sábado, 29 de março de 2014

Estupradores fazem apologia ao estupro durante protesto contra machismo.

 
Uma enxurrada de comentários ofensivos e de INCITAÇÃO AO CRIME DE ESTUPRO, prática que por sinal é crime tipificada pelo código penal, inundou a página do Facebook criada para realização de um protesto contra as declarações de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” e que “Se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.

Art. 286 - Incitar publicamente a prática de crime,
Art. 243-D. Incitar publicamente o ódio ou a violência e
Artigo 287. Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime. (Veja aqui)

A finalidade do evento era promover uma sacudida na sociedade e mostrar que nós mulheres, principalmente as feministas, e alguns homens discordavam dessas premissas e que não íriamos aceitar o controle de nossos corpos por setores conservadores e reacionários da sociedade. Não se tratava da tentativa de “conscientizar nenhum estuprador” como alguns queriam colocar, pois O CRIME DE ESTUPRO NÃO TEM RELAÇÃO COM O COMPORTAMENTO DA MULHER, seja no seu modo de trajar ou em seus hábitos. Tem relação com as vivências do estuprador, seu caráter e seus instintos. Além de estar relacionado com as subjetividades do estuprador também há fatores que colaboram para que esse tipo de violação ainda ocorra sistematicamente, são eles; a permissividade ou tolerância da sociedade com crime e com o estuprador através da culpabilização da vítima, como ficou demonstrado na pesquisa, e a omissão do Estado em punir os agressores. Todas as outras alegativas são desculpas usadas para justificar o crime e punir e causar pânico entre as mulheres.

Anteontem já revelado minha preocupação com os índices que confirmavam a tolerância da sociedade com estupro: Em pesquisa, 65% dos entrevistados disseram concordar com a frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. E 58,5% concorda que se “as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.
Com relação a essa preocupação coloquei

“A leitura que faço desses números é que 65 % dos homens que me rodeiam são estupradores potenciais, e me preocupa mais ainda pensar qual a percentagem deles que são de fato. Não me surpreenderia que a percentagem se revelasse somente um pouco menor, haja vista a dificuldade que temos de convencer os homens de que Não é Não, como também na forma que somos observadas e agredidas nas ruas com piadas e falsos elogios, ou até mesmo através das mãos bobas nas ruas, dos encoxamentos nos ônibus e metrôs dos beijos roubados em meio à multidão.” Em Culpabilizaçãoda vítima de estupro é corroborada por pesquisa do IPEA.


Ontem, durante a realização do protesto virtual, minhas preocupações converteram-se em medo, poderia dizer que num sério pavor. Um evento que tinha a finalidade de escancarar nossa revolta contra o machismo converteu-se num chamamento ao insulto e à ameaças. Acabei por concluir que realmente temos um grande número de estupradores potenciais e de fato circulando entre nós. Não há nem como negar essa percepção, se temos anualmente registrado nesse país 50 mil estupros e se segundo estimativas esse número pode chegar a ser 3 vezes maior, isso significa dizer que temos aproximadamente 150 mil estupradores convivendo em sociedade livremente.
Vejam por você mesmos o conteúdo dessas “manifestações”.













Ajude-me a me identificar - copie e cole o meu perfil nos comentários ou o meu nome.



Gostaria de agradecer a Nádia Gene, que gentilmente me cedeu as printagens que revelam os absurdos manifestos acima. Um grande abraço Nádia.


quinta-feira, 27 de março de 2014

Culpabilização da vítima de estupro é corroborada por pesquisa do IPEA



Venho sempre falando de uma tal história de culpabilização da vítima pela violência que sofreu, de legitimação dessa violência pela sociedade, de conivência do Estado com a violência até que surge a seguinte pergunta: Mas o que significa tudo isso? Leiam a pesquisa abaixo para entender do que eu falo. 

Em pesquisa, 65% dos entrevistados disseram concordar com a frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. 

E 58,5% concorda que se “as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.
 
Dos entrevistados, 63% disseram concordar com a ideia de que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre membros da família”.

A pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 27, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir do estudo batizado de Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), foi realizada com a entrevista de 3.810 pessoas, residentes em 212 municípios, no período entre maio e junho do ano passado.

Entenderam o que significa culpabilização da vítima e o que é legitimação da violência pela sociedade?

Culpabilização da vítima é a crença de que o estupro é provocado, que a mulher instiga o homem a agredi-la, de que a exposição do corpo justifica a violência sexual, de a mulher se comporta de forma inadequada. Como se o seu corpo fosse um bem de público usufruto. Esse tipo de concepção é a fundamentação da barbárie, é a tentativa de tornar o desejo e a libido masculina um instinto incontrolável e que corpo feminino desperta no homem essa fera incontrolável. 

A leitura que faço desses números é que 65 % dos homens que me rodeiam são estupradores potenciais, e me preocupa mais ainda pensar qual a percentagem deles que são de fato. Não me surpreenderia que a percentagem se revelasse somente um pouco menor, haja vista a dificuldade que temos de convencer os homens de que Não é Não, como também na forma que somos observadas e agredidas nas ruas com piadas e falsos elogios, ou até mesmo através das mãos bobas nas ruas, dos encoxamentos nos ônibus e metrôs dos beijos roubados em meio à multidão. 

E voltando a questão dos trajes femininos como estopim dos estupros, houve uma época em que mostrar o tornozelo justificava o estupro, depois a exposição do joelho despertava o instinto selvagem masculino, depois a coxa, e hoje o que seria uma roupa sexualmente provocativa? 

Antes de pensar sobre, devo advertir aos desavisados de plantão que ainda há tribos que exercem a nudez como cultura e que nem por isso ocorrem estupros das mulheres e que em países árabes as mulheres usam burcas e mesmo assim continuam sendo estupradas...


Mas ainda resta saber o que o é tolerância do Estado com a violência;
Em 2012, somente no Ceará, foram registrado
  197 feminicídios.
  9.716 lesões corporais,
  24.500 ameaças e
  1.492 estupros.
Em contraposição
  Foram registrados 7.781 boletins de ocorrência
  Que resultaram em 2.019 inquéritos policiais
  E 2.435 medidas protetivas, 
  E apenas 348 prisões.

Se do universo de 35. 905 agressões apenas 348 dos agressores foram presos, mesmo tendo ocorrido 9. 716 lesões corporais e1492 estupros, sem contar com os feminicídios, não me restam dúvidas de que o Estado tem sido omisso em coibir a violência contra a mulher, e portanto, conivente com agressor e tolerante com o crime. 

Além dessa grave situação, há ainda a descrença no poder de polícia, das 527 mil tentativas de estupros ocorridas em todo país apenas 10% foram reportadas a polícia, informação divulgada no site Folha de São dePaulo. Do meu ponto de vista fica claro que nós mulheres não acreditamos na polícia. Como confiar numa polícia que não pune o agressor, como ficou claro a acima?

Infelizmente a pesquisa revelou a face de uma sociedade gravemente doente. Mostrou o quanto esse país ainda precisa trabalhar para proteger suas mulheres e tornar um país mais seguro e civilizado. Acreditar que o crime de estupro pode ser justificado, seja sob qual argumento for, demonstra que ainda estamos vivemos na idade das trevas, que simplesmente rasgamos os anos de esforço em construção de um conhecimento libertador, emancipador e transformador. Somos capazes de ir à lua, de fotografarmos moléculas e galáxias muito distantes, de perfurarmos milhares de metros abaixo do solo pra prospectarmos recursos naturais. E, no entanto, alguns homens sequer são capazes controlar uma ereção...    
  

 

O blog Amélia é a mãe! vai a TV

Na última sexta-feira tive a oportunidade de ir ao programa Compartilhando Ideias, da TV Fortaleza, sob apresentação do jornalista Dhanilo Ramalho, e direção de Ivelise Maia, para falar sobre minha atuação no universo feminista, bem como sobre esse blog. Tive a honra de participar da estreia da programação, que como o próprio apresentador descreve é “O programa de entrevistas mais intimista da televisão cearense”.  Afora o nervosismo, típico de quem estreia como atração de programa de entrevista na TV, e a sensação de que muita coisa ficou por ser dita e que outras poderiam ter sido omitidas, penso que a experiência além de expressiva foi extremamente gratificante. Afinal, me senti uma pessoa privilegiada por em tão pouco tempo de militância e de blog poder já ter meu trabalho reconhecido. Além disso, me senti muito feliz pela forma como a direção e a produção do programa me tratou. Queria agradecer diretamente o carinho da Ivelise Maia e de Dhanilo Ramalho que não pouparam esforços pra que eu me sentisse o mais à vontade possível sob os holofotes – embora tema que ficar à vontade em frente às câmeras seja uma tarefa que eu jamais possa executar. Mas, nervosismos, gafes e ratas a parte acho que me diverti um pouquinho com tudo isso, afinal, “luzes, câmera e valendo...” me parece tão surreal quanto uma brincadeira criança. De qualquer forma, acho que o nervosismo de tilintar os ossos das pernas e de ranger os dentes vai pintar uns cinco minutos antes do programa ir ao ar. Mas devo ressaltar que essa não é minha primeira experiência televisiva, já apareci no Fantástico durante ¼ de segundo, em 2004 (se não me falhe a memória), quando fui uma das responsáveis pela anulação do vestibular da Universidade Federal do Ceará por conta do vazamento da prova (depois conto essa história pra vocês). 


O programa vai ao ar nesta sexta-feira dia 28 às 21 horas


“Nesta semana a violência contra as mulheres abre a primeira edição do Compartilhando Ideias, comigo e a convidada Ana Eufrázio, blogueira e militante feminista.

O programa de entrevistas mais intimista da televisão cearense vai ao ar nesta sexta-feira, 29 de março, 21hs, na TV Fortaleza.

Canal 6 (Net)
Canal Digital 61.4
Internet www.cmfor.ce.gov.br/tvfortaleza.html "