Um
depoimento postado ontem no site Yahoo me chamou a atenção,
"Uma declaração
sobre os acontecimentos de segunda-feira... Eu postei uma foto via wi-fi porque
era a única forma de pedir ajuda. Eu não tinha um telefone para ligar para
ninguém... nenhum serviço de celular... apenas wi-fi. Eu só queria ajuda...
para não morrer numa poça do meu próprio sangue no chão da cozinha. Sou grata
por toda a ajuda... preocupação... e o que a humanidade tem mostrado para mim.
Há tantas declarações negativas sendo feitas... juntamente com as positivas...
seguidos de notícias. Cada um na sua. Tempo para descobrir o que vale a pena
sempre. Bênçãos."
Essa
declaração é um retrato fiel da violência que vitima mulheres em todo o mundo. O
depoimento foi escrito por Susann Stacy, de Kentucky, nos Estados Unidos, que
foi brutalmente atacada pelo marido. Susann produziu uma selfie (foto feita de
si próprio) exibindo o seu estado no Facebook – machucada e ensanguentada – logo
após o seu espancamento, ocorrido na noite de segunda-feira, 30 de dezembro. A postagem pedindo ajuda, "Socorro, por
favor. Qualquer pessoa", conforme conta a vítima, pode ter salvo sua vida.
Imediatamente um de seus amigos na rede social acionou a polícia, que foi
salvá-la.
“De acordo com a imprensa internacional,
Donnie Stacy, o marido, a teria agredido após ouvir uma conversa dela com outro
homem ao telefone. Além da agressão, ele teria arrancado os fios de telefone
para que Susann não ligasse para a polícia. Machucada e também sem sinal no
celular, ela percebeu que tinha apenas sinal de wi-fi. Então, fez a foto para
pedir ajuda. Após a denúncia, o marido foi preso nos arredores da residência do
casal. A polícia local informou que a mulher teve sorte de alguém ter atendido
seu pedido de socorro.” Yahoo.com.br.
Segundo
informação do site, ela recebeu críticas por ter usado o Facebook para realizar
a denúncia e não fazer uma ligação direta para a polícia. Por conta disso, na
terça-feira, 31, Susann usou o Facebook novamente para enviar a mensagem
reproduzida acima justificando o uso da rede social para pedir ajuda, o único meio
do qual dispunha naquele momento.
Não me
surpreendem as críticas contra Susann, esta é uma prática pra lá de comum,
muita gente sempre busca um meio de culpabilizar a vítima de alguma forma, seja
por ter provocado, seja por não ter reagido, por estar no lugar errado, ou por
ter procurado ajuda de maneira errada ou ás pessoas erradas... As críticas são
usadas como um meio de manter as coisas como estão, manter a cultura da
opressão contra a mulher intacta, o que significa manter o poder do machismo intocado
ou, em último caso, evitar que saiamos da nossa zona de conforto e comecemos a nos
dar ao trabalho de pensar sobre a opressão contra a mulher e outro tipo de
sociedade. Pensar sobre outra forma de relação entre homens e mulheres é muito
trabalhoso, como também doloroso.
Não se
pode crer que a igualdade gênero seja uma concessão masculina, antes de disso,
é uma conquista feminina. Nós mulheres precisamos saber que enquanto formos tolerantes
com qualquer tipo de agressão, até a verbal, estaremos longe de conquistar a
igualdade entre gêneros. Porque as relações de poder estabelecidas dos homens para
com as mulheres pressupõem privilégios e ninguém renuncia voluntariamente (um
básico pleonasmo) a privilégios. Cabe a nós (meninas) nos tornamos solidárias
umas com as outras em qualquer caso de violência para que possamos reverter a
cultura da agressão às mulheres e opressão perpetrada pelos homens. Não nos
cabe julgar a forma ou a motivação da agressão, nem as soluções encontradas por
cada uma de pedir ajuda ou socorro. Também não nos interessa o que levou a
agressão, qualquer tipo de violência é condenável. Levamos anos de evolução
desenvolvendo a fala e a linguagem, evoluímos o suficiente para sermos capazes
de expressar nossos sentimentos, sem gritos, sem violência. Portanto, não seremos solidárias com a violência
e nem com os agressores. Precisamos pensar na sociedade do diálogo, da
expressão e principalmente da solidariedade entre as mulheres, somente a partir
disso começaremos a construir uma sociedade mais equânime entre gêneros.
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