O relato
a seguir foi feito durante a campanha “provida” promovida no Facebook
condenando o aborto, onde mães eram desafiadas a postarem fotos grávidas dizendo
que optaram por levar a gravidez adiante. Luciana não aderiu a campanha.
Essa
é a única foto que tenho mostrando a barriga...
E embora eu tenha sido marcada nessa campanha do Facebook, não vou responder a esse apelo da forma que esperam...
Eu tinha medo de mostrar a barriga, pois morei num bairro onde me ameaçavam de surra por ser muito nova e estar grávida...
Sempre aparentei ter menos idade do que eu tinha e juntando isso ao fato de que eu realmente era muito nova, as ameaças eram cada vez piores...
E embora eu tenha sido marcada nessa campanha do Facebook, não vou responder a esse apelo da forma que esperam...
Eu tinha medo de mostrar a barriga, pois morei num bairro onde me ameaçavam de surra por ser muito nova e estar grávida...
Sempre aparentei ter menos idade do que eu tinha e juntando isso ao fato de que eu realmente era muito nova, as ameaças eram cada vez piores...
Não
podia sair sozinha, pois corriam atrás de mim para me baterem ou me chamavam de
putinha, vagabunda ou diziam coisas como "eu merecia ser estuprada até
morrer".
Eu
tinha 14 anos quando engravidei e engravidei por descuido. Mas eu não merecia
ter sido punida da forma que fui...
O
pai do meu filho sempre disse que seria o melhor pai do mundo e estava feliz
por isso. Eu, por outro lado, queria abortar...
Queria abortar porque era nova demais para assumir isso, venho duma família sem estrutura alguma, fruto de duas pessoas problemáticas e não queria isso pra uma criança...
Eu não sabia cuidar de mim, imagina criar outra pessoa...
Queria abortar porque era nova demais para assumir isso, venho duma família sem estrutura alguma, fruto de duas pessoas problemáticas e não queria isso pra uma criança...
Eu não sabia cuidar de mim, imagina criar outra pessoa...
Fora
as humilhações e ameaças das pessoas, eu apanhava do meu pai mesmo com a
gravidez em estágio avançado, de barrigão...
Meu
pai sempre me odiou e passou a me odiar ainda mais pela gravidez...
Nem minha mãe nem o pai do meu filho me permitiram abortar...
Obrigaram-me a levar a gravidez até o fim...
Nem minha mãe nem o pai do meu filho me permitiram abortar...
Obrigaram-me a levar a gravidez até o fim...
Pensei
em tentar me matar, já que eu já havia tentado anos antes e morrer seria melhor
que ter o filho... Não
consegui e tive que levar a gestação até o fim...
O
meu filho nasceu saudável, apesar de ser a criança mais feia do hospital. E
então, aquele cara que seria o pai perfeito, o cara que me ajudaria com isso,
se mostrou um doente mental sádico, que quando não estava me espancando, estava
gastando dinheiro com prostitutas na rua e deixando eu e meu filho passando
fome em casa...
Meus pais me jogaram na rua, botaram-me para correr. Meu pai dizia que era bem feito e que eu merecia todo o castigo do mundo... Ele sabia que eu era espancada e passava necessidade com meu filho e mesmo assim, nunca me ajudou...
Meus pais me jogaram na rua, botaram-me para correr. Meu pai dizia que era bem feito e que eu merecia todo o castigo do mundo... Ele sabia que eu era espancada e passava necessidade com meu filho e mesmo assim, nunca me ajudou...
O
mesmo aconteceu com os parentes, que diziam apoiar a gestação e que tudo daria
certo, mas me fecharam a porta na cara quando eu precisei de um colo que
fosse...
Pedi muito resto de feira para dar o que comer para o meu filho. Perdi dentes e a minha vida inteira por causa duma gestação a qual fui obrigada a manter...
Pedi muito resto de feira para dar o que comer para o meu filho. Perdi dentes e a minha vida inteira por causa duma gestação a qual fui obrigada a manter...
Não
pude escolher o que fazer da minha vida, não pude escolher o que seria do meu
corpo ou do meu futuro... Tiraram-me esse direito...
Eu perdi minha vida toda por isso. Simplesmente porque as pessoas achavam que eu merecia ser punida por ter feito sexo sem camisinha, por ter 14 anos e estar descobrindo meu corpo...
Eu perdi minha vida toda por isso. Simplesmente porque as pessoas achavam que eu merecia ser punida por ter feito sexo sem camisinha, por ter 14 anos e estar descobrindo meu corpo...
As pessoas que me forçaram a levar a gravidez adiante, foram as mesmas que me negaram ajuda, colo e o direito sobre a minha vida e meu corpo...
O
homem que se dizia ser pai abandonou eu e o meu filho após anos de torturas
físicas e psicológicas. E hoje nem sequer reconhece o próprio filho na rua, o
filho que ele disse tanto querer...
Eu só queria dizer que a ignorância de vocês, mata... Mata sonhos, mata vida, mata literalmente em abortos clandestinos, em suicídios, em depressão...
Eu só queria dizer que a ignorância de vocês, mata... Mata sonhos, mata vida, mata literalmente em abortos clandestinos, em suicídios, em depressão...
A
ignorância das pessoas acabou condenando a minha vida e me transformando numa
mulher infeliz, sem chance alguma de ter uma vida com alguém e vivendo coisas
que é normal pra toda mulher...
Queria
dizer a todos vocês, que forçaram minha gestação como forma de punição por eu
ter feito sexo, que eu paguei, e pago até hoje essa sentença que vocês
determinaram...
Paguei
com a minha vida, com as minhas renúncias, com os sonhos que tive que matar
durante toda uma vida. E mesmo acordando e vendo o rosto lindo do meu filho,
que cresceu e se tornou um homem maravilhoso, não existe um só dia que eu não
pague a punição que vocês me impuseram...
Esse
é o meu relato, eu sou a favor de que a mulher seja livre para fazer suas
escolhas e o que ela deseja para a sua vida, sou a favor de que o aborto seja
legalizado para que não existam mais Lucianas infelizes e arruinadas...
Sou
a favor da liberdade de escolha!!!
(Luciana Campos Rodrigues)
(Luciana Campos Rodrigues)
Essa
exposição tão dolorida e comovente não conseguiu sensibilizar alguns dos leitores.
A confissão verdadeira, intensa, marcante expondo o lado cruel da maternidade
compulsória levou Ana a sofrer uma intensa hostilização nas redes sociais, ser
denunciada e até bloqueada por um mês pelo site Facebook. Veja o que lhe ocorreu no
próximo post
1 comentário:
Nossa Ana, que relato forte! Fiquei curiosa pra saber o destino dessa valente mulher que teve a coragem de falar a verdade, ao invez de ficar romantizando a maternidade... Essa história é mais comum do que imaginamos, mas nem todas as mulheres tem coragem de falar tão abertamente sobre o assunto.
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