Hoje, aos 40 anos, quase quinze quilos
a mais do que há 23 anos, muitas celulites, e até certa flacidez, encaro o meu
corpo com muito carinho. Olho e sinto prazer em vê-lo. Aceito cada “defeito”,
gosto da minha barriga um pouco saliente, seios que “não desafiam a lei da
gravidade” e bumbum não tão turbinado. Entretanto, me olho no espelho e vejo
uma mulher bonita e desejável. E nem pense em ser cínico ou espírito de porco e
achar que estou sendo hipócrita. Pois, depois de muita briga com o espelho, finalmente
gosto de ficar me olhando sem pensar em quantos quilos de gordura preciso
aspirar ou quantos ml de silicone vou precisar acrescentar. Pois seus padrões estéticos
não têm mais influência sobre mim. Bem diferente de quando tinha 15 anos e essa
massacrante cultura coisificante me oprimia ressaltando que era inapropriada.
Hoje tenho um olhar condescendente e de
cumplicidade comigo mesma. É um olhar de quem conhece o próprio corpo e o que
ele pode proporcionar. Um olhar de quem já aprendeu a desconstruir as décadas de
informações sobre como odiar o próprio corpo e a si mesma e que não vai se
torturar ou autoflagelar em busca de aceitação. É o olhar de quem a aprendeu
que tocar o clitóris e enfiar espontaneamente coisas na vagina ou no ânus é muito prazeroso.
É o olhar de quem compreendeu que buceta tem cheiro de buceta
e não de rosas do campo, de que peito e bunda caem, de que envelhecemos. É olhar
de quem compreendeu que mulher, bem como carne de primeira tem gordura sim. É o
olhar de quem compreende que para se amar e ser feliz é importante romper com o
ciclo de auto depreciação que alimenta o mercado da “beleza” e indústria farmacêutica de antidepressivos.
É o olhar de quem não precisa ir a um
canteiro de obras ansiando por receber fi-fiu e as mais esdrúxulas cantadas para
se sentir bem com a aparência. É o olhar de quem não precisa andar vestida “comportadamente” pra se sentir valorizada ou seminua para atrair olhares, sussurros ou
comentários de gostosa e dessa forma se sentir mais mulher. É o olhar de quem
diz “não” diante das insistentes investidas sexuais do parceiro porque não se
considera objeto sexual e só se entrega ao sexo se realmente houver vontade e
for pra sentir prazer. É um olhar de quem sabe como e onde ser tocada, revela
abertamente e entende que orgasmo é uma necessidade fisiológica. É um olhar de
quem sabe que depois do sexo sem prazer vem à culpa e que se entregar sem
vontade não tapa nenhum buraco existencial. É um olhar de quem entende que sexo
sem amor pode ser sexo com prazer e que ir pra cama na primeira noite não torna
ninguém puta.
Não esqueça, não preciso e nem quero regras
ou guias de como me comportar na “sociedade”, sentir prazer ou ser uma “puta na
cama”. Meu corpo, minhas regras e todas quem dita sou eu, me guardo ou me revelo,
me entrego ou me nego conforme meu humor e minha vontade. Não me diga o que
posso ou não posso sobre o meu corpo. Entenda de uma vez por todas, ninguém
além de mim, tem domínio sobre o que faço do meu corpo ou uso. Não sou velha
demais pra usar isso ou jovem demais pra usar aquilo. Conheço meus limites e só
eu poderei determinar onde poderei chegar. Minhas banhas aparecendo sobre a calça
jeans não é feio, meus seios sobre a barriga não é feio, muito menos é feio minhas
estrias e celulites aparecendo através do biquíni. Aceite que não preciso da sua autorização pra
me sentir linda ou do seu senso de beleza pra me dizer que sou feia. Se eu
quiser me vestir como puta ou santa a decisão é minha e sua opinião não vai ser
relevante. Sua opressão não tem poder sobre mim.
Aliais, não opine sobre o meu peso,
sobre minha aparência ou sobre o que visto, exceto se for consultado. Guarde seus
padrões estéticos pra você, não queira que eu obedeça aos padrões que lhe
agradam, pois não nasci pra agradar, nasci pra ser feliz. Se não contribuir
para que eu me torne uma pessoa melhor, guarde suas opiniões pra você, afinal
de escrotos o mundo está cheio, não seja mais um. Entenda de uma vez por todas,
me visto ou tenho essa aparência não pra lhe ofender ou pra lhe agradar, ambos refletem
quem eu sou. Estou de bem com o meu corpo porque somos todos diferentes. Ser diferente
é ser original, tentar se enquadrar em padrões é se torna indiferenciável e uma decisão estúpida. Portanto tire suas regras do meu corpo porque me acho linda e
meu corpo idem e foda-se o seu senso estético.
1 comentário:
Ana estou me sentindo contemplada nesse texto,até aos meus 35 anos eu tinha essa preocupação de saber o que os outros pensava e achava do meu corpo principalmente depois que eu paria,mesmo quando tive meu primeiro filho muito nova (19 anos)relutava muito ao sair,mais te confesso depois de 17 anos que tive meu segundo filho,imagina como minha auto estima fraquejou não queria sequer olhar no espelho por que me sentia feia,gorda pele mole caida e ainda recebendo comentarios do ex companheiro que me presenteava com modeladores de bunda e cintura . Hoje estou com meus 48 anos ,vou ao espelho,acaricio meu corpo,toco em qual quer parte e sorriu,visto qual quer roupa que me deixa bem e me sinto feliz por que me libertei do meu preconceito ,das pessoas que deixava meu dia triste por que eu considerava seu comentário a mais pura verdade...Para romper com isso sofri,relutei...mas "SEUS PADRÕES ESTÉTICOS NÃO ME OPRIMEM MAIS",
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