Não tive
muito boas relações com as escolinhas onde estudei, se na primeira eu morria de
medo de fantasma, na segunda escola fiquei com medo de homens barbados. A
escolinha onde estudava me parecia ambiente mais alegre e acolhedor que a
primeira, e assim como a anterior, ficava próximo a minha casa e também não era
um prédio escolar. Estava instalada num sítio bem arborizado, tinha muro baixo,
pintado à cal, com um largo portão de ferro. A casa era enorme, tinha muitos
quartos e uma cozinha ampla com fogão a gás e à lenha, ficava um pouco afastada
da rua e era toda rodeada por alpendres. Descendo em direção leste
encontrava-se uma lagoa. Nossas aulas aconteciam sob os alpendres debruçados
sobre três longas mesas cujos assentos eram compridos bancos de madeira. Embora
as pessoas e o ambiente parecessem mais familiares, foi traumático
frequenta-lo. Não tenho noção de quanto tempo permaneci tendo aulas nesse
sitio, sei que tinha uns seis anos.
Lembro-me
de certo dia ir até lá sozinha, tinha perto de 7 anos, e entrar correndo a
procura da minha professora. Numa das salas encontrei seu irmão, ele me chamou
e logo que me aproximei ele me agarrou por trás. Penso que ele me atacou na
hora que virei ás costas pra ir embora. Não sei bem ao certo, mas imagino que ele pôs o
pênis pra fora e ficou roçando nas minhas costas enquanto passava as mãos pelo
meu corpo. Fiquei em pânico, foi uma experiência muito ruim. Lembro que chegou
alguém e que ele imediatamente me largou. Sai correndo desesperada pra casa,
senti um medo fora do comum. Não tenho recordações de como se processaram os
dias seguintes ao assédio, recordo bem que me recusei a continuar frequentando
às aulas e que me sentia muito culpada, quase cúmplice do meu agressor. Durante
um bom tempo esqueci esse episódio, somente depois de encontrar a sobrinha
dele, anos atrás, veio a minha cabeça um filme daquele homem roçando a barba no
meu pescoço e o esfrega-esfrega dele em meu corpo. Acredito que foi depois
desse abuso que passei a sentir nojo de homem de barba. Eu simplesmente tenho
asco de homens peludos, prefiro os imberbes. Por causa do assédio eu resolvi
não voltar à essa escolinha.
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