Hoje fui surpreendida com uma
notícia no mínimo inusitada. Um segurança da CPTM (Companhia Metropolitana de
trens Urbanos), que tentava abusar de uma mulher dentro do trem da própria
companhia, foi imobilizado por ex-presidiário. O segurança da CPTM Cleber dos
Santos Silva, de 41 anos, estava de folga e viajava no trem a paisana quando
resolveu abrir o zíper e exibir o pênis para a vendedora Débora Lucas Cardoso. O
abuso ocorreu perto da estação Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
Ao sentir-se incomodada por
uma movimentação estranha em sua volta Débora resolveu olhar para trás. Nessa ocasião
ela percebeu que Cleber estava com o zíper aberto. Então ela gritou por ajuda. O
ex-detento, Robson de Almeida Olavo, que viajava no mesmo trem, imobilizou o segurança
até que ele pôde ser removido da composição e levado para a Delegacia do
Metropolitano onde foi detido por volta das 20h desta quarta-feira (8). O
ex-detento e duas amigas que a acompanhavam testemunharam a ação do suspeito.
O interessante é o que aconteceu
na delegacia. O delegado resolveu enquadrar o caso como "oportunação
ofensiva ao pudor e ato obsceno", delitos cujas penas somadas é inferior a
dois anos de detenção. Como o crime é de “menor potencial ofensivo” ele não
deve permanecer preso, informou o próprio delegado.
Alguém ainda se admira da
forma como esse caso foi “solucionado”? É claro que é revoltante a forma como
estupradores e abusadores são tratados na imensa maioria das nossas instituições
policiais e judiciais. Entretanto, não nos surpreende que agressores de
mulheres saiam impunes. O Estado é estruturado para favorecer e privilegiar
homens, para que eles permaneçam impunes e possam continuar violentando
mulheres livremente.
Reparem que o acusado é
justamente a pessoa que deveria cuidar da segurança dos passageiros e dos
frequentadores das estações. Nada seria mais irônico que “o lobo cuidando das
ovelhas” como nesse caso. Como será que esse segurança reagiu quando presenciou
ou foi informado sobre abusos de mulheres dentro durante o seu trabalho?
Nas delegacias os policiais
sempre tentam deslegitimar nossos relatos ou depoimentos e, em alguns casos,
questionam até mesmo nossa sanidade. É de praxe nos fazerem duvidar daquilo que
nos aconteceu. A própria Débora relata na reportagem, disponível no site R7,
que o delegado tentou lhe incutir dúvidas sobre o abuso.
Não senhor Delegado, não
existem dúvidas. Ela sabe exatamente o que lhe ocorreu. Se a palavra e a
certeza da vítima não são suficientes para atestar o abuso, três pessoas testemunharam
o fato, inclusive outro homem, e o confirmam. Mas, esse é ex-presidiário, não é
mesmo? Quer dizer então que quatro pessoas não são suficientes para referendar
o abuso? O que fazer quando há somente a palavra ou testemunho da vítima?
Homens seguem violentando
mulheres em todas as suas formas porque mulheres não têm voz, não têm
legitimidade. Enquanto as mulheres forem silenciadas ou suas vozes forem
invalidadas pelas instituições do Estado e a sociedade for conveniente com os
agressores não estaremos seguras e o Estado será cúmplice dos agressores. A impunidade
favorece a perpetuação da violência contra as mulheres. É urgente que os
agressores sejam presos para que as mulheres possam se sentir seguras.
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