sábado, 27 de setembro de 2014

Estupro coletivo em Queimadas fora das estatísticas da impunidade



Lá vai eu, a chata, falar de novo da história de cultura do estupro, logo fazendo relação com um caso desses!
Como assim cultura do estupro? Quando uma pessoa planeja dar de presente de aniversário um estupro coletivo, envolvendo 10 homens, não estamos falando da legitimidade da cultura do estupro? Mas nesse caso o desprezo para com as mulheres excede qualquer limite do ponderável.
esduardo estupro coletivo queimadas
Eduardo dos Santos (Foto: Jornal Correio da Paraíba)
Eduardo dos Santos Pereira planejou dar a seu irmão, Luciano dos Santos Pe­reira (44), de presente de aniversário uma festa que incluía um estupro coletivo. A festa e o crime foram minucio­samente planejados por Eduardo, o mentor, Luciano dos Santos Pereira, Fernando de França Silva Júnior, Jacó Sousa, Luan Barbosa Cassimiro, José Jardel Sousa Araújo e Diego Rêgo Domingues e outros três menores de idade. 

isabele michelle estupro queimadas
Já pela madrugada de domingo de carnaval, 12 de fevereiro de 2012, bandidos fortemente armados e encapuzados invadiram a comemoração, amarraram as mulheres que estavam no local, no Centro de Queimadas, a 15 km de Campina Grande, as agrediram e as estuprarem. Na fuga, os supostos assaltantes levaram duas das cinco vítimas e a caminhonete de um participante da festa. Uma das mulheres, Michele Domingos da Silva de 29 anos, pulou do veículo em movimento. Os criminosos pararam o carro e a executaram. A outra garota, a professora Isabela Jussara Frazão Monteiro, 27 anos, foi morta com três tiros, amarrada com algema de plástico e deixada em cima da caminhonete.
Julgamento do "Caso Queimadas"
Jornal Correio da Paraíba

Hoje, após 19h de julgamento, o mentor do estupro coletivo de Queimadas, o réu Eduardo dos Santos Pereira, foi condenado a um total 108 anos de prisão. O julgamento, que começou ontem, foi realizado no Fórum Criminal de João Pessoa. 

Julgamento do "Caso Queimadas"
Mano de Carvalho/ Jornal Correio da Paraíba
“O júri popular começou na tarde dessa quinta-feira (25) e se encerrou na manhã da sexta-feira (26). O Conselho de Sentença composto por quatro homens e três mulheres se reuniu por volta das 5h20 desta sexta-feira (26) e saiu da sala cerca de três horas depois. O Juiz Antônio Maroja Limeira Filho leu a sentença que apontou o réu como culpado. São 106 anos e 5 meses por homicídio, formação de quadrilha, cárcere privado, corrupção de menores e porte ilegal de arma e mais um 1 ano e 10 meses por lesão corporal. [...] Luciano dos Santos Pereira, Fernando de França Silva Júnior, Jacó Sousa, Luan Barbosa Cassimiro, José Jardel Sousa Araújo e Diego Rêgo Domingues – foram condenados em 2012 pelos crimes de cárcere privado, formação de quadrilha e estupro (relembre aqui). Eles cumprem penas entre 26 e 44 anos de prisão em regime fechado no presídio de Segurança Máxima PB1, em João Pessoa. Suas penas, somadas, chegam a 184 anos de prisão.Pragmatismo Político. 
Naturalmente, os acusados contavam como certa a impunidade nesse caso, mas felizmente isso não ocorreu. Todos, exceto os menores, vão responder por seus crimes.
Gabe Kowalczyk- reprodução Facebook
Como já falei anteriormente, o estupro é um crime de ódio, de misoginia, bem como a agressão e o feminicídio. Todas essas expressões revelam o ódio que parte da sociedade alimenta contra o feminino. Todas as características culturalmente construída e aceita como feminina é passível de punição. Ora o estupro é usado como “mecanismo de correção de lésbicas”, ora é usado para punir aquele que teve “o privilégio de nascer com pênis” e ousa transpor a barreira binária do gênero. 
Foi o que aconteceu Gabe Kowalczyk, um garoto de 19 anos, morador do bairro de Interlagos, em São Paulo. Nesta quinta (25), ele postou fotos sua no Facebook mostrando o resultado das agressões que sofreu. Além das agressões quase foi estuprado por três homens
"Acordei umas 6 e 15 da manhã e me troquei porque tinha uma entrevista de emprego. Coloquei a touca na cabeça, mas o cabelo é grande, sempre fica um pouco aparecendo e sempre alguém mexe comigo. Desci umas duas ruas para baixo da minha casa em direção ao ponto de ônibus. Não tinha andado nem 300 metros quando percebi que tinha três caras andando atrás de mim. Quando vi continuei de cabeça baixa e apertei o passo para chegar o mais rápido possível até a Miguel Yunes, uma avenida movimentada onde eu poderia correr para algum lugar. Estava a 10 metros da avenida quando eles chutaram a minha perna e me derrubaram. Caí de cara no chão, ralou tudo. Tenho um piercing no nariz e ele enroscou em algum lugar e me machucou muito. Tentei me virar e um cara mais gordinho virou meu corpo e os três começaram me dar chutes e socos, enquanto falavam: 'Sua bicha, seu ridículo, quer ser mulher então vai apanhar que nem mulher'. Meu corpo estava tão machucado que eu tentava gritar e só saíam gemidos. Puxaram o meu cinto e desceram a minha calça, enquanto falavam: 'Agora você vai apanhar como mulher.’ Um deles estava abaixando a calça também. Os carros passavam e ninguém descia para fazer nada. Mas de repente teve uma movimentação numa casa perto de onde estávamos e eles levantaram falando: 'Moiô, moiô' e saíram dizendo assim: 'Não acabou não, você vai ter o que merece.Consegui me levantar e fui a pé até a base de polícia, onde caí no chão. O policial me pegou e foi muito atencioso, me colocou em um carro e me levou ao Pronto Socorro. Tive traumatismo craniano leve, lesão no tórax e no estômago e luxação nos dois tornozelos." Igay 

Gabe Kowalczyk- reprodução Facebook
Infelizmente, essa não foi a primeira vez que Gabe foi agredido, foi a terceira vez que é abordado e espancado na rua. Ele também não é a única vítima, é como ele mesmo coloca, mais um a entrar para as estatísticas.
O que mais me incomoda é que a cultura do estupro está tão disseminada que mesmo entre a galera mais jovem, e com um pouco mais de cultura, vê-se a exaltação desse tipo de crime de uma forma espantosamente natural. Veja o caso que ocorreu na UFMJ. 
Hoje xxxxxxxx foi dominado por uma turma de idiotas, componentes da Bateria da Engenharia da UFMG (que vergonha!), que em coro cantavam: “Não é estupro, é sexo surpresa”, dentre outras imbecilidades machistas, misóginas e homofóbicas. Mais triste ainda foi ver mulheres envolvidas na cantoria. E mais triste ainda perceber que ninguém mais se sentiu incomodado. É preciso mesmo repensar o papel da universidade, sobretudo as instituições publicas. Acho um absurdo SEM FIM uma UFMG da vida ser conivente com esse tipo de comportamento, que ocorre não somente dentro da universidade, mas muitas vezes EM NOME da universidade. Mais absurdo ainda quando a universidade indiretamente (mas não sem consciência) contribui para que esses episódios aconteçam quando, por exemplo, emprestam sua estrutura física para o “ensaio”. Triste, lamentável. Confesso que não soube como agir (e talvez nenhuma reação valeria a pena diante de um bando de playboys bêbados). Mas fica no coração a esperança de que a luta jamais termine e que o futuro seja um lugar melhor.”Luisa Turbino(estudante de mestrado em direito)
Só me permita pontuar que citei esse caso só como exemplo, noutras universidade rola não só exaltação do estupro como estupros de fato, principalmente de calouras. É fato que eles ocorrem com uma frequência assustadora, no entanto, estes acabam sendo abafados, negligenciados ou minimizados pelas direções dessas instituições. 
Mas enfim, aproveito para tomar emprestado as palavras de Luisa e com elas fazer uma breve adaptação:  Acho um absurdo SEM FIM uma sociedade inteira ser conivente com esse tipo de comportamento.


1 comentário:

N. Rodrigues disse...

Há tantos casos absurdos neste post que é difícil digerir, minha cara.
Que apodreçam todos na cadeia. Monstros!

Espero que tu estejas bem. Porque tu sim, és feita de luz.