Por Ana Eufrázio
Outro dia, conversando com uma amiga,
abordei o tema violência psicológica contra a mulher. Ia falar sobre os
impactos que esta tem sobre a mulher e sua saúde quando ela me interrompeu com
o argumento de que “Se nem a violência física, que é mais bem impactante e que
deixa marcas, a gente não conseguiu abolir, imagine essa coisa de violência
psicológica”. A sua observação é pertinente, já que essa é a violência
tolerada, tanto por quem a vivencia como pela sociedade. Esse é um ponto de
vista comum, de que a violência psicológica é um problema menor, quase
insignificante. A violência contra a mulher esta tão naturalizada que só nós
causa indignação aquela que lesa o corpo. As cicatrizes da alma que estão
obscuras, e por muitas vezes até pra quem as tem, são ignoradas.
No entanto, um fator a ser considerado
é que o agressor nunca, em hipótese alguma, inicia um histórico de violência
contra a sua companheira com espancamento. Até que a violência se torne física
ela se manifesta na modalidade psicológica, através de olhares intimidadores,
palavras grosseiras, gritos e ameaças.
De acordo com a Convenção
Interamericana (também conhecida como “Convenção de Belém do
Pará”) de 1994, violência contra mulher pode
ser definida como “Qualquer ato ou conduta
que cause morte, dano ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada”.
Estudiosos defendem que a violência de
gênero é um fenômeno que reflete a relação de dominação masculina e subordinação
feminina. Nesse sentido há uma relação de posse, onde a violência surge como
uma maneira de manter essa submissão e com isso busca-se conservar a mulher sob
o poder masculino, evitando que ela lhe escape e opte pela separação. A
violência psicológica presta-se perfeitamente a esse fim. Já que a própria
vítima não a reconhece como agressão ou agressão grave. Dessa forma ela vai
sendo reproduzida indefinidamente, seja por conta do silêncio da vítima ou da
legitimação desta por conta de fatores culturais. Outro fator a ser considerado
é que as cicatrizes provocadas são psicológicas, e, portanto, difíceis de serem
comprovadas. Este fator provoca na vítima medo de descrédito e resistência à
realização da denúncia.
Contudo, essa forma de violência pode
levar a mulher à depressão, ansiedade, distúrbios da alimentação e
do sono, ao
uso de
álcool e drogas, à vergonha e à culpa, fobias e síndrome de pânico, inatividade
física, baixa auto-estima, distúrbios de estresse pós-traumático, tabagismo,
comportamentos suicidas e autoflagelo, comportamento sexual inseguro.
“A violência psicológica ou violência
emocional ocorre através da rejeição de carinho, ameaças de espancamento à
mulher e seus filhos, impedimentos à mulher de trabalhar, ter amizades ou sair;
por sua vez, o parceiro lhe conta suas aventuras amorosas e, ao mesmo tempo, a
acusa de ter amantes.
Uma pesquisa realizada no Chile identificou que existem diversas manifestações da violência psicológica e o autor assim as classificou:
Uma pesquisa realizada no Chile identificou que existem diversas manifestações da violência psicológica e o autor assim as classificou:
-
Abuso verbal: rebaixar, insultar, ridicularizar, humilhar, utilizar jogos
mentais e ironias para confundir.
-
Intimidação: assustar com olhares, gestos ou gritos, jogar objetos ou destroçar
a propriedade.
-
Ameaças: de ferir, matar, suicidar-se, levar consigo as crianças
- Isolamento: controle abusivo da vida do outro por meio da vigilância de seus atos e movimentos, escuta de suas conversações, impedimento de cultivar amizades.
- Desprezo: tratar o outro como inferior, tomar as decisões importantes sem consultar o outro.
- Isolamento: controle abusivo da vida do outro por meio da vigilância de seus atos e movimentos, escuta de suas conversações, impedimento de cultivar amizades.
- Desprezo: tratar o outro como inferior, tomar as decisões importantes sem consultar o outro.
- Abuso
econômico: controle abusivo das finanças, impor recompensas ou castigos
monetários, impedir a mulher de trabalhar embora seja necessário para a
manutenção da família.”. (Leticia Casique e Antônia R. F. Furegato).
Fontes:
Leticia
Casique e Antônia R. F. Furegato. Violência contra a mulher: Reflexões
teóricas. Rev Latino-am Enfermagem 2006
novembro-dezembro; 14(6). www.eerp.usp.br/rla.
5 comentários:
PARABÉNS PELO BLOG, PELA SUA LUTA E PELOS SEUS EXCELENTES ARTIGOS! PROSSIGA.
Obrigada pela força meu eterno professor, .
Muitas vezes a violência psicológica é o lº passo para a violência. Mulheres denunciem seus agressores. Busquem seus direitos de mulheres cidadãs.
Engraçado. Porque a mulher também comete violências psicológicas contra o marido ou o namorado o tempo todo e ninguém fala nada.
Ela critica tudo o que o homem faz, ela xinga o homem frequentemente... Aí ninguém acha que tá errado, né?
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