Recentemente
apareceu no Terra uma reportagem que mostra o estado de saúde lamentável que
uma jovem de 19 anos ficou depois de se submeter a uma cirurgia pra implante de
silicone.
Reprodução do Terra |
“Linda Perez, 19 anos, se submeteu
a uma cirurgia plástica para aumentar os seios, em agosto do ano passado,
e, uma hora depois do procedimento, entrou em coma. Em outubro, ela mostrou
sinais de vida e, no mês seguinte, foi levada para casa com danos cerebrais.
Atualmente, Linda não pode andar e fala poucas palavras.” Terra.
A
situação de Linda é bem chocante. Quase tão grave quanto este é o caso da
apresentadora, considerada a rainha dos caminhoneiros, que teve o
rosto desfigurado durante cirurgia plástica, realizada em um hospital no
Nordeste do país, em abril. O procedimento, previsto pra durar poucas horas, se
estendeu por 12. Edileuza conta que percebeu que havia algo errado com a
cirurgia logo que sentiu o efeito da anestesia passar. Ela sentia dores
terríveis que só passavam com morfina.
Além das dores e da paralisia facial lhe restaram cicatrizes por toda
face. Em casa, hoje, Edileuza trava uma batalha para tentar amenizar a dor e o
sofrimento, evidentes nas cicatrizes do rosto.
Além
dos sérios danos à saúde e à aparência algumas das vítimas desses procedimentos
mal sucedidos não conseguem resistir e acabam morrendo em decorrência de
complicações cirúrgicas ou pós-cirúrgicas. Como foi o caso de Pamela Baris.
Pamela B. Nascimento |
Durante
uma lipoaspiração, ocorrida em 19 de outubro do ano passado, a modelo Pamela
Baris Nascimento, de 27 anos acabou morrendo. Para investigar as causas da morte
Foi instaurado um inquérito policial. A família procura auxílio judicial para
ter mais informações do que ocorreu com a jovem. Segundo eles, a modelo teria sofrido
uma perfuração no fígado. R7.
Sinto
uma imensa inquietação quando abordo esse assunto. Não é difícil perceber que o
anseio pela cirurgia plástica é mais um problema de auto percepção do que propriamente
uma real necessidade. O grande desejo de transformar o corpo ou mudar a aparência
expõe um sério problema que tem crescido bastante ultimamente, a corpolatria.
“A ‘Corpolatria’ é uma espécie de ‘patologia
da modernidade’ caracterizada pela preocupação e cuidado extremos com o próprio
corpo não exatamente no sentido da saúde (ou presumida falta dela, como no caso
da hipocondria) mas particularmente no sentido narcisístico de sua aparência ou
embelezamento físico. Para o corpólatra, a própria imagem refletida no espelho
se torna obsedante, incapaz de satisfazer-se com ela, sempre achando que pode e
deve aperfeiçoá-la. Sendo assim, a corpolatria se manifesta como exagero no
recurso às cirurgias plásticas, gastos excessivos com roupas e tratamentos
estéticos, abuso do fisiculturismo (musculação, uso de anabolizantes, etc). corpolatria.blogspot.com.br (CODO; SENNE.1985) em http://corpolatria.blogspot.com.br/2009/03/questao-o-que-e-corpolatria.html
Donatella Versace |
Aparentemente
esse mal surge no indivíduo sem um “nem sei pra quê”, alguma coisa como um
resfriado ou uma enxaqueca. No entanto, os que demonstram explicitamente um
narcisismo extremo e a necessidade excessiva de transformarem o corpo são mais
vítimas do que protagonistas nesse processo. Toda essa sensação de inadequação
é propositadamente produzida. É através dela que o mercado de beleza cresce assustadoramente
ano após ano e que centenas de vidas são completamente arruinadas. Seja através
dos desastrosos resultados de procedimentos estéticos e cirúrgicos mal
sucedidos, do endividamento ou da depressão que acomete aqueles que não
encontram mecanismos de adequação aos padrões estéticos vigentes.
Atriz Joan Van Ark |
Naturalmente,
a mulher, enquanto “carne mais barata do mercado”, é quem mais sofre com a corpolatria,
já que é também ela a mais cobrada por conta da aparência. Enquanto cabelo
branco em “homem é charme” na “mulher é desleixo”, “homem barrigudo é até
gostoso”, “mulher barriguda é baranga” e por aí vai... E quando se trata de idade
a coisa fica ainda mais feia. A mulher que chega aos 30 anos já sente a
dificuldade para estabelecer um relacionamento sério e/ou casar. Já o homem não
sofre desse problema, não tem restrição de idade pra casar, nem sofre
discriminação caso se relacione com mulher bem mais jovem.
Michaela Romanini |
Por conta
dessa relação de desigualdade as mulheres acabam recorrendo a procedimentos de
embelezamento não confiáveis e de riscos, além de submeterem a situações
constrangedoras em busca do corpo perfeito e da aparência jovial. Tudo isso é
alimentado por um padrão de beleza midiático inatingível e opressor, justamente por sermos nós que “não podemos ficar
encalhadas”, “precisamos ter um homem que legitimem nossa existência”, “somos o
sexo frágil que precisa de proteção masculina”. Quanto mais ansiosa estivermos
por encontrar “nossa cara metade” mais facilmente seremos manipuladas, mais
facilmente aceitaremos os ditames do “macho” e cederemos às suas exigências.
Jocelyn Wildenstein |
Dentro
dessa lógica, e sob a ameaça de uma concorrência desumana, nos sentimos
impelidas a nunca envelhecermos. Há uns 15 anos, meu marido ameaçou trocar-me
por 2 garotas de 15 anos quando eu fizesse 30. Minha relação com ele, no decorrer
desses longos anos mudou, tenho 40 e continuamos firme e forte, ainda não senti
a ameaça de ser trocada. Entretanto essa é uma lógica muito presente em todas
as sociedades e muito facilmente observável. Percebemos os homens trocando suas
esposas por mulheres cada vez mais jovens. Nesse processo nossa autoestima fica
seriamente comprometida e o que assistimos é o festival de autoagressão que
culmina na perda da autoimagem e da própria identidade.
Rosana |
A melhor
maneira de cessar com esse processo é romper com essa cultura de coisificação da
mulher, que nos subjuga, que ainda entende o casamento como indicador de
sucesso feminino. Reverter essa lógica depende de compreendermos que o
fortalecimento da nossa autoestima é essencial e que nossa autonomia é fundamental
e inegociável. E nesse percurso, não podemos prescindir do respeito ao nosso
corpo, o que implica a não agressão e a rejeição aos procedimentos
constrangedores, insalubres e de risco. Como também precisamos rever os
conceitos de indicadores de sucesso, de casamento e de qualidade de vida. Então,
veremos que não precisamos nos tornar objetos para termos valor ou sermos
valorizadas, que o homem deve ser apenas um companheiro e que o casamento não pode
ser uma prisão.
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