Há algum
tempo atrás fiquei estarrecida com a notícia de que um garoto de 08 anos foi
impedido de se matricular numa escola por usar cabelo estilo black power, vejam
abaixo a notícia e a repercussão que foi gerada,
Ellen Oléria |
“A mãe de um aluno de 8
anos do Colégio Cidade Jardim Cumbica, em Guarulhos (SP), diz que a escola
constrangeu o seu filho e pediu que ele cortasse o cabelo, definido como
"crespo e cheio" pela diretora. A Polícia Civil abriu um inquérito
para investigar a escola por suspeita de negar matrícula ao aluno por causa do
cabelo. Segundo a polícia, o colégio foi notificado sobre o inquérito e o
responsável deve comparecer ao 3º Distrito Policial da cidade para dar
depoimento nesta segunda-feira (9). De acordo com Maria Izabel Neiva, o seu
filho foi chamado pela direção da escola em agosto para falar do cabelo. ‘Ele
não me detalha o que ela disse, só conta que teve muita vontade de chorar’,
afirma. Em seguida, o garoto começou a sofrer bullying dos colegas, que o
chamavam de ‘mendigo’ e ‘cabeça de capacete. A mãe então recebeu um bilhete no
caderno do aluno, dizendo que ele estava reclamando do cabelo, ‘que caía no
olho’, e pedia que fosse cortado. Em seguida, a mãe respondeu que não teria
como o cabelo do garoto cair no olho, já que não era liso, e que a direção a
convidasse para conversar sobre o assunto e não mandasse mais bilhetes. A
diretora então respondeu com um novo recado dizendo que o corte não era usado
pelos alunos do colégio. ‘Eu decidi, então, ir até lá pessoalmente e disse que
era um absurdo chamar uma criança para falar da sua aparência física’, diz
Maria Izabel. A diretora teria dito que o regulamento da escola não permitia o
uso de vestimentas ‘extravagantes’, fazendo uma referência ao cabelo do garoto.
‘Ela disse que um cabelo crespo e cheio não é adequado, e que atrapalha os
colegas de enxergarem a lousa". A mãe afirma que não havia motivos para
cortar o cabelo do filho, que é alto e sentava no fundo da sala. A diretora,
por sua vez, teria respondido que no próximo ano ‘poderia não chamá-lo para
fazer a rematrícula’. No último dia 3 de dezembro, Maria Izabel tentou
matricular o filho no 4º ano do ensino fundamental, para o ano letivo de 2014,
e foi informada de que não havia vagas. No mesmo dia, outras mães teriam
conseguido assegurar a vaga sem nenhum problema.[...] Ela então procurou a
direção da escola, soube que teria que entrar numa fila por vagas e registrou
um boletim de ocorrência no 3º DP de Guarulhos, que investiga o caso. Bol Notícias.
Um caso que também chocou a opinião pública, e acredito que ainda não deu tempo de nos esquecermos, foi o do menino Jaiminho, filho de
Niko, na novela Amor a Vida, que sofreu ameaça de ter cortado seu cabelo
em estilo black power simplesmente porque o autor da novela entende que uma
criança negra adotada por uma família branca e de classe média não poderia
manter o cabelo afro.
Não
demorou muito para que a Rede Globo de televisão voltasse a ser assunto nas
redes sociais ao ver-se envolvida em mais um caso polêmico envolvendo a comunidade negra. Através do domingão do Faustão pudemos perceber claramente evidenciada a cultura racista da sociedade brasileira e é
claro, na sua forma mais cruel, em “tom” de brincadeira, ao assistir o Fausto
Silva referir-se à Arielle Macedo como “aquela de cabelo de vassoura de bruxa”.
A agressão quase passou batida devido a rapidez com que falou.
“Sim, ele falou. Era
tom de brincadeira, mas em Rede Nacional. Não saiu em lugar nenhum a não ser em
um ou dois sites de notícias que não são os gigantes. Nada de UOL,
nada de Jornal O Dia, Terra, TV Fama, Rede Record, nada. Só
veículos de comunicação alternativa, blogs e páginas de Facebook. Numa fala
completamente despercebida, Faustão soltou naquele tom debochado (nada
engraçado) de sempre a frase "Aquela de cabelo de vassoura de bruxa",
ao falar sobre Arielle
Macedo, bailarina da Anitta
e nossa conterrânea, aqui de São Gonçalo. O caso é grave (ponto). Não só por se
tratar do "black power", mas vai além, o tom pejorativo da
brincadeira consegue ofender diversas pessoas que estão fazendo a transição
para o cabelo black ou as pessoas que já o possuem. Uma boa retratação pública,
já daria conta num próximo Domingão do Faustão, de no mínimo, respeitar e
assumir que falou MERDA. Não podemos ter apresentadores de TV, num domingo
(todas as idades em casa) de ibope alto, falando dessa maneira, tendo em vista
a representação estética que sua fala possui. Não vou nem mencionar o fato do
pouco número de negras no ballet do Faustão, Dança dos Famosos (atores e
bailarinos) ou no arquivo confidencial que de agosto do ano passado até hoje,
só teve 2 negros em 18 edições. A disputa vai além, vai na abertura de
apresentadores negros e de origem popular, vai na abertura da TV para
narrativas de negros e de origem popular e vai no entendimento de que um Black
Power não é só um cabelo, mas sim uma representação de identidade coletiva e
individual. Que ele peça desculpas em Rede Nacional e que um dia, todas as pessoas
com "Vassoura de Bruxa", como diz Faustão, tomem ainda mais a TV,
para que casos como esse, não sejam motivos de risada e sim de reorganização do
conteúdo da TV. Romário Régis.
Assista ao vídeo - G1.
Assista ao vídeo - G1.
Desenho de Felipe Heloi |
A
estereotipação da beleza feminina, e a tendência de estabelecer o padrão
europeu ariano com ideal de beleza, é uma das principais formas de opressão
contra a mulher, principalmente a negra. Apesar de beleza ser conceito subjetivo, e
como tal poderia variar conforme a cultura e até de indivíduo para indivíduo, “estabeleceu-se”
um conjunto de características que devem atendidas para que, principalmente, as
mulheres sintam-se bonitas.
Então,
a mulher negra, que já sofre a estigmatização
por sua cor, por sua condição de mulher, tem sua beleza negada por ter o
cabelo crespo e acaba por tornar-se refém do “mercado da beleza”. Não podemos negar que o negro vem
sistematicamente sofrendo pressão para que descontrua sua imagem natural. O cabelo
enrolado é apenas um dos aspectos do negro que “precisa” ser negado ou desconstruído.
Esse processo perpassa pela deculturação, através da discriminação dos cultos,
rituais, arte afro e outros. O mecanismo de supressão de identidade é uma
estratégia ideológica que não só tem a finalidade de oprimir, de segregar e dominar,
como também impede que o negro dispute em condição de igualdade com branco as
oportunidades de ascender socialmente.
A imposição
do cabelo liso como “referência” ou como “indicativo de zelo/higiene” ajudou a
consolidar a indústria da beleza como um dos segmentos mais lucrativos da
atualidade. São produtos da indústria do branco, que produz para o branco ter
lucro a partir da exploração do trabalho do negro que também consome seus
produtos.
Trote na UFMG |
Nesse
sentido o racismo serve bem a uma classe, a classe dominante, eminentemente
branca. E enquanto ele predominar, através da mídia e outras instituições
enfatizando que o cabelo afro ou black power é “vassoura de bruxa” ou “gente rica
não deixaria o filho com o cabelo em estilo afro”, a indústria da beleza irá
muito bem, obrigada.
3 comentários:
eu sofri demais na escola por conta do meu cabelo.
sempre me chamavam de assolan, de diarista, bom bril e essas coisas. pegavam no meu cabelo e fingiam se machucar, pediam pra eu varrer a escola com ele. era péssimo
aí comecei a alisar o cabelo. fazer relaxamento, chapinha, escova progressiva, inteligente, de chocolate, marroquina ou o que fosse.
só ano passado eu resolvi assumir meu cabelo natural
mas ainda tive que ouvir da minha própria família, antes de conhecer a família do meu namorado, que eu deveria voltar a alisá-lo porque tava parecendo uma mulamba e eles não gostariam de mim assim. chorei muito ):
mas não alisei e nem voltarei a alisar. amo demais meus cachos.
também respeito quem decide alisar o cabelo. entendo, na verdade.
já perdi as contas de quantas vezes fui dormir chorando e pedindo a deus que pra no dia seguinte eu acordasse de cabelo liso kkk parece bobagem, mas isso me afetou demais. grande parte da minha baixa auto-estima é por causa do que as pessoas falavam sobre o meu cabelo.
perdi muitas horas da minha vida e muita paciência tentando deixá-lo escorrido.
mas agora ficou tudo isso ficou pra trás.
pra ferir a minha auto-estima agora as pessoas têm que passar pelo escudo que virou meu cabelão volumoso, crespo e chei dos cachos
Aiiiii o povo ta muito cheiooo de nehnnhenehen ekaaaaaaa...tudo é ofensa tudo é bullying...geração doente isso sim!!! vivi em um período que falavam no colégio do meu cabelo estilo cuia (índio)filha do vento (por ser filha de mãe solteira) botijão (por ser gordinha) e nem por isso me matei ou matei alguém ou entrei em depressão, já que meus colegas viam essas características eu ria junto com eles e no companheirismo tbm encontrava suas características cebelo de bombril,nega do codó, olivia palito, seu madruga, mudo etc...riamos todos juntos dos termos pejorativos que dávamos uns ao outros ninguém arquitetou plano de matar ninguém,ninguém se ofendia e nem vivia em depressão...tudo era brincadeira e gargalhada...há vão crescer bando de doentes politizados do século 21.
Vão tomar no cu.. Tudo é racismo, nada é brincadeira.
Enquanto ficarem procurando preconceito e maldade principalmente em brincadeiras estarão contribuibdo pra gerar um pensamento de conflito nas pessoas.
Se fosse uma brancona, dos olhos claros e com o mesmo cabelo vocês fariam esse alarde? Não! Não fariam mesmo.
As pessoas tem características inegáveis, mas querem que sejam imperceptíveis. Um gordo não pode ser chamado de gordo, um alto não pide ouvir nada sobre sua altura, um negro não é mais negro, é algo como "afrodescendente" msm que a cultura afro não esteja presente no indivíduo, um asiático "não tem" olho puxado etc, mas o branco pode ser o "branquelo', "alemão", "vela" e por aí vai..!? Respeitar as características de todos não é negar, é reconhecer e não ter medo de assumi-las. Nunca deixaria de brincar com meus amigos e conhecidos sabendo que não estarei fazendo mal a eles.
Enviar um comentário