Aprendemos
quando criança a sonhar com castelos, príncipes encantados montados em cavalos
brancos, com um beijo de amor que nos acorda de um longo e enfadonho sono. Somos
embaladas com histórias sobre fadas que transformam abóboras em carruagem e
ratos em guiadores destas. Temos as fadas que nos levam os dentes e as que com
o toque de sua vara de condão nos fazem voar. Temos o Papai Noel que se desloca
quase do fim do mundo pra nos presentear na noite de Natal. Dormimos acreditando
que os duendes estão vigiando o jardim para que nenhum mal possa invadir a
nossa casa. Acreditamos em poderes secretos e super-poderes.
Durante
a adolescência passamos a acreditar que a posição dos astros no dia do nosso
nascimento pode interferir e definir como será o nosso dia e nosso
comportamento. Também acreditamos que as linhas das nossas mãos poderão nos
dizer tudo sobre passado, presente e futuro. Até acreditamos que nosso destino
está escrito nas cartas do tarô. Quando nos apaixonamos somos levadas a crer
que Mãe Joana traz nosso homem de volta em três dias. E vamos amadurecendo e
passamos a acreditar que topar com gato preto ou passar por baixo de escada dá
azar. Somos levados a crer que carregar um galho de arruda nos livra do azar e
um trevo de quatro folhas nos trás sorte. Acreditamos que cruzar o réveillon de
branco nos trará paz, de amarelo nós trará dinheiro e de vermelho amor pra o
ano inteiro.
Ao
que parece, somos condicioanadas desde cedo a acreditar, acreditar e acreditar.
Então fica fácil crer que a Gisele Bündchem não faz dieta – não morre de fome –
para manter o seu peso, e que ela usa Pantene, nada mais além disso, para
manter aquele cabelo espetacular. Também faz todo sentido acreditar que Suzana
Vieira, mesmo após os 70 anos, não tem uma celulite. Alias, tem as pernas
lindamente fantásticas como aparecem nas revistas. Também é muito fácil acreditar
que a Madona tem um rostinho lisinho, sem nenhuma ruga e nenhuma plástica.
Por trás
da indústria da beleza há outra indústria que trabalha incansavelmente para nos
iludir, a indústria da magia, que transforma sonhos em realidade. Somos diariamente
bombardeadas por centenas e milhares de estímulos que nos fazem desejar. Somos por
essência seres desejantes e para nos instiga-los basta nos estimular os olhos e
os ouvidos, de resto o cérebro inventa. Nada
melhor pra embalar nossos sonhos de juventude eterna, do que ver corpos e
rostos perfeitos dos nossos ídolos estacionarem no tempo e exibirem belezas irretocáveis.
Será? Vejam o vídeo abaixo e me digam o que acham do poder de manipulação da TV
e seu ilusionismo.
Todo
o sistema midiático conhece bem a nossa capacidade de acreditar e a partir da
nossa credulidade nos manipula. O ilusionismo midiático nos mostra o quanto
estamos a aquém das celebridades. Somos apenas pobres mulheres naturais, e por
isso somos levadas a infelicidade e a depressão. Acordamos com olheiras, com os
cabelos desgrenhados e com mau hálito depois das nossas inúmeras e relaxantes
noites de sonhos. Temos celulite, estria e gordura localizada, e tudo isso é
resultado das cervejadas, feijoadas e dos churrascos com a família e os amigos,
e/ou da fantástica experiência de maternar. No rosto temos marcas de todas as experiências
que vivemos, dos nossos sorrisos escancarados, dos choros de emoção ou de olhar
o sol nascer e se pôr. E até mesmo os nossos lindos ídolos são como nós, meros
normais, no entanto, elas sempre aparecem com suas aparências maravilhosas
porque a fada com a varinha de condão, a mesma que atuou no vídeo acima, as
deixa esplendorosas. Quer saber por quê? Porque ninguém quer consumir a imagem
de uma mulher comum, e mulheres comuns todas somos. A magia está em nos mostrar
um modelo desejável, ou por melhor dizer, um modelo vendável, muito embora não atingível.
A beleza eterna e perfeita é o príncipe encantado, a fada do dente, o lobisomem,
o Papai Noel...
1 comentário:
Nós que fazemos parte dos movimentos de Mulheres,movimento de rádios comunitárias, há tempos que se discute a necessidade de mudanças no sistema midiático em nosso país de forma a garantir a liberdade de expressão e o direito à comunicação de todos e todas, e não apenas daqueles que detêm o poder político ou econômico e a propriedade dos meios de comunicação em massa. Historicamente, combatemos a mercantilização de nossos corpos e a invisibilidade seletiva de nossa diversidade e pluralidade e também de nossas lutas. Denunciamos a explícita coisificação da mulher na publicidade e seu impacto sobre as novas gerações, alertando para o poder que esse tipo de propaganda estereotipada e discriminatória exerce sobre a construção do imaginário de garotas e garotos. Defendemos uma imagem da mulher na mídia que, em vez de reproduzir e legitimar estereótipos e de exaltar os valores da sociedade de consumo, combata o preconceito e as desigualdades de gênero e raça tão presentes na sociedade. Para isso acredito na urgência de um novo marco regulatório ,uma mídia efetivamente plural e democrática para a consolidação da democracia brasileira, baseado nos princípios constitucionais do respeito aos direitos humanos e à diversidade de gênero, étnico-racial e de orientação sexual.A luta é árdua por que precisamos mudar o sistema político brasileiro.Rosa Gonçalves Rádio Comunitária de Independência -ACORDI -Conselho e da Rede de Mulheres da AMARC.
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