Ainda estamos no começo do começo do ano
e já temos quatro casos de violência contra a mulher de grande repercussão.
Enquanto isso, me desdobro nas redes sociais debatendo a
existência do machismo, embora saiba que é praticamente inútil, por dois
motivos: os machistas vão continuar negando sua existência e com alguns
ignorantes a discussão desce ao nível que se torna intolerável seguir a
adiante. Outro dia li uma frase interessante “discutir com um ignorante é uma tarefa
comparável a jogar xadrez com um pombo: você pode fazer todas às jogadas
corretamente e explicar tudo impecavelmente, o pombo vai derrubar todas as
peças e defecar no tabuleiro.”
Apesar da árdua tarefa de denunciar o
machismo às vezes me parecer infrutífera penso que não dá para fingir que ele
não existe, até mesmo porque estão sendo assassinadas mulheres diariamente por
essa cultura cruel e desumana. Por isso não desisto, porque tenho certeza que
muitas pessoas se sensibilizam com o tamanho da vulnerabilidade da qual somos
vítimas. Como coloquei acima, começamos o ano muito mal, logo na noite de
réveillon uma mulher sofreu uma tentativa de enforcamento.
O pedreiro, Adilson Rufino Silva, de 34
anos, por suspeitar que sua esposa, a doméstica Rosilene Azevedo, de 37 anos,
estava olhando pra outro homem tentou enforca-la por meio de um golpe conhecido
por gravata. A tentativa de enforcamento ocorreu em plena Avenida Nossa Senhora
de Copacabana, próximo à Rua República do Peru. Após pedidos de socorro a policia
tentou intervir. No entanto, a tentativa de imobilizar o agressor, pelo
tenente-coronel Ronald Santana (19º BPM Copacabana), que teve sua arma roubada
pelo pedreiro, resultou em tiroteio. Além do militar, que ficou ferido na
perna, mais 11 pessoas ficaram feridas.
Ainda dia 1º uma estudante de 24 anos, Nívea Araújo, foi jogada do
terraço de sua casa supostamente pelo ex-noivo, Leonardo Carvalho de Oliveira.
Leonardo, se entregou na 73ª DP (Neves) na noite do
sábado último. Em depoimento, o acusado,
“...que é
funcionário terceirizado da Petrobrás, manteve a versão de que a jovem teria
ingerido álcool durante a festa de Réveillon, se desequilibrado no terraço e
caído. Segundo investigadores, a versão não se sustenta, pois ele não soube
explicar porque o quarto da jovem estava destruído e com marcas de sangue. Pesa
também contra ele, imagens de câmeras de segurança de uma casa vizinha que
mostram Leonardo circulando pelo local antes da chegada de Nívia e abordando o
motorista que a conduzia. Ele teria escalado um muro para invadir a residência...
De acordo com a delegada Norma Lacerda, não há dúvidas de que Leonardo tenha
sido autor do crime... o depoimento do suspeito apresentou várias contradições:
Leonardo afirmou que teria sido Nívia que ligou pra ele na noite do Réveillon
enquanto ele estava em Saquarema, e teria pedido que o ex-noivo fosse até sua
casa. Porém, amigos da jovem, que a deixaram em casa de carro na noite do
crime, afirmaram que Leonado teria ameaçado Nívia durante toda noite através de
ligações e mensagens pelo celular. No registro de ocorrência feito pelo
suspeito, ele diz que Nívia teria caído do terraço quando tentava pegar roupas
no varal. Desse vez, Leonardo apresentou outra versão dizendo que a estudante
se jogou(SIC). Quanto aos hematomas no corpo da jovem, que segundo a polícia
não foram provenientes da queda, Leonardo não soube explicar. Em relação as
marcas de sangue no quarto da vítima, ele diz que o sangue seria dele, que
teria se cortado ao tentar segurar Nívia e que teria sido nesse momento que o
vestido da estudante teria rasgado.” O Dia.
Sexta-feira
última a vendedora Alessandra Alcântara Isaac, de 21 anos, sofreu uma tentativa
de assassinato no Shopping Tijuca, Zona Norte do Rio. Alessandra foi esfaqueada
nas costas (foram seis facadas) enquanto aguardava o shopping abrir. Mesmo
ferida a vítima conseguiu informar aos policiais militares que fora agredida
pelo ex-namorado, Pierre Alexandre Inácio da Silva, de 40 anos. Na fuga, Silva
deixou cair uma mochila com documentos pessoais e um certificado de conclusão
em um curso de lutas. Silva teria agredido Alessandra porque não se conformava
com o rompimento do relacionamento.
Durante a tarde de ontem o
corpo de Janaina da Silva Evangelista, de 25 anos, foi enterrado em São Paulo.
Ela foi morta pelo próprio noivo no Jardim Oratório, em Mauá, na Grande São
Paulo, na noite da última segunda-feira. Sandro Sales Silva teria matado a
noiva, Janaína, após uma briga causada por ciúmes.
“Vizinhos viram Sandro entrar na residência de Janaína durante a tarde,
permanecer por 40 minutos e sair apressado. A casa fica no Jardim Oratório. O
corpo de Janaína foi encontrado pelo pai já no final da tarde. À noite, Sandro
foi preso após confessar o crime a policiais do 1º Distrito Policial do
município, segundo eles relataram. Disse ainda que Janaína o atacou com uma
faca e que ele apenas se defendeu. De acordo com o delegado que investiga o
caso, José Carlos de Melo, o fato de Janaína ter sido encontrada com marca de
facada nas costas indica que ela teria sido surpreendida pelo tapeceiro. Sandro
afirmou em depoimento que vai se manifestar apenas em juízo. Ele foi indiciado
e vai responder por homicídio qualificado (motivo fútil). O corpo de Janaína
estava debaixo da cama em um dos quartos da casa. Sobre o colchão estava a faca
que teria sido usada no crime. O pai da jovem afirmou aos policiais que
estranhou ter encontrado a porta de casa trancada e que precisou de ajuda de um
vizinho para cortar um cadeado. Disse ainda que Janaína e Sandro costumavam ter
discussões por ciúmes... A confissão ocorreu apenas os policiais pressionaram,
questionando Sandro sobre o paradeiro de seu veículo para uma investigação de
possíveis vestígios relacionados ao crime e relatando ao tapeceiro o testemunho
feito pelos vizinhos.” G1.
Por conta da morte dessas mulheres e de muitas
outras que não chegaram aos noticiários, sinto-me impelida a continuar nessa
enfadonha discussão, que vez por outra sai do campo ideológico e respinga na
minha vida pessoal, com comentários que buscam atingir minha integridade e me
constranger. Mas a cada ataque, seja a minha dignidade ou minha condição de
mulher, o machismo se revela e cada vez mais intolerante. O machismo que ataca a
integridade da mulher é o mesmo machismo que mata, que não aceita que a mulher
se permita estar com outros homens, é o mesmo machismo que estupra e que
oprime. Por isso essa cultura deve ser severamente combatida, para que as
mulheres tenham liberdade, inclusive de escolha.
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