domingo, 5 de janeiro de 2014

Eu só queria ajuda... para não morrer numa poça do meu próprio sangue no chão da cozinha



Um depoimento postado ontem no site Yahoo me chamou a atenção, 

"Uma declaração sobre os acontecimentos de segunda-feira... Eu postei uma foto via wi-fi porque era a única forma de pedir ajuda. Eu não tinha um telefone para ligar para ninguém... nenhum serviço de celular... apenas wi-fi. Eu só queria ajuda... para não morrer numa poça do meu próprio sangue no chão da cozinha. Sou grata por toda a ajuda... preocupação... e o que a humanidade tem mostrado para mim. Há tantas declarações negativas sendo feitas... juntamente com as positivas... seguidos de notícias. Cada um na sua. Tempo para descobrir o que vale a pena sempre. Bênçãos."

Essa declaração é um retrato fiel da violência que vitima mulheres em todo o mundo. O depoimento foi escrito por Susann Stacy, de Kentucky, nos Estados Unidos, que foi brutalmente atacada pelo marido. Susann produziu uma selfie (foto feita de si próprio) exibindo o seu estado no Facebook – machucada e ensanguentada – logo após o seu espancamento, ocorrido na noite de segunda-feira, 30 de dezembro.  A postagem pedindo ajuda, "Socorro, por favor. Qualquer pessoa", conforme conta a vítima, pode ter salvo sua vida. Imediatamente um de seus amigos na rede social acionou a polícia, que foi salvá-la.

 “De acordo com a imprensa internacional, Donnie Stacy, o marido, a teria agredido após ouvir uma conversa dela com outro homem ao telefone. Além da agressão, ele teria arrancado os fios de telefone para que Susann não ligasse para a polícia. Machucada e também sem sinal no celular, ela percebeu que tinha apenas sinal de wi-fi. Então, fez a foto para pedir ajuda. Após a denúncia, o marido foi preso nos arredores da residência do casal. A polícia local informou que a mulher teve sorte de alguém ter atendido seu pedido de socorro.” Yahoo.com.br.

Segundo informação do site, ela recebeu críticas por ter usado o Facebook para realizar a denúncia e não fazer uma ligação direta para a polícia. Por conta disso, na terça-feira, 31, Susann usou o Facebook novamente para enviar a mensagem reproduzida acima justificando o uso da rede social para pedir ajuda, o único meio do qual dispunha naquele momento. 

Não me surpreendem as críticas contra Susann, esta é uma prática pra lá de comum, muita gente sempre busca um meio de culpabilizar a vítima de alguma forma, seja por ter provocado, seja por não ter reagido, por estar no lugar errado, ou por ter procurado ajuda de maneira errada ou ás pessoas erradas... As críticas são usadas como um meio de manter as coisas como estão, manter a cultura da opressão contra a mulher intacta, o que significa manter o poder do machismo intocado ou, em último caso, evitar que saiamos da nossa zona de conforto e comecemos a nos dar ao trabalho de pensar sobre a opressão contra a mulher e outro tipo de sociedade. Pensar sobre outra forma de relação entre homens e mulheres é muito trabalhoso, como também doloroso. 

Não se pode crer que a igualdade gênero seja uma concessão masculina, antes de disso, é uma conquista feminina. Nós mulheres precisamos saber que enquanto formos tolerantes com qualquer tipo de agressão, até a verbal, estaremos longe de conquistar a igualdade entre gêneros. Porque as relações de poder estabelecidas dos homens para com as mulheres pressupõem privilégios e ninguém renuncia voluntariamente (um básico pleonasmo) a privilégios. Cabe a nós (meninas) nos tornamos solidárias umas com as outras em qualquer caso de violência para que possamos reverter a cultura da agressão às mulheres e opressão perpetrada pelos homens. Não nos cabe julgar a forma ou a motivação da agressão, nem as soluções encontradas por cada uma de pedir ajuda ou socorro. Também não nos interessa o que levou a agressão, qualquer tipo de violência é condenável. Levamos anos de evolução desenvolvendo a fala e a linguagem, evoluímos o suficiente para sermos capazes de expressar nossos sentimentos, sem gritos, sem violência.  Portanto, não seremos solidárias com a violência e nem com os agressores. Precisamos pensar na sociedade do diálogo, da expressão e principalmente da solidariedade entre as mulheres, somente a partir disso começaremos a construir uma sociedade mais equânime entre gêneros.

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