O céu amanheceu traçado em tons de cinza

Desde domingo o céu está pintado de cinza, embora os anjos estejam festejando a chegada de outras dezenas deles.

Enquanto ainda sentimos na garganta o nó e a dor que não quer cessar os corações buscam conforto para superarem a perda. Restam a fé e as lembranças dos momentos compartilhados e a esperança de que Deus tenha reservado um bom lugar pra todos os que nos deixaram. Foi uma partida abrupta, cheia palavras que ficaram por serem ditas, braços que não se encontraram num longo abraço, um eu te amo que perdeu-se na correria da partida, confissões e desculpas postergadas sem que se tivessem a exata noção da brevidade do momento ou quiçá da vida. 

 

Se vai ser fácil olhar para cama sempre arrumada e as roupas perdurada no guarda roupas, não ouvir a voz chamando por nós, não sentir aquele cheiro que só ele ou ela tem e conviver com aquela sensação de casa vazia? É claro que não vai ser. Serão momentos de muita solidão e angústia e uma dor no peito que parece que nunca vai sarar. Mas, com certeza nos serviram de conforto os risos soltos e descontrolados divididos nos momentos de descontração ou nas rodas de piadas. Pode nos consolar às lembranças das palhaçadas realizadas juntos e de toda a cumplicidade vivenciada durante as estripulias. Porque cearense é assim, antes de tudo um palhaço ou palhaça, rir até de si mesmo e não se furta de fazer mungango.

Apesar da aridez da vida e do clima não perdemos a capacidade de achar graça em tudo. Somos um povo forte, resistente, cheio de alegria e de vontade de viver. Por isso os céus se alegram por que chegou um magote de cearense pra ajudar tocar a festa por lá e olhar por quem ficou aqui. Todo dia lá em cima vai rolar muito som de sanfona, triângulo, zabumba, piadas e muitas bênçãos. Hoje a saudade é cortante que nem peixeira afiada mais a cada dia esse sentimento que nos aflige vai diminuindo até um dia reste somente uma saudade embalada de muita história pra contar e das lembranças. 

Algumas partiram cedo, outras ficaram mais tempo por aqui, uma em especial foi encontrar seu pai que havia ido há exatos oito dias. Uma mulher menina que eu vivi correr só de calcinha pela casa ou sentada à janela com um bico na boca. Luana se antecipou na sua ida, mas, nos deixou milhares de momentos e lembranças para nos acalentar, além desse belo sorriso, sua marca registrada. Também nos ensinou que não podemos dar tempo ao tempo quando temos algo por fazer. Façamos hoje, agora, já, pôs não temos o amanhã, só temos o agora. Amemos agora, agradeçamos agora, nos desculpemos agora e primordialmente, vivamos agora, amanhã quem sabe...

Adeus Luana e a todos os demais, que a luz de cada um ajude a tornar mais brilhantes as estrelas e tornar mais iluminado mais o céu desse país. 

Francisca Luana Santos

Ás famílias as minhas mais sinceras condolências e um fraterno abraço.

Márcia Viana Barbosa

José Evangelista de Castro Filho
Vilauda Venâncio Barbosa
Maria Rosary Pereira
Francisca Venâncio da Silva
Francisco Adriano Nascimento Silva
Francisca Luana Santos Silva
Patrícia da Silva Oliveira
Maria de Oliveira Magalhães
Antônio Fernando Oliveira Lima

Sirleuda Gomes Freire da Glória
Francisco Reginaldo da Glória
João Paulo de Oliveira Santos
Helena Alves de Morais Silva
Antônio Carlos da Silva
Adaiza Bezerra Rodrigues
Francisco Moura Lima

Posteriormente acrescento os nomes daqueles que ainda não tiveram os nomes divulgados.

(Em homenagem às vítimas do acidente com o ônibus em Canindé)