segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Corpolatria e a desfiguração dos rostos e corpos de famosas



Recentemente apareceu no Terra uma reportagem que mostra o estado de saúde lamentável que uma jovem de 19 anos ficou depois de se submeter a uma cirurgia pra implante de silicone. 
Reprodução do Terra

Linda Perez, 19 anos, se submeteu a uma cirurgia plástica para aumentar os seios, em agosto do ano passado, e, uma hora depois do procedimento, entrou em coma. Em outubro, ela mostrou sinais de vida e, no mês seguinte, foi levada para casa com danos cerebrais. Atualmente, Linda não pode andar e fala poucas palavras.” Terra. 

A situação de Linda é bem chocante. Quase tão grave quanto este é o caso da apresentadora, considerada a rainha dos caminhoneiros, que teve o rosto desfigurado durante cirurgia plástica, realizada em um hospital no Nordeste do país, em abril. O procedimento, previsto pra durar poucas horas, se estendeu por 12. Edileuza conta que percebeu que havia algo errado com a cirurgia logo que sentiu o efeito da anestesia passar. Ela sentia dores terríveis que só passavam com morfina.  Além das dores e da paralisia facial lhe restaram cicatrizes por toda face. Em casa, hoje, Edileuza trava uma batalha para tentar amenizar a dor e o sofrimento, evidentes nas cicatrizes do rosto. 
Além dos sérios danos à saúde e à aparência algumas das vítimas desses procedimentos mal sucedidos não conseguem resistir e acabam morrendo em decorrência de complicações cirúrgicas ou pós-cirúrgicas. Como foi o caso de Pamela Baris. 

Pamela B. Nascimento
Durante uma lipoaspiração, ocorrida em 19 de outubro do ano passado, a modelo Pamela Baris Nascimento, de 27 anos acabou morrendo. Para investigar as causas da morte Foi instaurado um inquérito policial. A família procura auxílio judicial para ter mais informações do que ocorreu com a jovem. Segundo eles, a modelo teria sofrido uma perfuração no fígado. R7.

Sinto uma imensa inquietação quando abordo esse assunto. Não é difícil perceber que o anseio pela cirurgia plástica é mais um problema de auto percepção do que propriamente uma real necessidade. O grande desejo de transformar o corpo ou mudar a aparência expõe um sério problema que tem crescido bastante ultimamente, a corpolatria.
A ‘Corpolatria’ é uma espécie de ‘patologia da modernidade’ caracterizada pela preocupação e cuidado extremos com o próprio corpo não exatamente no sentido da saúde (ou presumida falta dela, como no caso da hipocondria) mas particularmente no sentido narcisístico de sua aparência ou embelezamento físico. Para o corpólatra, a própria imagem refletida no espelho se torna obsedante, incapaz de satisfazer-se com ela, sempre achando que pode e deve aperfeiçoá-la. Sendo assim, a corpolatria se manifesta como exagero no recurso às cirurgias plásticas, gastos excessivos com roupas e tratamentos estéticos, abuso do fisiculturismo (musculação, uso de anabolizantes, etc). corpolatria.blogspot.com.br (CODO; SENNE.1985) em http://corpolatria.blogspot.com.br/2009/03/questao-o-que-e-corpolatria.html 

Donatella Versace
Aparentemente esse mal surge no indivíduo sem um “nem sei pra quê”, alguma coisa como um resfriado ou uma enxaqueca. No entanto, os que demonstram explicitamente um narcisismo extremo e a necessidade excessiva de transformarem o corpo são mais vítimas do que protagonistas nesse processo. Toda essa sensação de inadequação é propositadamente produzida. É através dela que o mercado de beleza cresce assustadoramente ano após ano e que centenas de vidas são completamente arruinadas. Seja através dos desastrosos resultados de procedimentos estéticos e cirúrgicos mal sucedidos, do endividamento ou da depressão que acomete aqueles que não encontram mecanismos de adequação aos padrões estéticos vigentes.




Atriz Joan Van Ark
Naturalmente, a mulher, enquanto “carne mais barata do mercado”, é quem mais sofre com a corpolatria, já que é também ela a mais cobrada por conta da aparência. Enquanto cabelo branco em “homem é charme” na “mulher é desleixo”, “homem barrigudo é até gostoso”, “mulher barriguda é baranga” e por aí vai... E quando se trata de idade a coisa fica ainda mais feia. A mulher que chega aos 30 anos já sente a dificuldade para estabelecer um relacionamento sério e/ou casar. Já o homem não sofre desse problema, não tem restrição de idade pra casar, nem sofre discriminação caso se relacione com mulher bem mais jovem.  


Michaela Romanini
Por conta dessa relação de desigualdade as mulheres acabam recorrendo a procedimentos de embelezamento não confiáveis e de riscos, além de submeterem a situações constrangedoras em busca do corpo perfeito e da aparência jovial. Tudo isso é alimentado por um padrão de beleza midiático inatingível e opressor, justamente por sermos nós que “não podemos ficar encalhadas”, “precisamos ter um homem que legitimem nossa existência”, “somos o sexo frágil que precisa de proteção masculina”. Quanto mais ansiosa estivermos por encontrar “nossa cara metade” mais facilmente seremos manipuladas, mais facilmente aceitaremos os ditames do “macho” e cederemos às suas exigências. 

  

Jocelyn Wildenstein

Dentro dessa lógica, e sob a ameaça de uma concorrência desumana, nos sentimos impelidas a nunca envelhecermos. Há uns 15 anos, meu marido ameaçou trocar-me por 2 garotas de 15 anos quando eu fizesse 30. Minha relação com ele, no decorrer desses longos anos mudou, tenho 40 e continuamos firme e forte, ainda não senti a ameaça de ser trocada. Entretanto essa é uma lógica muito presente em todas as sociedades e muito facilmente observável. Percebemos os homens trocando suas esposas por mulheres cada vez mais jovens. Nesse processo nossa autoestima fica seriamente comprometida e o que assistimos é o festival de autoagressão que culmina na perda da autoimagem e da própria identidade.
Rosana
A melhor maneira de cessar com esse processo é romper com essa cultura de coisificação da mulher, que nos subjuga, que ainda entende o casamento como indicador de sucesso feminino. Reverter essa lógica depende de compreendermos que o fortalecimento da nossa autoestima é essencial e que nossa autonomia é fundamental e inegociável. E nesse percurso, não podemos prescindir do respeito ao nosso corpo, o que implica a não agressão e a rejeição aos procedimentos constrangedores, insalubres e de risco. Como também precisamos rever os conceitos de indicadores de sucesso, de casamento e de qualidade de vida. Então, veremos que não precisamos nos tornar objetos para termos valor ou sermos valorizadas, que o homem deve ser apenas um companheiro e que o casamento não pode ser uma prisão.

Sem comentários: