quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A violência contra a mulher e o assistencialismo



Em virtude das atividades referentes ao último dia 25, Dia Internacional de Combate a Violência Contra a Mulher, estive em Independência para apresentar a palestra "Violência de Gênero no Ceará e o Aparato Estatal Destinado a Defesa da Mulher". 

Então, no dia 26, postei uma mensagem de agradecimento a hospitalidade do povo independenciano e ressaltei a importância do movimento e da iniciativa dos envolvidos nas atividades. Bastou isso para que um amigo demonstrasse sua opinião a respeito da causa. 


Particularmente acho esse movimento muito importante para esclarecerem as mulheres vitimas de violência mas, eu acho que seria mais interessante e útil se vocês que estão à frente desse movimento ajudem mulheres/mães que foram abandonadas pelo os maridos e tem dificuldades de sustentarem os filhos, mulheres/mães solteiras, mulheres/carente materialmente que não tem trabalho, mulheres explorada em casa de família para ganhar seu sustento tudo isso é uma forma de violência. só palestas palavras não enche barriga de ninguém. Vocês deveriam já que estão vestindo essa camisa então tenham essa iniciativa faça o trabalho completo em arrecadar donativos para cestas básicas, arrecadar roupas semi-novas para as crianças dessas mães carentes. Vai aqui uma dica aproveitem já que está chegando o mês natalino façam cestas de natal e doe para essas mulheres tão necessitadas de tudo. Arrecade brinquedos para os filhos dessas pobres mulheres. Palestas e palavras se perde (sic) no tempo e sem ação não são nada, palavras sem caridade são mortas. Agindo assim será muito mais gratificante para você que está doando e para quem está recebendo. Não seja apenas uma líder feminista seja também um veiculo de ajuda para a sua semelhante divina chamada mulher. Feliz Natal!

Em parte, ele tem razão, um das principais dificuldades envolvendo o problema da violência de gênero é que grande parcela das vítimas são dependentes economicamente dos parceiros. No entanto, ele não assistiu a minha palestra, que antes de ser uma apresentação feminista foi informativa, de exposição de dados sobre a violência, sobre o perfil do agressor, da vítima, de cobrança ao fim da impunidade e, pasmem, tinha um cunho de incentivo a população para que cobrassem do poder público políticas de acolhimento a mulher em situação de violência

Ainda em visita a cidade, estive visitando o Centro de Referência Especializado de Assistência Social do município (CREAS), órgão responsável pelo acolhimento às vítimas de violência. No local, fiquei sabendo que os principais casos que são levados até eles são de idosos que sofrem violência patrimonial e física. Além de me informar sobre a atuação do órgão, coloquei algumas informações sobre casos de recusa policial ao atendimento de 4 vítimas de agressões. Sobre o caso, sugeri a denúncia a Ouvidoria da Polícia Civil, caso não houvesse resolução do caso, sugeri o encaminhamento a Corregedoria de Polícia. Também deixei a sugestão de que o CREAS, em conjunto com os movimentos de mulheres, marcasse uma reunião com o delegado da cidade para discutirem os procedimentos de atendimento as vítimas de violência domésticas. 
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Além disso, estive nas rádios da cidade passando informações para a população sobre os vários tipos de violência, informei as estatísticas alarmantes, os problemas gerados por ela, e ainda divulguei o disque 180 como mecanismo de informações sobre o que fazer em casos de violência e onde procurar ajuda. Portanto, acredito que minha colaboração ultrapassou o limite do "palestrar e falar sobre feminismo". 

As pessoas ainda não compreenderam que não vai ser uma cesta básica no período do Natal que vai mudar a realidade de muitas vítimas que sofrem violência. Até mesmo porque não são só as mulheres que dependem economicamente dos parceiros que são agredidas por eles. Mas talvez seja essa mesmo a intenção, o não rompimento que esse ciclo de agressões. 

Bem, mas continuando sobre as cestas básicas. Esse tipo de pensamento reflete bem o preconceito com a violência de gênero, as pessoas continuam acreditando que as relações violentas estão intrinsecamente ligadas a baixo poder econômico. Imagino que esse tipo de pensamento só pode partir de pessoas que não entendem o que é violência e quais as formas que ela pode assumir. No entanto, eu me sinto impelida a concordar que as mulheres mais pobres denunciam mais e por isso as estatísticas são mais elevadas nessa classe. Além disso, em comunidades ou em bairros pobres as pessoas e as relações estão mais expostas e os vizinhos acompanham mais de perto os problemas dos casais e por isso os casos de agressões estão à vista. Por outro lado, as mulheres da classe média escondem as agressões por vergonha ou por outros motivos.

Uma das vulnerabilidades da vítima é a carência econômica sim, isso não há como negar.  No entanto, pensar que o assistencialismo pode resolver essa questão é no mínimo ingenuidade. O que resolveria esse problema seriam medidas governamentais capazes de garantir a mulher autonomia. Ou seja, o governo precisa oferecer as mulheres qualificação, emprego, renda e creches para os filhos das trabalhadoras. Essas medidas poderiam ajudar a romper com esse ciclo de violência. O assistencialismo mais vitima do que liberta (embora, nesse momento, seja necessário).


É lógico que a vítima pensa duas, três, quatro ou dezenas de vezes antes de denunciar o marido quando ela precisa dele para garantir a sua subsistência e de seus filhos. Outra questão é; a mulher denuncia o agressor e não tem pra onde ir, ou levar os filhos, então ela vai ter de continuar convivendo com ele, é lógico que ela vai temer por retaliações e até mesmo por ser morta. Daí, não há como culpa-la por se sentir intimidada em romper com o ciclo de agressões. Seria preciso que o governo oferece abrigo e proteção para toda a família.

Apesar de compreender a dependência como um empecilho a denúncia, este não é o gatilho gerador da violência. A principal causa da violência contra a mulher é o machismo e o patriarcalismo, ou seja, uma cultura que ver a mulher como objeto e uma propriedade do macho, mas esse é outro assunto. - E dando continuação - A violência contra a mulher não é uma situação que aceita remendos ou improvisações, todos os dias são mortas 15 mulheres por conta do machismo, a cada hora 6 mulheres são estupradas, sem contar com as lesões corporais que só no Ceará, em 2012, foram 9.716 casos comunicados. De 1980 á 2012 foram assassinadas 100 000, isso mesmo, 100 mil mulheres, o equivalente a 2, 3, ou 4 vezes a população de uma cidade do interior. Estamos falando de um verdadeiro genocídio. 
 
Portanto, querer tornar o problema tão grave numa questão meramente assistencialista é de uma irresponsabilidade imperdoável. O assistencialismo, como sugerido, é uma medida que fomenta o processo de exclusão, humilhação, vitimização e subjugação e deixa a mulher ainda mais vulnerável à violência.

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