quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O inimigo dorme ao lado - criança de 09 anos estuprada por padrasto





Mesmo escrevendo a respeito de estupro e violência das mais diversas formas eu ainda me surpreendo com notícias de abuso e estupro de crianças. A bola da vez foi uma denúncia de estupro de uma garota de apenas 09 anos. A denúncia de abuso ocorreu na manhã dessa quarta-feira (1) quando a menina, cujo nome é mantido em sigilo, se recusou a sair da escola em que estuda, localizada no bairro Pilar, na região do Barreiro, por medo de ser abusada pelo padrasto. 
De acordo com informações repassadas pela Polícia Civil, a criança teria contado para um guarda municipal da instituição que havia sido estuprada pelo namorado da mãe.  A criança ainda teria revelado que os abusos começaram há quatro meses. O guarda municipal informou que durante o intervalo a menina o procurou afirmando que estava muito triste e que não queria voltar para casa. Após os relatos da garota o funcionário da escola acionou a Policia Militar para realizar a denúncia.
“Após a abordagem da PM, a mãe da menina, uma balconista de 45 anos, indicou onde o suspeito, um pedreiro de 35 anos, trabalha. Ele foi detido pelos militares e levado para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente, no Carlos Prates. A mulher contou ainda, em depoimento, que o relacionamento dos dois dura quatro meses e o homem mora com ela e suas duas filhas, de 9 e 7 anos. [...] O suspeito (grifo nosso) prestou depoimento à polícia, que ainda ouvirá a mãe da garota. Como não houve flagrante, um inquérito para apurar a denúncia será instaurado. Além disso, a Polícia Civil pretende pedir uma medida preventiva para manter o homem longe da casa, porém depende do aval da mãe e da garota para que isso aconteça.” Bhaz 
Dados do Ministério da Saúde revelam que somente em 2012 deram entrada nos hospitais e clínicas do (SUS) Sistema Único de Saúde 18.007 mulheres apresentando indícios de terem sofrido violência sexual, o que implica na média de duas mulheres violentas a cada hora. A maioria esmagadoras das vítimas, cerca de 75%, eram crianças, adolescentes e idosas. Esses dados, colhidos através do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), representam apenas os casos onde a vítima procurou atendimento médico. 
 
No entanto, como sempre reporto nas minhas palestras e ou postagens, apesar de a estática reportar um índice de violência sexual muito alto esse número deve ser ainda maior, já que algumas das vítimas sequer procuram o serviço médico. Sem contar que há casos em que o estupro não apresenta sinais claros de violência física, àqueles que ocorrem quando a vítima não esboça reação e o agressor não deixa hematomas ou lesões graves. Nesses casos, a vítima se sente inibida em procurar ajuda por que se sente culpada por não ter reagido, sente vergonha ou medo de sofrer qualquer tipo constrangimento, pois corre o risco de ter sua credibilidade questionada.
Mas nada é mais cruel que os abusos que ocorrem no domicílio da vítima porque a proximidade com o agressor e o medo de retaliação, já que na maioria dos casos de violência sexual o criminoso é uma pessoa de seu convívio faz com que a vitima ou a família acabe optando pelo silenciamento. A convivência com agressor não só inibe a denúncia como permite que os abusos ocorram sistematicamente, ocasionalmente resultando em gravidez. Não raramente, nos casos em que o agressor é o responsável pela tutela da vítima, ou seja, pai, padrasto ou outro, a vítima é obrigada por ele a prosseguir com a gravidez acarretando ainda mais prejuízos pra mulher. Conforme informa a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, em 60% ou 65% dos casos o agressor, é comumente o padrasto, o pai, o namorado, o amante, o vizinho, avô. 
A violência sexual é o segundo tipo de violência mais comum contra crianças de zero a nove anos, com 35% das notificações (atrás apenas da negligência e abandono, 36%)  e contra adolescentes de 10 a 14 anos, representando 10,5% (atrás apenas da violência física, 13,3%).  Em 2011 foram registradas 14.625 notificações de violência doméstica, sexual, física e outras agressões contra crianças menores de dez anos.  (Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes - VIVA)
“(Violência sexual) Configura-se como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, entre um ou mais adultos* e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente uma criança ou adolescente ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou outra pessoa. Ressalte-se que em ocorrências desse tipo a criança é sempre VÍTIMA e não poderá ser transformada em RÉ. A intenção do processo de violência sexual é sempre o prazer (direto ou indireto) do adulto, sendo que o mecanismo que possibilita a participação da criança é a coerção exercida pelo adulto, coerção esta que tem suas raízes no padrão adultocêntrico de relações adulto-criança, vigente em nossa sociedade”.  Doutora Viviane Guerra – USP (2004)
Há quem ainda associe o abuso ou estupro de crianças somente a pedófilos, e os abusos a pedofilia. Entretanto, nem todos os casos de estupro e abuso de crianças o agressor é realmente um pedófilo. A pedofilia é uma doença e o pedófilo nem sempre chega a cometer os estupros ou abuso.
“Trata-se de uma doença, geralmente “causada por fatores como a predisposição genética e estímulos ambientais”. (BRASÍLIA, 2010, p. 35). Há uma diferença entre o pedófilo e o autor de crimes sexuais, não sendo necessariamente pedófilo aquele que abusa sexualmente de uma criança” Âmbito Jurídico.
 
"A pedofilia é um transtorno mental. Para serem considerados como pedófilos, os agressores devem possuir certas características, o que chamamos de critérios diagnósticos. Uma pessoa com o diagnóstico de pedofilia é aquela que ao longo de, no mínimo seis meses, teve fantasias sexuais recorrentes, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança com idade inferior a 13 anos. Para o diagnóstico de pedofilia, o indivíduo deve ter, no mínimo, 16 anos e ser pelo menos cinco anos mais velho do que a criança ou crianças. É importante esclarecer, então, que nem todos os agressores sexuais de crianças são pedófilos, uma vez que é preciso atender aos critérios diagnósticos do transtorno. Um pedófilo, conforme os critérios diagnósticos, pode nunca ter cometido uma violência sexual, mas possuir fantasias sexuais com crianças." Jean Von Hohendorff (UFRS) em Tribuna do Norte.

Os abusos sexuais, e outros tipos de violências, acabam resultando da visão de mundo centrada no adulto. A “consciência da infância brasileira como sendo um segmento MENORIZADO da população, valorizado no discurso mas desvalorizado na prática, com uma cidadania de segunda classe, é um dos fatores que sutilmente autoriza os adultos do país a violarem crianças e adolescentes na rua, em casa, na escola, etc.” Doutora Viviane Guerra – USP (2004)
"A violência contra a criança é fruto de concepções históricas e políticas do ser criança. A sociedade nunca a tratou com os mesmos direitos que o adulto. Este exerce, no cotidiano, um domínio além do exercício da autoridade de pais, professor, etc. [...] A hegemonia do adulto sobre a criança é uma forma de autorização velada, sutil, que favorece a ocorrência de distintas manifestações da violência contra a criança, seja em âmbito familiar ou extrafamiliar". Moneda Oliveira RibeiroI; Aretuzza de Fátima Dias

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