Não estava em casa quando recebi via WhatsApp uma mensagem de voz do celular da minha filha, seguida da seguinte mensagem escrita:
“Olha como eu sofro”
Ela já vinha reclamando há algum tempo sobre
bullying na escola e no condomínio onde moramos, todos relacionados a sua raça
negra e ao seu cabelo (ela usa canicalom, um tipo de aplique trançado no
próprio cabelo).
Nesta hora meu instinto protetor materno bateu mais alto, me deu um desespero tão grande, uma vontade imensa de fazer com que aquilo não tivesse acontecido, de tentar impedir aquela situação, uma falta de ar, eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo, eu não conseguia acreditar que um ser humano nascido no século XXI poderia raciocinar de maneira tão preconceituosa e cruel.
Fui tomada por um desespero tão grande, porque
estavam fazendo aquilo com a minha filha? Uma menina linda, meiga, simpática,
inteligente. Porque discriminar e denegrir uma pessoa a esse nível tão baixo?
Pedi para ela me mandar todos os áudios que tinha
recebido, uma sequência de mais de 20 áudios aproximadamente, então percebi que
os áudios estavam sendo enviados de um grupo de amizade da qual ela faz parte,
todos os participantes do grupo são do condomínio, onde 2 meninos a ofendiam
enquanto alguns outros incentivavam as ofensas.
As frases que mais marcaram e mais me assustaram
foram:
“SUA PRETA, TESTA DE BATE BIFE DO CARA******!”
“EU SOU RACISTA MESMO, QUANDO EU QUERO SER RACISTA EU SOU RACISTA, ENTENDEU?”
“TODA VEZ QUE EU ENCONTRAR ELA NA MINHA FRENTE EU VOU ZUAR ATÉ ELA CHORAR”
“VOCÊ VAI FICAR NESTE GRUPO ATÉ VOCÊ CHORAR”
“CABELO DE MOVEDIÇA, CABELO DE MIOJO, CABELO DE MACARRÃO”
Muitos dos colegas ficaram quietos e preferiram não
se manifestar, um deles até saiu do grupo quando as ofensas começaram, teve
outro que se revoltou e disse que estavam passando dos limites e que aquilo já
era desrespeito demais. Entrei em choque, diante de tantas agressões
psicológicas, tamanha inconsequência dessa juventude que ainda nos dias de hoje
se comporta de maneira tão cruel, não posso encarar essa situação como “coisa
de criança”, racismo nunca foi coisa de criança.
Como mãe e maior responsável pela minha filha, me
sinto no direito e na obrigação de divulgar esse acontecido porque a partir de
hoje travo uma luta pessoal contra o racismo e contra o bullying.
E se vc é contra o RACISMO e contra o BULLYING...compartilhe!
RACISMO É CRIME! NÃO TOLERE, NÃO FIQUE QUIETO, NÃO SEJA PASSIVO NESTA SITUAÇÃO.
Fico imaginando quantas crianças e adolescentes passam por esse tipo de situação todos os dias e simplesmente não fazem nada, por medo ou por vergonha. Ser NEGRO não é uma vergonha, a pele negra carrega uma história muito longa cheia de lutas, conquistas e vitórias, NEGRO É LINDO! Vergonhoso mesmo é agir de forma tão preconceituosa, primitiva, covarde e cruel.
E PASMEM... PARA AQUELES QUE PENSAM QUE RACISMO É
COISA DO PASSADO, ISSO ACONTECEU EM 31/03/2015 NO BRASIL, O PAÍS DA
MISCIGENAÇÃO, ESTADO DE SÃO PAULO, CIDADE DE SÃO BERNARDO DO CAMPO! Minha
vontade é de gritar bem alto NÃO AO RACISMO! TOLERÂNCIA ZERO."

Esse caso me lembrou um outro tão chocante quanto
esse. Ainda essa semana circulou nas redes sociais as fotos de um trote dos
alunos de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu onde
estudantes aparecem em roupas semelhantes as da Ku Klux Klan.
No dia 05 de março os estudantes veteranos, da
turma do 6º ano de medicina, realizaram uma festa para receberem os calouros
fantasiados com roupas idênticas às usadas pela Ku Klux Klan, uma seita
extremamente racista que atua nos Estados Unidos pregando a supremacia branca.
Os membros da seita são conhecidos por praticarem violentos ataques, inclusive
assassinatos e estupros, a negras e negros naquele país.
Com certeza, estes estudantes não praticaram uma
brincadeira inconsequente ou inocente. Não, não são garotos brincalhões. Por
trás dessa atitude se esconde uma realidade cruel de segregação e de
intolerância. Com tochas nas mãos, gorros e togas pretas esses estudantes
estavam claramente declarando que na faculdade de medicina negras e negros não
são aceitos, que este local não tolera negros.
Esse tipo de atitude não é um caso isolado. É uma
realidade com as quais negras e negros têm de lidar tanto dentro das
universidades como em todos os outros espaços.

Eu não consigo compreender o que houve conosco. Não
consigo entender em que momento a gente resolveu que é “OK” ser um completo
estúpido ou facínora. Eu acreditava que faria parte da geração da informação e
da inteligência. Mas, infelizmente, acho que regredimos. Não consigo
compreender que depois de conseguirmos acumular tanta informação nos tornamos
mais tocos, ignorantes, intolerantes e alienados do que éramos há 20 anos.
1 comentário:
Esta e a pedagogia do Estado brasileiro que mata violenta destroi manipula crucifica rouba a vida e o futuro de varias geracoes. O racismo se aprende em casa na tv na escoka no shopping no judiciario na rua...mesmo construindo este pais com nosso sangue somos tratados como parias.
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