havia sido estuprada quando viu as
fotos. Após o ato brutal, vários de seus ‘amigos’ continuaram a postar e
republicar constantemente fotos e vídeos e, em seguida, trolls começaram a
incomodá-la diariamente.” Meionorte.com
Entenderam
porque acho que perdemos completamente o senso ético, a sensibilidade e
voltamos a barbárie? Quem imaginou que um dia alguém acharia “divertido”
compartilhar as imagens de um estupro de um próprio colega? Mas, como disse uma
conhecida “são só adolescentes!”. Ah! Agora assim, está justificado.
Adolescentes não precisam ter nenhum senso moral e ético, eles poderão adquirir
isso a partir da fase adulta.
Caso
não esteja enganada qualidades como sensibilidade, ética, solidariedade e
outras são construídas durante o desenvolvimento do indivíduo, e o adolescente
já tem capacidade suficiente pra compreender as consequências de seus atos e o
mundo que o rodeia, eles podem ser inconsequentes sim, mas nunca insensível ao
sofrimento alheio. Se um indivíduo não consegue ter empatia com um colega, uma
amiga, vai ter empatia para com quem cara pálida? Acho provável que por ninguém.
Felizmente,
sou do tempo em que, entre amigos, tentávamos proteger uns aos outros, não sentíamos
prazer em assistir um de nós sentindo dor ou sendo ridicularizado. Aliais,
minha índole sempre me impulsiona a repudiar a injustiça e ficar do lado do
injustiçado ou do mais fraco, seja quem for, e sempre me incomodou presenciar
cenas de alguém tentando ferrar com outra. Por isso me deixa perplexa essa
falta de empatia, esse desprezo até com as pessoas próximas, todo esse sadismo
e essa tendência de se achar graça do sofrimento alheio. Honestamente, acho
enquanto sociedade, estamos doentes e precisamos urgentemente pensar sobre “que
tipo de gente estamos nos tornando ou nos tornamos”.
1 comentário:
Querida Ana,
Como vai você?
Bem, espero. Concordo com TUDO o que você disse. Acho mesmo que nossa sociedade está doente. Muita doente. Caso contrário, como poderíamos explicar o que vc narrou?
´Quem imaginou que um dia alguém acharia “divertido” compartilhar as imagens de um estupro de um próprio colega? Mas, como disse uma conhecida “são só adolescentes!”.`
E eu fico aqui pensando... quando isso vai mudar, quando essa dor toda vai passar?
Blogs como o seu fazem toda a diferença. Continue o seu belo trabalho.
Beijos,
Nicole
Enviar um comentário