Enquanto Silas Malafaia se
vitimizava na internet dizendo que está sofrendo perseguição por conta de
preconceito religioso a comunidade LGTT, contra quem destila seu ódio, continua sofrendo toda espécie de
ataque. Um deles ocorreu hoje de madrugada, motivado pela notícia de um
casamento homoafetivo.
(Foto: Carlos Macedo / Agência RBS) |
Felizmente,
nesse caso, não houve feridos. No entanto, a homofobia mata. Homossexuais
continuam sendo mortos em nome da intolerância e do preconceito. Quando temos
um sistema que prega a discriminação, até dentro da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara de Deputados, a homofobia parece ser legítima. Quando a igreja se
alia às outras instituições na pregação do ódio aos homossexuais esse
grupo acaba por ser demonizado e desumanizado. Essa conjuntura torna factível a
“extirpação do mal”, mesmo que seja através do homicídio, principalmente de forma cruel para que sirva de exemplo. Podemos
perceber esse nível de brutalidade no caso do assassinato de João Donati, um garoto de apenas 18 anos. Seu corpo foi encontrado
com hematomas no rosto e sacolas plásticas enfiadas na boca em Inhumas,
cidade da região metropolitana de Goiânia (GO). A principal suspeita é que ele
tenha sido morto por asfixia pelo plástico. Não havia outras marcas de agressão
no corpo.
“A Polícia Civil de Goiás suspeita que o assassinato de um jovem de 18
anos na cidade de Inhumas, na região metropolitana de Goiânia, tenha sido
motivado por homofobia. O corpo do rapaz, que era gay assumido, foi encontrado
com hematomas no rosto e sacolas plásticas enfiadas na boca nesta quarta-feira
(10). João Antônio Donati, 18, trabalhava como garçom em um bar na cidade, que
tem 48 mil habitantes. Segundo a Polícia Civil, ele estava desaparecido desde a
noite de terça-feira (9). O corpo foi encontrado às 8h de quarta, em um terreno
baldio, por pessoas que passavam na rua a caminho do trabalho. Segundo o
delegado Humberto Teófilo de Menezes Neto, responsável pelo caso, a vítima
tinha hematomas na boca e nos olhos, além de diversas sacolas na boca. A
suspeita do delegado é que ele tenha morrido asfixiado pelo plástico. Não havia
outras marcas de agressão no corpo. A suspeita de homofobia como motivo do
crime, segundo Menezes Neto, seria pela forma cruel como a vítima morreu e
porque nada foi roubado –a carteira estava com Donati, com dinheiro dentro. A
perícia, que vai apurar a causa da morte, deve ser concluída em uma semana. A
partir de segunda-feira, a polícia vai começar a ouvir familiares e amigos.
Também o celular e o notebook dele já estão com a polícia, a fim de
identificar, nos diálogos, possíveis suspeitos do homicídio.
Folha Uol
“João morava em Inhumas, Goiás, e tinha dezoito anos.
João saiu de casa terça feira e não mais voltou. Seu corpo sem vida foi
encontrado ontem pela manhã, abandonado num terreno baldio qualquer.
Estrangulado. Brutalmente assassinado. Suas pernas e pescoço, quebrados. Em sua
boca, um bilhete. ‘Vamos acabar com essa praga’.
Apesar de todas as óbvias circunstâncias, praticamente
todos os veículos de comunicação afirmam haver SUSPEITA de que o crime tenha motivação homofóbica. O delegado responsável pelo
caso, Humberto Teófilo, informou que ainda será instaurado um inquérito parar
apurar o motivo do crime. Nos comentários dos sites de notícias, lê-se uma
empatia que só é vista em nossa morte: nossa dor cotidiana só é tida como
legítima quando morremos. E olhe lá. O perfil de João Antônio no Facebook, que
antes era permeado por fotos sorridentes, conversas divertidas com os amigos e
imagens simbólicas contra homofobia, é hoje tomado pela tristeza de recados
incrédulos de família, amigos e desconhecidos indignados com a morte do tão
novo rapaz. Mais uma vida foi tirada. Mais
um sorriso foi apagado. Mais inúmeras vidas perderam o sentido com a morte de
João. Mais um de nós pra conta da homofobia institucionalizada. E poderia ser
eu. Poderia ser meu melhor amigo. Poderia ser meu namorado. Poderia ser cada um
dos amigos com quem eu divido um lar. Poderia ser alguma das muitas pessoas
próximas a mim. Poderia ser minha mãe debruçada sobre um caixão carregando meu
corpo frio e indiferente. Poderia ser a família de cada uma dessas pessoas a
ter sido tão brutalmente dilacerada pela homofobia. Nosso sangue, mais uma vez,
está nas mãos dessas pessoas. Você que riu do coleguinha gay na escola, você
que faz (e ri de) piadinhas que nos desumanizam, você que usa "viado"
ou "bicha" como xingamento, você que diz que algo é "muito
gay" com intenção de ofender, você que assedia moralmente o
"viado" que vê na rua, você que nos tira o direito de casar e viver
normalmente com nossos amores, você que acha que lei contra homofobia é
privilégio, você que faz coro ao que dizem os políticos fundamentalistas, você
que neles vota, você que acredita em heterofobia: nosso sangue sujo está nas
suas mãos limpas. Não passarão. Marcelo Rodrigues, autor do Blog Filho Gay.
“Você pode achar que ser gay é
errado e você pode até dizer isso para os lunáticos que levam você a sério. Mas
quando você se esforça para barrar que a população LGBT tenha seus direitos
garantidos por lei, aí nós vamos ter problemas. Silas, gays trabalham, estudam,
pagam seus impostos e cumprem suas obrigações com o Estado, mas não têm todos
os seus direitos garantidos por ele. Você supostamente tem uma igreja
evangélica, mas usa o twitter mais para falar sobre gays do que sobre Jesus. Ou
seja, sua Igreja não paga impostos, com ela você acumulou milhões de reais, e
são homossexuais que querem privilégios? Mesmo? Não, Silas. O que a população
LGBT quer é que existam políticas públicas para acabar com a homofobia. [...]Porque
quando garotos como o João morrem, o Brasil (este país laico onde a sua igreja
não paga impostos para propagar discurso de ódio) também tem culpa. Tem culpa
quando a lei não garante direitos aos casais de pessoas do mesmo sexo iguais
aos dos casais de sexo oposto. Tem culpa quando não pune pessoas que proferem
injúrias homofóbicas como exemplarmente pune quem comete atos racistas. Tem
culpa quando o governo deste país usa o direito de minorias como moeda de troca
para negociar apoio. Tem culpa quando não educa seus cidadãos para entender que
o cu é meu, e eu faço o que bem entendo dele, não me importando a mínima para o
que pessoas como você pensam sobre isso.” Lucas Prado Mattos.
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