Apesar
dos dados contidos no Anuário de 2013 revelarem o registro de 50.617 estupros
em 2012, esse numero pode ser até 3 vezes maior.
Um
substancial aumento de 18,17% em relação ao ano de 2011, e estão querendo nos fazer
acreditar que o aumento no número de casos esta relacionado ao encorajamento da vítima a fazer a denúncia, com a ampliação do
conceito de estupro, como também, a consequente expansão das potencias vítimas através
da nova lei de crimes sexuais .
No
entanto, acho pouco provável que um incremento tão substancial se deva tão
somente ao encorajamento da vítima ou a ampliação do conceito de estupro.
Porque pense comigo - imagine ter que se dirigir até uma delegacia para denunciar
um estupro (com penetração, violência física ou ameaça), descrever centenas de
vezes a violência, ter de se submeter aos constrangedores exames de praxe,
apontar o suspeito ou descrevê-lo (ou ter de encara-lo, o que acho pouco
provável, porque ele quase nunca é encontrado ou preso) - além disso, ter de encarar
os olhares de culpabilização ou de descrédito de alguns policiais e ainda assim
correr o risco de não ver o seu agressor ser punido.
Agora
imagine ter de enfrentar tudo isso porque alguém lhe apalpou forçadamente numa
fila de banco. Acho pouco provável que alguma de nós faça isso, não é mesmo?
Embora devamos.
Lamentavelmente,
continuamos sofrendo caladas os mais variados tipos de violência porque temos
medo de termos nossa credibilidade questionada, enfrentar todos os desnecessários
“procedimentos de praxe” e os mal preparados policiais. Então, não há como
tentar me convencer que o elevado índice de estupros se deve a ampliação do
conceito deste.
Também
não há como justificar o incremento nas denuncias através da promulgação Lei
Maria da Penha porque a estrutura de controle, combate e punição aos agressores
pouco mudou. Tampouco mudou a forma como a vítima é tratada pela sociedade,
pelo aparato policial e judicial.
Se
de 2011 para 2012 houve um incremento de 18% no número de registros, imagino
que isso se deva a vários fatores, tais como um real incremento no número de
casos, ao encorajamento das vítimas a denunciar sim, no entanto, levadas pelo
agravamento das agressões, que possivelmente tenham se tornado mais violentas,
como também pelo cansaço que nós mulheres estamos sentido dessa cultura de
tolerância com a violência de gênero, principalmente a sexual.
Aqui
no Ceará, somente em 2012, foram registrados 197 assassinatos de mulheres, 9.716
lesões corporais, 24. 500 ameaças
e 1. 492 estupros, somando 35. 905 agressões. Do universo de quase
36 mil caos apenas em 348 deles o agressor foi preso. O que
significa dizer que a punição dos agressores com prisão não chega a 1% dos casos,
pra ser mais precisa 0.97% deles.
Portanto,
se eu sei que vou me sujeitar a constrangimentos e, possivelmente, a
humilhações, e vou passar por tudo isso tendo em vista que o meu caso muito
provavelmente vai resultar em apenas mais um número nas estatísticas, porque
vou insistir em denunciar?
Segundo
Rodrigo Cavalcante, Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para as
Mulheres (CEPAM), do Gabinete do Governador, os números de estupros no Estado
podem ser três vezes maiores, pois somente uma a cada três vítimas denuncia a
agressão. Se a proporção for mantida no País, teríamos tido de fato 151 mil casos de estupros em 2012, o
que revelaria uma realidade ainda mais cruel do que a demonstrada pelos números
registrados, que por si só já são alarmantes.
As estatísticas
revelam uma situação extremamente preocupante: a tolerância com a violência e a
cultura do estupro. Se por um lado legitimamos a violência sexual através da
culpabilização da vítima, por outro, o Estado permanece cúmplice do agressor a medida que
deixa de puni-lo.
A sociedade
é conivente com a violência sexual quando estabelece estupros e “estupros de
verdade”. Segundo o senso comum, o estupro “verdadeiro” ocorre nos casos em que
a mulher é torturada, atacada na rua por um desconhecido armado, estava vestida
de forma “decente” e não se encontrava andando por lugar ermo e escuro. Do contrário,
a mulher mereceu, procurou, pediu pra ser estuprada e não merece credibilidade.
Essa é cultura do estupro e ela é propagada por homens e mulheres que ainda não
compreenderam que o estupro é uma violência grave, que o estuprador é portador
de alguma psicopatia, uma pessoa violenta, e a vítima em hipótese alguma deseja se submeter a
essa violência.
É sabido
que o homem, enquanto agressor e opressor, é o principal responsável pela violência
de gênero, no entanto a sociedade e o Estado são solidários com ele na medida
em que reproduzem o discurso machista, são tolerantes com as agressões, não
punem o agressor e convivem pacificamente com ele.
Seria
complicado esperar que somente por conta da indignação das vítimas e das
denúncias os agressores parassem de agir. É preciso lembrar que os
violentadores estão exercendo o seu poder e isto o coloca numa posição confortável.
Esperar que eles renunciem ao seu poder opressor, saiam das suas posições de
conforto e se solidarizem com a vítima é no mínimo ingenuidade.
É preciso
que o Estado pare de ignorar as estatísticas alarmantes e elabore campanhas de
conscientização sobre a gravidade deste crime e o caráter doentio, agressivo insociável dos indivíduos que os
comentem. Além disso é preciso implementar medidas educativas de combate ao sexismo, de efeito
em longo prazo, porém muito eficazes na mudança de paradigmas.
Mas
é preciso salientar que não há como barrar o aumento no número de casos, ou
melhor, a ocorrência desse tipo de crime, se não houver punições realmente
severas dos agressores e extinção da cultura do estupro. Aliais, essa é a medida fundamental para o combate a violência sexual.
A Presidenta
Dilma Rousselff está correta quando afirmou no Twitter, “A violência contra a mulher é uma vergonha
que a sociedade brasileira precisa superar. Para isso é necessário: o fim da
impunidade dos agressores, o combate implacável ao preconceito sexista, o
respeito às diferenças e o apoio e acolhimento às vítimas”.
Entretanto,
a Presidenta esqueceu-se de citar quais medidas práticas seriam tomadas pelo
seu governo no sentido de promover o combate a violência contra a mulher. Precisamos
que a Presidenta revele os projetos com as devidas ações que serão incrementadas,
revelando inclusive as metas que deveram ser alcançadas e os respectivos
prazos.
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