segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Estava numa relação abusiva




Tive um namoro abusivo. Comecei a namorar com 13 anos e namoramos durante 04 anos, no início do namoro abusaram de mim quando eu estava bêbada e eu fui culpada por isso pelo meu namorado durante todos os anos passamos juntos. Sim, ele usava isso como desculpa pra me privar das coisas, pra me trair, pra pedir tempo quando ele quisesse e eu me via extremamente submissa. 
Eu não podia me vestir como eu queria, eu tinha que emagrecer pra ficar bonita pra ele, até mesmo transar com ele tinha que ser quando ele queria, senão ele brigava, não podia nem pensar em dormir na casa das minhas amigas ou viajar com minha família, porque ele fazia de tudo pra me deixar mal com isso. 
Enfim, o menino fez de tudo pra eu continuar na redoma de vidro dele e eu deixei, pois me sentia dependente dele. Era como se eu não soubesse viver sem o afeto dele. Até que tive um colapso nervoso, no ano passado, e me obriguei a ir na psicóloga. E sinceramente? 

Foi uma das melhores coisas que eu fiz, me apego demais em astrologia e meu signo não condiz nenhum pouco com essa submissão, sou aquariana, e comecei a me libertar aos poucos. Chegou ao extremo quando o meu namorado começou a me diminuir mais pra eu simplesmente continuar com ele, então se eu saia com minhas amigas, ele brigava comigo no outro dia, inventava que tinha bebido muito e colocava a culpa em mim, que eu não ligava pro nosso namoro e nem pra ele, consequentemente. 

E, chegou ao absurdo de eu querer dançar quadrilha e não poder, eu me oferecer pra pegar um par qualquer que eu nunca sentiria atração alguma e ele ter a coragem de me dizer: "Dessa forma você estará provocando desejo nele, aí ele vai se masturbar pensando em você e eu não quero isso." Bom, dois dias depois desse acontecimento eu tomei força de não sei onde pra terminar e me livrar de toda bagagem que eu tinha com ele, eu não gostava mais dele fazia tempos, não sentia prazer algum em transar com ele porque era sempre 3 vezes seguidas e acabava machucada, eu simplesmente percebi que todo mundo tinha me moldado a vida toda pra ser uma coisa que eu não era.
Tô muito melhor agora, coloquei tudo nos eixos de volta, faz 3 meses que eu tô solteira pela primeira vez em 4 anos e olha: nunca estive tão bem. Letícia.
Essa semana eu me deparei com esse texto e não tive como não pensar em quantas meninas/mulheres estão vivendo relações extremamente parecidas com a relatada por Letícia (nome fictício). Seu relato expõe exatamente os mecanismos de coação, controle e opressão “sutilmente” utilizados para manipular, submeter e subjugar mulheres. 
É através desses jogos que muitos homens fragilizam as mulheres e às condicionam a se sentirem sempre culpadas. A culpa é um dos melhores mecanismos de controle. É por conta dela que nos calamos, cedemos, aceitamos, nos resignamos e que nos submetemos. É óbvio que a grande maioria dos homens sabe disso e explora muito bem. Somos culpadas por sermos “gostosamente irresistíveis”, culpadas de não nos prevenirmos, por sermos bonitas demais e atrairmos olhares mal-intencionados. Mea culpa, mea máxima culpa. Ao homem cabe sempre o papel da vítima desse espírito cruel e maligno que é a mulher. 
Será mesmo que precisamos viver enredadas nesse tipo de teia? Nos sentido culpadas, silenciadas, tolhidas e controladas?
Será que não existem outras formas de relacionamento entre homens e mulheres?
Definitivamente, não podemos viver acuadas, com medo e sob sombra da culpa. Liberdade não é uma concessão, é um direito. Podemos e devemos ser, estar, agir e crer de acordo com a nossa vontade. Não somos marionetes manipuláveis e muito menos propriedade de ninguém. Controle, manipulação, chantagem e toda espécie de bullying são formas de violência psicológica
Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;



 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

Apesar da naturalização do abuso ou da violência psicológica ou até mesmo do bullying matrimonial, esses comportamentos não são saldáveis ou normais como tudo nos leva a pensar. Os abusos nos relacionamentos íntimos podem interferir seriamente na qualidade de vida do abusado e ser bastante danosos à sua saúde física e emocional. Relações estabelecidas nesses parâmetros não são construtivas, pelo contrário, não permitem o estabelecimento de um clima de companheirismo e bem estar entre o casal. Dessa forma, quando a vítima rompe com uma relação abusiva ela também rompe com o sofrimento psicológico que esse tipo de relação causa.


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