Hoje,
final de domingo, fui surpreendida com a notícia de que mais uma mulher foi
morta por apedrejamento e pauladas.
O
crime ocorreu em Cabul, Afeganistão, na última quinta-feira. Segundo informou o
site da BBC,
uma multidão, composta principalmente por homens, atacou a mulher com paus e
pedras, espancando-a até a morte e ateando fogo em seu corpo em seguida. De acordo
com relatos a polícia assistiu a ação, mas não fez nada para impedir o
assassinato. As imagens do ataque, filmadas por celulares, circularam nas redes
sociais em todo o mundo.
Testemunhas
afirmaram que o grupo acusava a mulher de queimar uma cópia do Alcorão, o livro
sagrado do islamismo. Entretanto, um funcionário do Ministério do Interior,
encarregado de investigar o caso, disse não ter encontrado provas que
confirmassem a acusação. "Farkhunda era completamente inocente",
disse o general Mohammad Zahir à imprensa local. Segundo ele, 13 pessoas,
incluindo policiais, foram presas.
O funeral
de Farkhunda, que ocorreu hoje, foi acompanhado por centenas de pessoas que
seguiram em protesto exigindo que os criminosos fossem punidos. Rompendo com as
tradições seu caixão foi carregado por mulheres, ativistas dos direito
femininos e da sociedade civil, que choravam e gritavam "queremos justiça
para Farkhunda". A função de carregar o caixão costuma ser desempenhada
por homens. O irmão de Farkhunda disse à agência de notícias Reuters que ela se
preparava para ser professora de estudos religiosos.
O site
pontua que na maior parte do país as mulheres ainda sofrem discriminação e os
ataques a elas frequentemente não são punidos. Como se no nosso país as
agressões, os estupros e assassinatos de mulheres em grande parte não recebessem
o mesmo tratamento. Como se aqui também não estivéssemos sob o ataque de
religiosos fundamentalistas que se empenham em restringir os direitos das
mulheres.
Não há
como não se indignar e não se comover com uma barbaridade dessa dimensão. Da mesma
forma, não podemos perder de vista que enquanto mulheres, mesmo que brasileiras,
eu e você, somos particularmente atingidas com esse tipo crime. Porque a
banalização da vida da mulher faz parte de uma ideologia, de uma cultura
universal. O machismo enquanto cultura usa da violência para nos intimidar. Para
que através do medo silenciemos, retrocedamos.
Entretanto,
não vamos nos calar, não recuaremos, não cederemos. Não vamos aceitar que a
igreja, através dos fundamentalistas ou não, nos impunha medo. A morte da afegã
não conseguiu amedrontar as mulheres de Cabul – como também não nos
amedrontarão Feliciano, Silas Malafaia e outros – pelo contrário, suscitou
nelas a sororidade e a unidade de luta. Esperamos que a ruptura com a tradição
dos homens carregarem caixões as impulsionem a romper com tantas outras
barreiras que as oprimem e limitam.
Por
aqui, espero sinceramente que a gente reflita sobre a expansão da bancada
evangélica no congresso e a sua crescente influência, porque é exatamente sobre
as mulheres que a força da ideologia da fé machista recai. É exatamente a vida
das mulheres que corre riscos quando o fundamentalismo religioso toma conta e
governa a nação.
Sinto-me
profundamente entristecida com o assassinato de Farkhunda, não tenho como
dimensionar a dor e a indignação que sinto ao saber que mais uma mulher foi
morta de forma tão brutal e leviana. Espero que, de alguma forma, as irmãs que
estão no Afeganistão lutando por justiça e reivindicando direitos para as
mulheres sintam a força e a energia que as estamos enviando.
Nós
mulheres, bem como Estado brasileiro, não podemos deixar anunciar nosso repúdio
a esse crime brutal. O Governo tem a obrigação de manifestar-se publicamente
diante de tamanha barbaridade e violação aos direitos das mulheres. Presidenta Dilma,
não deixe de mostrar ao mundo que não coadunamos com a violência contra uma
mulher sequer.
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