segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Outras formas de amar



Estava tentando acompanhar o desenrolar das investigações da tentativa de assassinato de uma garota por seu companheiro, como sempre faço, quando me deparei com mais uma notícia inusitada e revoltante, o feminicídio de uma garota de uma garota de 13 anos.
 
Procurava novas informações sobre a tentativa de homicídio abaixo

“Um homem de 31 anos atirou contra a namorada, de 29, e em seguida tentou se matar enquanto dirigia um veículo em uma rua de Luziânia, cidade goiana do Entorno do Distrito Federal. O carro só parou ao colidir contra uma casa. O acidente aconteceu na madrugada desta quarta-feira (15). Segundo parentes informaram à Polícia Militar, houve uma discussão entre o casal e, na porta do apartamento do homem, ele efetuou um disparo contra a namorada, que foi atingida no ombro. Depois, o autor saiu no veículo com a vítima e trafegou por cerca de 1 km, quando disparou contra a própria cabeça. Sem controle, o veículo invadiu a calçada e bateu contra uma casa. O casal foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado ao Hospital Regional de Luziânia. Depois, foi transferido ao Hospital de Base, em Brasília. De acordo com o hospital, o homem está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em estado grave. Já a mulher está consciente e estável. Segundo o médico intervencionista do Samu, Marcelo Andreoni, que fez o socorro do casal, a namorada permaneceu consciente durante todo o trajeto até Brasília. "O tiro atravessou de um ombro ao outro, perfurando a coluna", afirma. Segundo Andreoni, é grande o risco de que ela tenha sequelas.” G1.
 
Não consegui mais informações sobre a vítima, se está bem, se o prognóstico de que teria sequelas se confirmou, até mesmo porque não foram divulgados nomes. Mas enfim, eis que vejo a manchete informando duplo assassinato cometido por um jovem. Fui ler a notícia por se tratar de crime motivado por ciúmes. Tão grande foi a minha surpresa ao saber que a garota vítima era quase uma criança.

“Um jovem de 18 anos matou a ex-namorada e um amigo dela com golpes de faca em Itapuranga, a 166 km de Goiânia, na noite de segunda-feira (13). Segundo a Polícia Civil, Kemily Andrielle Maia Freire, de 13 anos, e Eduardo de Camargos Oliveira, de 22, foram assassinados quando saíam de um grupo de oração junto com um casal.  O suspeito está foragido e é procurado pela polícia. De acordo com a delegada de Itapuranga, Giovana Sas Piloto, o duplo homicídio ocorreu por volta das 22h30, no Centro da cidade. O suspeito e a vítima namoraram por três meses e se separaram recentemente, mas o jovem não teria aceitado o rompimento. O rapaz acreditava que Eduardo seria o novo namorado da ex e, com ciúmes, os teria matado. G1.  

Custo a aceitar que uma menina seja vítima de feminicídio. Como compreender que uma criança tenha sua vida brutalmente ceifada aos 13 anos de idade? Que espécie de sociedade é essa nossa que não percebe que esse modelo de “amor” está errado? Está tudo errado. Não se concebe que três garotos se envolvam numa tragédia como essa. Não consigo imaginar que a vida de três jovens tenha esse final, dois mortos e um preso, simplesmente porque estamos completamente rendidos a uma cultura machista que no frigir dos ovos vitima homens e mulheres. Naturalmente, perde infinitamente mais quem perde a vida e os seus familiares, tanto que eu seria incapaz de mensurar a dor dessas duas e tantas outras famílias. Mas, enquanto sociedade, perdemos nós também, não só com as mortes como também com a perda de uma vida pra o crime e com os gastos pra tentar ressocializar esse jovem. Também não há como negar o impacto que a conduta do assassino teve em sua própria família. Tem-se mais uma mãe, e outros familiares, que terá de se submeter a via crucis para poder visita-lo no presídio aos domingos. É sempre a mãe que sofre mais, ela vai sofrer a humilhação e ser constrangida nas filas, ao se despir nos locais de revista, no dia-a-dia com os olhares incriminadores por ter um filho marginal, por não ter sabido educa-lo...

É um engano pensar que quem perde com o machismo é somente a mulher, toda sociedade paga o preço por essa cultura homicida. Somos nós quem pagamos por manter o sistema carcerário, somos nós quem pagamos as pensões, as aposentadorias por invalidez provocada pelo machismo. No entanto essa é a menor conta que pagamos em decorrência da cultura machista. O maior prejuízo que temos é perda de vidas, seja a que morre, seja a que tem de prestar contas com a justiça. 

E aí eu me pergunto, estamos criando nossos filhos pra que? Para se tornarem agressores de mulher, e quiçá assassinos? Ou pra serem mortos pela intolerância? Precisamos rever muitas das nossas posições. Precisamos compreender que somos livres, homens e mulheres. Precisamos entender que amar é acima de tudo apreciar o voo do pássaro e mantê-lo afastado da gaiola. Precisamos reinventar a nossa forma de amar. Não precisamos desse “amor” que sufoca, que não sabe viver longe, que não admite que o outro tenha vida própria. Temos que inventar outra forma de nós relacionarmos em todos os aspectos, respeitando o outro e sua autonomia, respeitando inclusive seus defeitos, sendo compreensivo, sendo companheiro, se engajando nos projetos do outro, compartilhando de verdade. Só a partir do olhar o outro com empatia poderemos construir uma nova forma de amar.

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