terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Feminismo: luta de quem?



Por Ana Paula Martins.
Isabella Haru
Larissa Pereira
O sentido fundamental e fundante do termo MISOGINIA significa, originariamente, ódio ao sexo feminino - à vagina/pessoas nascidas com vagina - e não somente às mulheres [?], ainda [ou pois] que esse gênero seja justamente definido, na nossa sociedade, primeira e fundamentalmente, pela vagina/sexo feminino [!]. O ódio à vagina é histórico, tem uma sociogênese, é uma instituição e é perpetuado e reafirmado até os dias de hoje. E ele tem nome, se chama MISOGINIA. Portanto que misoginia = ódio à vagina, ódio ao sexo feminino, ódio à pessoas nascidas sob o signo do sexo feminino. Não apaguem esse dado, ele é o fundamento do próprio feminismo.
Dada essa informação, sinto lhes avisar que misoginia contra pessoas com pênis NÃO EXISTE, logo, TRANSMISOGINIA é uma falácia pra promover o apagamento do ódio histórico contra pessoas nascidas no sexo feminino, nascidas sob o signo da vagina. Pessoas nascidas com pênis, ou seja, sob o signo do sexo masculino, podem sofrer diversas formas de violência e também opressões, principalmente se não se adequarem ao que a instituição do gênero designa pra elas, isso não pode ser negado. Mas misoginia elas não podem sofrer não. Afirmar que pessoas com pênis sofrem misoginia é um esforço, uma estratégia discursiva do patriarcado, para o apagamento e silenciamento da história, opressões e lutas de quem nasce no sexo feminino e sofre historicamente opressões por nascer no sexo feminino. Transmisoginia é um termo cunhado pra promover o apagamento da misoginia, das reivindicações e falas de pessoas nascidas no sexo feminino sobre as opressões e violências sofridas exclusivamente sobre pessoas nascidas no sexo feminino - e isso já está acontecendo, e isso aconteceu esse fim de semana em SP, quando pessoas do sexo feminino sofreram retaliação, ameaças e violências por parte de TRANSATIVISTAS apenas por tentarem criar e manter um espaço autorganizado de pessoas nascidas no sexo feminino (o que inclui, portanto, homens transexuais - alguém me explica como um evento transfóbico inclui pessoas transexuais?) para debater opressões que vitimam exclusivamente pessoas nascidas no sexo feminino, como maternidade compulsória, heterossexualidade compulsória, mutilação genital feminina, socialização feminina, proibição do aborto, controle do corpo, sexualidade e das capacidades reprodutivas feminina, etc. Ana Paula Martins.
Eu gostaria muito que pessoas que se dizem aliadas do feminismo ou ate mesmo feministas, parassem de atacar um evento auto-organizado por mulheres. Mulheres não tem território, foram nos tomado à força, inclusive o território que chamamos de corpo. Nossos corpos não são nossos, nossas atitudes não são nossas, nossos desejos não são nossos, não temos território porque nós nascemos pertencentes a alguém.
Quando uma mulher, ou um grupo de mulheres, se auto organiza, se junta para criar um espaço para elas, sobre elas, vocês como feministas ou como aliados do feminismo não podem, não devem - ou pelo menos não deveriam - boicotar esse evento, criar postagens contra esse evento, demonizar as mulheres que participaram dele, porque elas estão tentando, acima de qualquer outra coisa, sobreviver.
E vocês quando tentam a todo custo, repudiar e destruir um evento de mulheres, vocês estão fazendo tudo, menos feminismo. Perseguir mulheres por se autor organizarem é o que os homens fazem há milênios.
Quando nos pegam no laço, quando nos escravizam, quando nos estupram, quando tentam nos separar de nossas mães, amigas, colegas, quando nos jogam e fogueiras públicas, quando nos matam em câmaras de gás, eles os fazem porque somos mulheres.
Destruir um evento feminista pq esse evento feminista supostamente não agrega determinadas mulheres (nenhum feminismo e nenhuma mulher tem qualquer obrigação de tomar pautas para si que não as delas próprias), sendo ate porque, o evento tratava ESPECIFICAMENTE de mulheres com útero e suas violências, portanto, não havia o porquê de convidarem mulheres trans, ate mesmo pq poderia ser violento para ambas as partes.
Todo apoio e solidariedade ao evento das manas chicas, que aconteceu em são Paulo nesse final de semana, um apoio à todas as mulheres que lá resistiram e continuam resistindo.
Estamos sendo acusadas de transfóbicas, sendo hostilizadas, agredidas e ameaçadas de morte por reivindicarmos um espaço exclusivo para debater sobre demandas exclusivas de pessoas que tem demandas exclusivas por terem nascido com vaginas [o que inclui homens trans].Isabella Haru.

Pessoas nascidas com vagina tem demandas exclusivas e tem direito SIM de se reunir pra falar de maternidade compulsória, mutilação vaginal, aborto. Em 21 horas de evento que eu participei não houve NENHUMA menção a transgeneridade até o momento em que pessoas trans ameaçaram NOSSAS VIDAS. Isso não é brincadeirinha não gente, isso são pessoas que acham que se reunir entre pessoas nascidas com vagina pra discutir assuntos que são SIM exclusivos de pessoas que tem vagina é motivo o suficiente pra MATAR mulheres. Larissa Pereira.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sou uma mulher trans desde meus 14 anos. Meus pai e irmãos e me colocavam para fazer serviços domésticos junto com minha mãe dizendo que isto era serviço de mulher e que já que eu queria ser uma, que eu fizesse os serviços do lar como ela. Já fui inúmeras vezes assediada por homens na rua me chamando de gostosa e tudo e se eu vou reclamar dizem que eu devia dar graças a deus porque tem homem que me quer. Muitas vezes eles não sabem da minha transexualidade. Quando sabem, falam na minha cara o quanto sou comível ou não. Já fui violentada umas três vezes na minha vida. numa delas um cara me parou na rua e me mandou segurar algo para ele enquanto os policiais passavam. Ele com uma arma me levou para uma linha de trem e disse que ia me matar caso eu não o satisfazesse. Tive um namorado que queria casar comigo, ele ia na minha casa com meus pais e as vezes ficava uma semana hospedado. Toda semana ele queria se infurnar na casa de meus pais. Ele queria casar comigo, só que eu não o amava. depois que eu não quis mais, ele quis me matar várias vezes, inclusive me agrediu diversas vezes e não me deixou por muito tempo ter outro relacionamento. Só não me matou porque eu e minha família nos mudamos para outra cidade. Minha intelectualidade nunca foi levada a sério por homem nenhum. Sempre me mandaram calar a boca, que eu sou louca, que eu não sei de nada. Sempre fui inferiorizada ao dirigir, quando eu faço qualquer bobagem no trânsito, dizem que só podia ser mulher, ai digo que sou transexual, mudam o tom, mas a inferiorização é a mesma - ''só podia ser mulher ou transexual''. Sofro todos os dias com meus vizinhos que descobriram que sou trans. Quando eu começo a fazer um cursinho profissionalizante, eles dizem que estou fazendo faculdade de dar a bunda. Que sou uma puta e que a única coisa que sei fazer é dar a bunda. tem tanta coisa e mais coisas.

Eu gostaria de saber que tipo de opressão eu sofro para vc. Se possível, por favor me responda!

Abraço

Anónimo disse...

Anonimo, vc mesmo responde a sua pergunta. A violência que vc sofre/sofreu é por ser trans e não por ser mulher. Assim, não há representatividade trans na luta contra a misoginia, sua luta é contra a transfobia! Por isso não tentem desvirtuar nossas pautas pois vcs nunca serão presas por aborto, por exemplo! Não diminuo sua luta, mas não é a mesma q a nossa.