“Você já espancou uma feminista
hoje? Ainda há tempo, nem acabou o expediente ainda.” Pacheco,
integrante do grupo capixaba RAP DELTA 9, em seu Twiter.
“Você já estuprou uma feminista?
Experimente!” Pacheco,
integrante do grupo capixaba RAP DELTA 9, em seu Twiter.
Hoje
me deparei com essas e outra dezena de ameaças e ofensas dirigidas,
principalmente, às mulheres que se reivindicam feministas. O Rapper Pacheco se
divertia com os amigos incitando seus seguidores a cometerem estupros e
agressões. Para eles tudo não passava de
uma brincadeira.
Não,
as declarações de Pacheco não eram brincadeiras. Refletem a cultura do estupro
e a misoginia que a nossa alimenta de forma naturalizada. As declarações de Pacheco
refletem o nível de tolerância da nossa sociedade com crimes cruéis como os que
vitimam nós mulheres. Crimes cometidos meramente por questões de gênero. As frases
do Rapper não são piadas engraçadas ou motivos de risos, são moralmente reprováveis,
além de serem tipificadas no Código Penal como apologia/incitação ao crime.
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena -
detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.
Mas,
ele não está sozinho nesse clubinho misógino. Em sua defesa viriam outras
pessoas que compartilham com ele o mesmo sentimento de ódio às mulheres. O que
antes era apologia ao crime, se converteu em ameaças e intimidação as feministas que estavam se manifestando contra as declarações claramente misóginas.
"Você quer ser feminista, seja.
Agora, minha jovem, se eu quiser ser satanás na sua vida, aceita também. Tá?"João Paulo Teixeira, integrante do grupo
DELTA 9
"Só
tiro na buceta".
João Paulo Teixeira, grupo DELTA 9
Para alguns integrantes do grupo e alguns amigos dos
autores dos comentários isso foi somente uma “zueira”. Reitero, isso não é brincadeira, ou coisa de
quem não tem o que fazer isso é a legitimação e a naturalização de um sistema
de opressão que mata.
Você
sabia que 11% das brasileiras com 15anos ou mais já foram vítimas de espancamento? De acordo
com estudo preliminar do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea),
estima-se que entre 2009 e 2011, o Brasil registrou 16,9 mil feminicídios
(mortes de mulheres por conflito de gênero), especialmente em casos de agressão
perpetrada por parceiros íntimos. Número condizente com uma taxa de 5,8 casos
para cada grupo de 100 mil mulheres. No período de 2001 a 2011, estima-se que ocorreram mais de 50 mil
feminicídios, o que equivale a, aproximadamente, 5.000 mortes por ano. O
Espírito Santo, estado dos Rappers autores dos comentários, figura como o
estado brasileiro com a maior taxa de feminicídios, 11,24 assassinato
(feminicídios) a cada 100 mil.
Dados contidos
no Anuário de 2013 revelaram o registro de 50.617 estupros. No entanto, segundo
Rodrigo Cavalcante, Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para as
Mulheres (CEPAM), do Gabinete do Governador do Ceará, os números de estupros aqui
no nosso Estado podem ser até três vezes maiores, pois somente uma a cada três
vítimas denuncia a agressão. Se a proporção for mantida no País, teríamos tido
de fato 151 mil casos de estupros em
2012, o que revelaria uma realidade ainda mais cruel do que a demonstrada
pelos números registrados, que por si só já são alarmantes.
Apologia
ao estupro e agressão é brincadeira? A realidade dos fatos não nos permite aceitar
que se trata de uma brincadeira. A violência contra a mulher é um problema
sério de segurança e saúde públicas. E todas as formas de violências contra a
mulher tem relação com a naturalidade com que a sociedade trata o problema,
sempre de forma banal e em tom de piada. Mas nós não aceitamos mais viver sob a
ameaça. Não aceitamos mais sermos estupradas, agredidas, desrespeitadas, tratadas
como cidadãs de segunda categoria. Também não aceitamos pedidos de desculpas de
rappers ou de quem quer que seja que ficou com medo da repercussão e dos
resultados que esta terá sobre suas vidas.
Não aceitamos desculpas porque quem
vive com medo somos nós, porque as vítimas preferenciais dos estupros somos nós
mulheres, porque somos nós que somos mortas dentro de nossas casas por aqueles
que deveriam ser nossos companheiros. Porque somos nós que somos assediadas
dentro dos transportes públicos. Porque somos nós as vadias expostas na
internet e que recorremos ao suicídio por não suportamos a vergonha. Não quero
desculpas, quero que respondam a processos por apologia ao crime e ameaça. Queremos
que a polícia encontre a sua 9 mm e o prenda por porte ilegal de armas, quem
sabe essa medida salve alguém de assassinato. Queremos que as leis os obriguem
a compreender que a misoginia pode leva-los a cadeia e causa-los sério problemas.
Quem sabe vocês dois e outros compreendam que não vivemos num país sem lei e
que seus atos têm consequências e finalmente aprendam a respeitar as mulheres.
“Presta
bastante atenção, João
Paulo Teixeira.
O que você fez chama-se apologia ao estupro. Isso é crime. Não é brincadeira.
Você inclusive fala que vai usar uma 9mm contra as mulheres que denunciaram o
Pacheco. Mais do que ofender, você ameaçou mulheres, ao dizer que ia dar tiros
em suas bucetas, que se fosse se envolver, "era pra resolver". Chegar
aqui e simplesmente pedir desculpas é pouco, muito pouco. A seriedade de suas
ações estão sendo avaliadas por muitas feministas pelo Brasil todo. Mas, por
mim, eu não aceito seu pedido de desculpas. Não aceito pedido de desculpas de
gente que endossa agressão verbal sobre estupro e ameaça mulheres. E não
considero esse pedido de desculpas como verdadeiro.” Mariana Santos, integrante do Coletivo Das Lutas.
Printagens dos comentários cedidas pelo Coletivo Das Lutas
NOTA DE REPÚDIO ÀS
DECLARAÇÕES MACHISTAS E MISÓGINAS DE “PACHECO” (DELTA 9)
O Coletivo Femenina e o Coletivo DasMina vem a público manifestar repúdio veemente às manifestações machistas e misóginas do cantor Pacheco (Delta 9) em redes sociais.
O Coletivo Femenina e o Coletivo DasMina vem a público manifestar repúdio veemente às manifestações machistas e misóginas do cantor Pacheco (Delta 9) em redes sociais.
Observamos nos últimos dias, principalmente no dia 13 de setembro declarações
extremamente misóginas direcionadas ao movimento feminista de Vitória publicadas
por “Pacheco” em redes sociais. Em um primeiro momento (já bastante
preconceituoso e ofensivo) via twitter, “Pacheco” ameaçou chamar um
"bonde" para estuprar as feministas no evento “VIRADA CULTURAL DO
RAP” (em 13 de setembro), afirmou gostar de oprimir feministas e em seguida
publicou em sua página pessoal que satirizou, satiriza e jamais deixará de
satirizar o movimento feminista por considerá-lo "obviamente babaca”.
Depois desta fala, Pacheco não parou e afirmou que desrespeitar o feminismo não
significa desrespeitar mulheres. Lamentamos os comentários que apoiam tal
comportamento e declaramos repúdio total e irrestrito ao discurso de “Pacheco”,
que ecoa ódio às mulheres.
Sabemos que vivemos machismos cotidianos e que isso se expressa também nos movimentos sociais e culturais. O machismo só existe porque é culturalmente aceito. Porque ele é repetido à exaustão como algo inofensivo e, assim, normalizado, invisibilizado. Nós, mulheres, somos agredidas todos os dias pelo simples fato de sermos mulheres. E enquanto houver uma cultura de tolerância e de aceitação dessa violência, nós vamos continuar morrendo, sendo estupradas e silenciadas.
É preciso que estejamos atentxs aos preconceitos e misoginia veiculados em discursos e apresentações culturais. Ainda que se considere que os discursos machistas de “Pacheco” sejam exceção, demandam atenção e respostas dos movimentos sociais, pois é justamente nos discursos naturalizados que as violências se afirmam. Em hipótese alguma estupros de feministas, mulheres surdas ou qualquer outro grupo devem ser considerados piadas, principalmente no contexto do estado com mais altos índices de feminicídios do país.
Reiteramos, aos machistas do passado e do presente, o nosso repúdio e afirmamos que enquanto mulheres se organizarem para o combate ao machismo, racismo e capitalismo neoliberal que classifica as pessoas e a vida em valores monetários, suas atitudes não ficarão sem resposta! Machistas não passarão!
Coletivo Femenina e Coletivo DasMina Presente!
1 comentário:
Oi, Ana! Sou repórter do jornal A Tribuna e vou fazer uma matéria sobre o caso do rapper Pacheco, que ofendeu as mulheres nas redes sociais. Como faço para falar com você? Meu email: hcamargo.tribuna@gmail.com
Obrigada,
Heloiza
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