Desde que me tornei feminista venho lidando com o termo misoginia e tentando explicar pra uma centena de pessoas o quanto esse comportamento está intimamente ligado ao machismo/patriarcado e o quanto é devastador pra nós mulheres.
De
acordo com o site Nossa Língua Portuguesa,
misoginia é definida como “desprezo ou
aversão às mulheres, desprezo
ou aversão ao sexo e/ou ao gênero feminino. A palavra vem do grego
misos (?????, "ódio") e gene (????????, "mulher").
Na
tentativa de defenderem a cultura machista e incendiar as discussões sobre
gênero e opressão, os machistas lançam mão do recurso de fazer uma analogia
entre feminismo e machismo, afirmando que o feminismo é igual ao machismo só
que beneficiando as mulheres. Não chego sequer a ter palavras para descrever o
quanto é revoltante ler ou ouvir isso. Primeiro que o feminismo, definitivamente,
não é uma espécie de machismo, é o antagonismo a essa cultura. Não queremos
superioridade ou lutamos por oprimir os homens. Outra questão, o feminismo
nunca matou ninguém. E esse é um dos resultados da cultura machista e da
misoginia.
Enquanto
o feminismo busca erradicar a violência contra a mulher e a opressão a
misoginia e/ou machismo assassinam diariamente 15 mulheres, estupram 6 mulheres
a cada hora e é responsável pela agressão de uma mulher a cada minuto (dados
divulgados ainda hoje no Jornal do Meio Dia – Globo). Recentemente, um dos
casos mais chocantes é que vem ocorrendo em Goiânia, onde mulheres jovens vêm
sendo assassinadas banalmente pelas ruas da cidade. De acordo com informações
do portal G1 Uma força-tarefa criada pra investigar os
casos iniciou seus trabalhos ontem. As investigações abrangem assassinatos de
12 mulheres em Goiás. Os crimes começaram em janeiro e as circunstâncias são
semelhantes.
“A força-tarefa, formada por 15
delegados e 23 agentes de polícia, tenta entender o que aconteceu na morte dessas
12 mulheres. A Polícia Civil divulgou nesta terça-feira, um vídeo que os
investigadores acreditam ser da última vítima, a menina Ana Lídia, de 14 anos,
indo para o ponto de ônibus onde ocorreu o último assassinato, neste fim de
semana. E também o que seria a imagem do suspeito em uma moto. A principal
ligação entre todos os 12 casos é que o suspeito estaria em uma moto preta. A
população está com medo e marcou um manifesto para essa semana, para pedir
agilidade nas investigações, por parte da polícia. A adolescente de 14 anos foi
morta em um ponto de ônibus a caminho do trabalho. A família, inconformada, não
entende o que aconteceu.[...] Ana Lídia foi a 12ª mulher morta por um
motoqueiro este ano. O que chama atenção são as semelhanças entre os crimes: as
vítimas eram jovens e bonitas, foram mortas em lugares públicos e não tiveram
pertences roubados. ‘Nós temos nas investigações, pessoas com
características diferentes, com motos diferentes, embora com semelhanças no
modo de agir’, afirma o delegado de homicídios Murilo Polati. A maior
dificuldade da polícia é a falta de imagens de câmeras de segurança no local
dos crimes, que poderiam fornecer outras pistas da autoria dos assassinatos.
Outro desafio é o fato de que quem matou todas essas mulheres estava sempre com
o rosto protegido por um capacete.(G1)
Entenderam
porque é tão ofensivo comparar o feminismo ao machismo e/ou misoginia? São
assassinatos por puro ódio e sem qualquer motivação. Embora deva salientar que
não há motivo que justifique o assassinato, exceto aquele que visa a
preservação de uma vida que se encontre ameaçada. Portanto, somente um sistema
que põe a vida da mulher como um bem do marido ou pai pode ser tolerante com os
crimes dito passionais ou crimes de honra e infelizmente, a nossa sociedade é
sim tolerante com o feminicídio. Doutra forma, como justificar a matança de
mulheres no país por razão de gênero?
Somente
de 2009 a 2011 o Brasil registrou 16. 900 ASSASSINATOS DE MULHERES, em sua imensa
maioria decorrentes de casos de agressão perpetrada por parceiros íntimos. De 1980
até 2012, 100 mil mulheres foram brutalmente assassinadas no país. O
equivalente a 2, 3, ou 4 vezes a população de uma cidade do interior. Estamos
falando de um verdadeiro genocídio. Então que nenhum machista ignorante me
venha com história de que o feminismo guarda alguma semelhança com o machismo
ou que as feministas são mulheres amargas, loucas ou coisas do tipo porque
minha paciência está bem curta pra lidar com opressor. Vivemos num sistema
machista, opressor, genocida sim e vivemos sob a sombra do medo sim. Medo de
termos nossos corpos violados, medo do julgamento da sociedade quanto a nossa
sexualidade, idoneidade, caráter e outras questões que não dizem a nosso
respeito mas que no final das contas define, dentro dos padrões “éticos”
machista, quem nós somos. Sem contar que vivemos constantemente com o receio de
estar dormindo com o nosso próprio assassino.
2 comentários:
É amiga Ana entendo e sinto a mesma inquietação sua, em relação a esse "ranço" machista/patriarcal, que predomina nas bases da educação intra familiar... Comparar feminismo com machismo, só reforça o não entendimento às lutas e mais lutas, por igualdade de gênero, que se arrastam ao longo de décadas!!
Ou mudamos a cultura comportamental, ou teremos que nos munir de forças ainda mais, para desconstruí-la...
Obrigada pela contribuição querida Célia.
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