Faz
tempo que tenho uma louca vontade de dar pitaco em novela e outro na vida alheia e decidi
que o dia seria hoje. Tem um lance que me incomoda muito, mas muito mesmo. Em
toda novela ou filme que assisto as mulheres engravidam sem mais nem menos.
Assim como quem pega um resfriado ou uma diarreia. Até onde eu sei gravidez não
ocorre assim, sem que ninguém saiba que pode ocorrer. E o legal é que quase
nunca elas desconfiam que estão grávidas ou fazem teste de farmácia. É sempre
no supetão mesmo, descobrem depois de desmaiar e ir parar no médico. Caso os
autores de novelas ainda não tenham sido informados, já existem métodos
contraceptivos a mais de mil anos. Pelo menos a história revela que Cleópatra
usava preservativo.
“No século II a.C., os romanos
começaram a utilizar estes envoltórios produzidos a partir de intestinos de
cordeiro e bexigas de cabra para se protegerem de doenças sexualmente
transmissíveis. Os romanos acreditavam que tais doenças eram castigos lançados
por Vênus, a deusa do amor, que posteriormente teve seu nome dado a essas
doenças e hoje conhecemos por ‘doenças venéreas’.” Brasil Escola.
Além
de proteger os parceiros contra as DST’s de quebra o casal evitava a gravidez.
Já o anticoncepcional está disponível desde a década de 1960.
“No dia 18 de agosto de 1960 foi
lançado o contraceptivo oral Enovid-10 nos Estados Unidos. A pílula
significaria uma verdadeira revolução nos hábitos sexuais do mundo ocidental. ‘Um
dia histórico e um tremendo passo à frente’: foi com essa manchete que a revista
Der Stern
anunciou, na década de 60, o lançamento do contraceptivo oral no mercado
alemão. Tudo havia começado no início dos anos 50 nos Estados Unidos. A
feminista Margaret Sanger e a milionária Katherine McCormick haviam se unido
para inventar uma pílula contra a gravidez que fosse fácil de usar, eficiente e
barata.” DW.
Então,
é constrangedor ver nas telas aquelas mulheres surpresas com o diagnóstico de
gravidez, chega ser tosca a forma como é repassada. Em sua maioria são mulheres
esclarecidas, que teriam a obrigação de zelar pela própria saúde usando
preservativos. São mulheres cultas, independentes, autônomas, modernas, cheias
de personalidade. Como assim? São mesmo essas mulheres que sequer estão cientes
que podem eventualmente estarem grávidas? Não há atraso menstrual, seios
aumentados e outros sintomas, ou pelo menos a ansiedade básica pela menstruação?
Depois
de muita luta pelo direito sobre o próprio corpo, de escolher sobre maternar ou
não, o momento certo da gravidez, assistimos incrédulos a TV exibir nós
mulheres como perfeitas idiotas com relação ao nosso próprio corpo e
sexualidade. Não dá pra engolir essa ideia que se propaga de que não sabemos
cuidar da nossa sexualidade. Depois da Aids é quase inaceitável que o casal
tenha relações sexuais desprotegidas. Não há como negar que o cuidado com a saúde
envolve sim o uso de preservativo em todas as relações sexuais e é uma
obrigação do casal ter esse cuidado.
Sei
bem porque ainda persiste a exibição desse tipo de comportamento nos meios de
comunicação, é porque para classe média e os ricos, Aids é doença de pobre,
entre eles não existe doenças sexualmente transmissíveis. A mulher branca,
bonita, esclarecida, burguesa não transmite ou contrai doenças venérias.
Entretanto,
o Brasil enfrenta uma epidemia de Aids com uma média de 35 mil casos/ano (de
2000 a 2009). Estima-se que 630 mil pessoas vivam com o vírus no país. Destas,
pelo menos, 255 mil desconhecem estarem infectadas, pois nunca fizeram o teste
de HIV. E infelizmente, tem ocorrido a feminização da doença. No começo da epidemia (década de 80) a relação de contaminação entre homens e mulheres
era de 12/1. Já em 2010 a proporção atingiu a marca de 2 mulheres para cada 5
homens. No entanto, de acordo com Ana Neta, Assessora Técnica da Coordenadoria
DST/Aids do Estado do Ceará, em 20 municípios do Estado o número de mulheres
contaminadas é superior ao número de homens e, em 13 outros a quantidade de
mulheres com Aids é igual ao numero homens.
Ignora-se
completamente essas estatísticas e veicula-se a ideia de que não há risco no
sexo desprotegido. Além do quê, é deixado de lado à necessidade de se planejar
a gravidez, de fazer todos os exames pre-concepcionais e de tomar algumas
medidas fundamentais para preservar a saúde da mãe e do bebê. A gravidez não
pode ser para a mulher um acidente, tem de ser uma escolha, uma opção. Transmitir
a ideia de que ela ocorre tão naturalmente que a mulher sequer se dá conta é
negar a nossa capacidade de decidir sobre o nosso próprio corpo.
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