segunda-feira, 27 de abril de 2015

Caminhando uma milha com os sapatos dela



 Foto: Mohamed Azakir / ReutersHoje eu me deparei com a informação de que Libaneses (homens) caminharam pelas ruas de Beirute, capital do Líbano, de saltos altos protestando contra a violência à mulher. O evento, segundo organizadores, tem o intuito de relembrar os a violência, o assédio e os estupros sofridos pelas mulheres diariamente no país.
De acordo com o site Terra, mais de 200 homens se uniram na cidade de Beirute para participar do "Walk a Mile in Her Shoes", um projeto internacional que quer ampliar a conscientização sobre todas as formas de violência contra a mulher. 
 Foto: Mohamed Azakir / ReutersA caminhada, realizada ontem, domingo (26), reuniu homens de todas as idades que percorreram uma milha (cerca de 1,6 km) usando sapatos de salto alto vermelhos, carregando cartazes e faixas com os dizeres "o silêncio esconde a violência" e "esmague a violência com os saltos altos", entre outros.  Foi a primeira vez que o evento ocorreu em um país do Oriente Médio. 
Campanha contra o abuso para a Kafa
De acordo com o site Terra os sapatos utilizados na caminhada estavam a vendas lojas que pretendem doar o dinheiro arrecadado em doações à Kafa, organização que luta contra a violência e exploração de mulheres e crianças. 

O projeto, criado em 2001 pelo norte-americano Frank Baird, cujo nome, "Walk a Mile in Her Shoes", é inspirado em uma expressão em inglês que significa colocar-se no lugar de alguém. O projeto tem sido reproduzido em vários países.
Campanha contra o abuso para a Kafa
A mim a caminhada no Líbano parece bastante irônica. Veja bem, o Líbano é uma sociedade que apesar moderna cultiva costumes medievais. Lá, as mulheres, depois do casamento, são consideradas propriedade dos maridos e, portanto, podem ser agredidas, presas e até estupradas. No país, não existe punição para o marido que forçar a mulher a fazer sexo com ele. Os casamentos seguem leis religiosas e as leis muçulmanas e cristãs concedem aos homens poderes sobre as mulheres.
Um estudo divulgado pela ONU, março do ano passado, fez um ranking dos países muçulmanos que mais desrespeitam os direitos das mulheres e o Líbano aparece na posição 14 entre 47 países. 
Campanha contra o abuso para a Kafa
É irônico que homens, que são responsáveis tanto pela violência contra as mulheres quanto “por mudar” as tradições e as leis, saiam em passeata, sem a presença de mulheres, para pedir o fim da violência contra elas. Honestamente, acho que a iniciativa tem mais o intuito de atrair holofotes para eles do que realmente lutar contra a violência. Existem muitas outras formas de atuação em apoio às mulheres do que uma passeata excludente onde, ao que me parece, as mulheres não têm voz.
Ativistas durante o dia Internacional da Mulher em frente ao Museu Nacional de Beirut - foto de Mohammad Azakir
Ativistas durante o dia Internacional da Mulher em frente ao Museu Nacional de Beirute. Foto: Mohammad Azakir
Acho que teria muito mais eficácia e impacto um protesto no qual esses homens se reunissem, ao lado de mulheres, dentro do parlamento exigindo mudanças nas leis que autorizam a violência, estabelecendo e efetivando punição para os agressores e mais liberdade para as mulheres. Passeata de sapatos vermelhos pedindo o fim da violência tem a mesma eficácia daquelas realizadas no Brasil onde todo mundo se veste de branco para pedir paz.    

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