sábado, 5 de abril de 2014

Reação misógina a campanha virtual feminista

   
          





Dias após o inicio da manifestação contra o machismo, ou contra os 65% revelados pelo Ipea, a página do evento ainda ferve. E as agressões mais pesadas, ameaças de estupro e outras manifestações ofensivas que permeavam e tentavam boicotar o evento cada vez mais perdem força. Se a tentativa era esvaziar o protesto, nos ridicularizar – sim eu participei do protesto – nos amedrontar ou qualquer outra necessidade que obviamente não compreendo o tiro saiu pela culatra. Toda a hostilização nos encorajou e nos motivou a continuar, além de fazer com o evento ganhasse notoriedade – muito embora reconheça que a ofensiva machista nos tenha causado medo e, de alguma forma, um certo desalento – e que nossa voz ecoasse ainda mais longe. E um evento que estava restrito ao ambiente virtual está se convertendo numa manifestação que se propõe ganhar as ruas por todo o Brasil ainda essa semana.

A manifestação, assim como os protestos de junho, não é apenas por conta dos 65% (que acham que mulheres em roupas ousadas merecem ser atacadas) é contra o machismo, que culpa a vítima pelo estupro e contra os quase três quintos dos entrevistados, 58%, que concordaram, total ou parcialmente, que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. Isso sem levar em conta que a maioria das vítimas de estupros sofrem violência dos próprios pais, parentes, amigos conhecidos, ou seja, de conhecidos.
Soa bem estranho a frase "saber se comportar", premissa que por si só diz o que precisa ser dito, muito embora me sinta na obrigação de colocar que o “saber se comportar” é tão subjetivo que me remete a universo possibilidade, e antes de colocar as hipóteses que elaborei sobre o que seria esse comportamento (preventivo do estupro) eu coloco a pergunta: o que uma criança de 05 anos (a maioria, 50,7%, das vitimas de estupros no Brasil tinham menos de 13 anos) deveria fazer pra não "provocar" o estuprador. Então eu volto a pensar sobre o comportamento antiestupro e, a partir do dados apresentados anteriormente, penso que o comportamento ideal (que afaste qualquer possibilidade de estupro) seria se tornar homem, o que seria humanamente impossível. E mesmo assim os homens também são estuprados por outros homens, vejam os casos de estupros nas forças armadas do exercito americano – tanto de homens quanto de mulheres – os estupros nas cadeias, internatos, mosteiros e outros ambientes exclusivamente masculinos. (uma informação sem muita relevância, mas que quero deixar com vocês, mais de 20% dasveteranas do exercito americano foram abusadas sexualmente enquanto serviam). 
 
A campanha é contra o machismo que condena a sexualidade feminina, é contra o moralismo da sociedade que acredita que existe mulher pra casar e para transar, mais da metade dos respondentes concordou total ou parcialmente com a premissa “tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”.  É contra a misoginia, a cada ano (conforme o Ipea), no Brasil, 0,26% da população sofre violência sexual, o que indica que haja anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país, dos quais somente 10% são reportados à polícia. Em média ocorrem 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia (Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2012 -2013). No Brasil a cada 2minutos 5 mulheres são espancadas

O protesto é contra os milhares de anos de opressão e controle sobre o corpo feminino, quando o estado criminaliza o aborto e uma comissão de legisladores elaboram leis que favorecem a cultura de coisificação da mulher, quando entende que mesmo após o estupro a mulher deva levar a gravidez – resultante deste – adiante e em caso de doença a mãe não possa usar medicamentos que ponha em risco a vida do feto, procedimentos previstos pelo bolsa estupro, aprovado no início de junho, na Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados. O Estatuto do Nascituro é um Projeto de Lei PL 489/2007, de autoria dos ex-deputados Luiz Bassuma (PV-BA) e Miguel Martini (PHS-MG), que defende e dá direitos ao embrião, do período da concepção até o nascimento, além de instituir ajuda financeira a criança que nascer em decorrência de um estupro. 
https://www.facebook.com/blacklol10
É pela liberdade de mostrar o corpo se assim a mulher quiser, é pela liberdade de "dizer não", é pela liberdade plena.... É por uma centena de direitos que são violados diariamente, é pelo direito ao orgasmo, é pelo direito ao sexo, é um grito que foi sufocado por milhares de anos de opressão...

PS: Após a repercussão gerada pela divulgação da pesquisa sobre a pesquisa do Ipea o próprio instituto divulga nota informando que os dados divulgados estavam incorretos teor da nota foi divulgado em diversos sites.
“O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), do governo federal, divulgou nesta sexta-feira uma nota reconhecendo que houve erro na divulgação que chocou o país ao dizer que a maioria dos brasileiros (65,1%) apoia ataques a mulheres que mostram o corpo... Segundo o Ipea, por uma troca nos gráficos da pesquisa divulgada, o resultado divulgado está errado. Os percentuais corretos são: 26% concordam, total ou parcialmente, com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"; e 70% discordam, total ou parcialmente. Outros 3,4% se dizem neutros.” http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1435877-pesquisa-que-indica-apoio-a-ataques-a-mulheres-esta-errada-diz-ipea-so-26-concordam.shtml



 

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