domingo, 9 de fevereiro de 2014

Estupros coletivos na Índia



Definitivamente, não gostaria de voltar a abordar os estupros coletivos na Índia. Um dos motivos é a imensa dor que sinto ao tomar conhecimento, e ter de repassar, informação de que mulheres, assim como eu, sejam submetidas a esse tipo de barbaridade e outra porque esperava sinceramente que este tipo de crime fosse punido de forma tão exemplar que desestimulasse esses bárbaros (com muita vontade de dizer uma centena de termos chulos pra me referir a esses doentes) a cometê-lo. Entretanto, mais uma vez, volto a falar do homem indiano com profundo asco. E agora, minha indignação não se volta tão somente a uma massa anencéfala que são os estupradores, mas a toda uma comunidade que usa os instintos cruéis, insanos e pervertidos de algozes como mecanismos de punição de uma pessoa. Não consigo conceber que um conselho coletivo estipule como pena um estupro coletivo de uma mulher. Pois foi exatamente isso que aconteceu no último dia 21 de janeiro, na noite de terça-feira, depois de uma reunião de emergência em Subalpur, onde mora a vítima.  

“Uma indiana de 20 anos foi vítima de estupro coletivo cometido por 12 homens sob a ordem de um conselho comunitário, em localidade no Leste da Índia. A medida foi uma punição à relação amorosa entre a  jovem e um homem de outra comunidade, segundo informações da  polícia. O conselho local ordenou a punição na noite de terça-feira (21), depois de uma reunião de emergência em Subalpur, onde ela mora.  A jovem foi hospitalizada. Na segunda-feira (20),  a relação entre a jovem e o homem foi descoberta e seus pais se declararam incapazes de pagar a multa cobrada pela infração. Durante a reunião em que a punição foi decidida, a jovem e o amante foram amarrados a duas árvores em uma praça do local”. Revista Fórum

Em dezembro escrevi um post atrás do outro falando sobre esse tipo de crime, “Jovem sofredois estupros coletivos no mesmo dia” e “Patriarcalismo na polícia, um problema isolado ou uma cultura intrínseca àestrutura militarista? e o sentimento que tinha era de estamos voltando à barbárie.
Na Índia a cada 20 minutos uma mulher é estuprada. Muitas são vítimas dos chamados estupros de gangue, em que vários homens atacam ao mesmo tempo. Lamentavelmente, a estimava é de que somente 1 em cada 50 casos de estupro seja levado à polícia. E apenas 26% das denúncias resultam em condenação, algo por volta de 0,5% do total de agressões. Depois do último caso, dia 27, cheguei a conclusão de que na verdade nunca saímos dela.

Apesar dos casos relatados terem ocorrido na índia, nosso país não se distancia muito dessa realidade não. Só no ano de 2012 foram registrados 50.617 estupros. No ano passado assistimos atônitos a notícia do estupro coletivo de uma jovem turista americana no Rio de Janeiro. A jovem foi violentada 8 vezes dentro de uma van enquanto seu namorado era espancado diante dela. 

Esse tipo de abuso acontece porque os instintos sexuais masculinos são tão incontroláveis assim? Não. Esse tipo de crime ocorre por contra da estrutura cultural das sociedades, quase todas elas estão fundamentadas num sistema patriarcal que entende a mulher como ente inferior subordinado às vontades masculinas. Isso ocorre porque a aparato policial, investigativo e da justiça estão em mãos masculinas. Isso ocorre porque quem faz as leis são os homens. Basta ver que um conselho delibera pelo estupro coletivo. Os estupros são consequências de uma cultura universal centrada no homem e seu falo. Os estupros ocorrem porque os homens sabem que podem fazê-los e escaparem impunes, principalmente aos olhos da sociedade, que sempre encontra uma forma de culpar a vítima, seja por estar vestida de forma “inadequada”, por estar no lugar errado, feito algo inapropriado, enfim, de alguma forma ter provocado o crime.

Enquanto a sociedade não compreender o corpo da mulher como algo inviolável e não respeitar sua autonomia vamos continuar assistindo impassíveis aos estupros, os tolerados, que ocorrem quando a vítima é esposa e o agressor é o marido e até os cometidos coletivamente por completos desconhecidos.

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