terça-feira, 24 de setembro de 2013

Confissão: Eu matei a mulher que morava comigo.




Eu, que já não suportava mais olhar para aqueles olhos de desconfiança, não tive escolhas e cometi um homicídio.
Eu a matei por não suportar sua subserviência, suas maneiras delicadas de achar bonito o “psiu” a beira da rua.
A matei por rejeitar seu jeito sonso de se sentir lisonjeada com o “gostosa” dito por algum gaiato protegido por sutil anonimato.
Cometi o homicídio por acreditar verdadeiramente que essa mulher me traia ao propagar que toda mulher deveria estar sempre erotizada pra olhares masculinos.
A estrangulei por perceber que ela se insinuava pra se sentir desejada e por isso mais mulher.
Ela morreu porque achava que era normal o homem brigar por ela e sentir ciúmes quando ela saia sozinha.
Ela foi morta porque acreditava que a maternidade era dever de toda mulher e que ser mãe era o maior sonho de toda e qualquer mulher.
Eu a matei porque ela repetia que toda mulher é frágil e precisa ser protegida pelo seu companheiro. Além disso, pensava que o homem deveria sempre segurar a “onda” e nunca se fragilizar.
Matei-a porque ela dizia que todo homem tem de querer fazer sexo sempre que for instigado pela mulher.
Ela morreu porque achava que era da natureza do homem trair e que a mulher honesta não pensa em outros homens.
Matei-a porque ela achava que mulheres casadas não deveriam gostar muito de sexo e, menos ainda, assumirem publicamente que gostam de sexo...
Matei a Ana Eufrázio sexista pra que eu fosse livre e pudesse viver plenamente minha feminilidade.


Por Ana Eufrázio.


Imagens:http://www.blogdailha.org/itaparica/wp-content/uploads/2011/07/vergonha_na_cara.jpg
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