sexta-feira, 1 de novembro de 2013

PF desmantela esquema de tráfico internacional de mulheres



Por Ana Eufrázio



Após a operação Garina (menina na gíria de Angola), deflagrada na semana passada pela Polícia Federal (PF), foi revelado um extenso esquema de tráfico de mulheres para exploração sexual. A atuação da quadrilha era investigada há um ano até ser desbaratada na última quinta-feira, dia 24. A PF acusa um parente do presidente de Angola, general e empresário Bento dos Santos Kangamba, de chefiar o esquema internacional de tráfico de mulheres do Brasil para África do Sul, Portugal, Angola e Áustria.
Bento dos Santos Kangamba. Fonte: Voa - Voz da América. 

A PF suspeita que o esquema de tráfico e prostituição estivesse funcionando desde 2007 e que cerca de 1500 mulheres foram aliciadas pela quadrilha. Parte delas era atraída pela promessa de pagamentos, que poderiam chegar a 100 mil dólares por semana para fazerem programas de sexo no exterior. Nos últimos meses, policiais acompanharam o embarque de algumas delas, no Aeroporto de Guarulhos.

O delegado da Polícia Federal, Luiz Tempestini, à frente da operação, informou que a quadrilha aliciou mulheres com perfis diversos, de garotas famosas a mulheres carentes, e que algumas delas nem sequer sabiam que estavam indo para o exterior para trabalhar com prostituição.

Em média, cada mulher brasileira era obrigada a manter por volta de 15 a 20 relações sexuais por dia. A polícia revelou que há fortes indícios de que parte das vítimas tenha sofrido privação de liberdade, como também foram obrigadas a manter relações sexuais sem preservativos com os clientes. Para essas vítimas, os criminosos ofereciam um falso coquetel de drogas antiaids.

De acordo Tempestini, “A investigação começou através de uma fonte humana nossa que trabalha na noite paulistana. Chegou-nos a informação de que haveria um grupo que estava traficando mulheres para Angola. E o destino seria um grande empresário de Angola, conhecido como ‘Tio Bento’, e ele é patrocinador de clubes de futebol, grande empresário, político e deputado federal, antigo brigadeiro da Aeronáutica e casado com a sobrinha do Presidente da República”. DW África

Durante as investigações a PF descobriu que as mulheres eram aliciadas em casas noturnas paulistanas no bairro de Indianópolis, Zona Sul de São Paulo, mediante acordo de pagamento de 10 mil dólares por semana para se prostituírem com clientes de alto padrão econômico. Já as modelos e capas de revistas masculinas ou as participantes de programas de TV recebiam até 100 mil dólares para se relacionar sexualmente com o general. Segundo o delegado Tempestini, as mulheres sofriam abusos sexuais às mãos de Kangamba, que as colocava também à disposição de parceiros de negócios e amigos.

Na Operação Garina, deflagrada nesta quinta-feira, a Justiça concedeu a (mandado de - grifo meu) prisão do general Bento dos Santos Kangamba, caso ele desembarque no Brasil, e incluiu seu nome e o de um comparsa na lista de procurados da Interpol. Chamado de "tio Bento" ou "tio Chico" pelos integrantes da quadrilha, o general é casado com uma sobrinha do presidente de Angola, José Eduardo Santos, no cargo desde 1979. O general é dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), mesmo partido do presidente, e tem influência no governo por meio de sua mulher, uma filha de Avelino dos Santos, irmão do presidente. Presidente do grupo Kabuscorp, um complexo industrial com sede em Angola, o general também é influente no mundo dos negócios. Kangamba é o maior patrocinador do Vitória Sport Clube, da primeira divisão de Portugal, e possui um time de futebol no país africano. Duas atividades usadas na lavagem de dinheiro do crime organizado.” Veja - Abril.

No Brasil, o esquema era liderado pelo ex-pagodeiro da banda Desejos, Wellington Eduardo Santos de Sousa, que a PF identificou nos relatórios de inteligência como Latino, braço direito do general.

Durante a operação foram cumpridos dezesseis mandados judiciais: cinco de prisão e onze de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, São Bernardo, Cotia e Guarulhos. Foram apreendidos onze carros de luxo, 23 passaportes, nove cópias de passaportes, catorze pedidos de visto para Angola, moeda estrangeira e drogas. As cinco pessoas presas, em São Paulo, são acusadas de tráfico internacional de mulheres. Os 20 passaportes apreendidos pertencem às vítimas, aliciadas por três mulheres nas casas noturnas. Os documentos e o dinheiro, que seriam usados para a viagem ao exterior, estavam na casa de um empresário, preso nesta quinta-feira (24).

Sobre o mandados de prisão contra o empresário e político Bento dos Santos "Kangamba" e o responsável máximo da produtora de espetáculos LS-Republicano de Angola, Fernando Vasco Inácio Republicano declarações da Agência Angop

o empresário Bento dos Santos Kangamba não recebeu, até à data, qualquer notificação policial sobre o assunto. O empresário nega ter mantido contato, desta forma, com cidadãos do Brasil, África do Sul, Portugal, Angola e Áustria. No desmentido, feito por fonte oficial não identificada, a Angop afirma ainda que a acusação ao empresário foi para atingir e caluniar outras personalidades angolanas.” DW África.

“A Polícia angolana disse hoje que não foi ainda notificada pela sua congénere brasileira sobre o desmantelamento de uma rede de tráfico de mulheres para Angola, África do Sul, Portugal e Áustria que alegadamente envolve um familiar do Presidente angolano. A informação foi avançada pelo segundo comandante da Polícia Nacional de Angola, comissário-chefe Paulo de Almeida, à margem de uma conferência de imprensa sobre o processo de desarmamento da população civil angolana. Segundo Paulo de Almeida, a polícia angolana coopera com a polícia de vários países e é também membro da Interpol, mas até agora não foi contactada por nenhuma dessas organizações, nem tem informação oficial sobre o assunto.” DN - Globo.

De acordo com a PF, a organização movimentou 45 milhões de dólares com o tráfico internacional de mulheres desde 2007. Mas estima-se que esse valor possa ser ainda maior.

A exploração sexual é uma atividade extremamente lucrativa e arriscada. Quem esta na ponta do esquema, a vítima, sofre os mais impensáveis riscos, desde os riscos inerentes da profissão (abusos, doenças, drogas) á espancamentos e até o risco de morte. Enquanto os aliciadores e chefes do esquema lucram muito com a atividade, basta ver o rendimento da quadrilha desbaratada na quinta-feira da última semana. As vítimas desses tipos de esquema são exploradas ao máximo pra que os lucros também sejam maximizados. É comum que as mulheres sob essas condições se submetam a 20, 30, 40 ou mais programas por dia.

Os esquemas de prostituição revelam nada mais do que um moderno processo de escravidão, no qual se submete a mulher a uma violência indescritível. Como dimensionar os prejuízos provocados a essas mulheres?
Inestimável. São perdas que 10 000 ou 100 000 dólares não pagarão.
Não se trata de moralismo, falamos de autonomia e de salubridade. Ser submetida a cárcere privado, a violência sexual e ao risco de se contaminar com HIV, já que o risco é maior em se tratando de países da África, é indiscutivelmente insalubre.

Nesse caso, não há que se discutir a prostituição e sim a exploração da mulher como objeto sexual ou como mercadoria. Todas foram vítimas, ganhando mais ou menos.

As principais vítimas de esquemas de exploração sexual são as mulheres pobres, mais vulneráveis financeiramente e que muitas vezes se submetem à prostituição na tentativa de garantir a própria ou ter um padrão de vida um pouco melhor. Quando se torna vítima de cafetões ou de uma rede de prostituição elas perdem grande parte de sua autonomia e se tornam escravas do esquema.

O trabalho da Polícia Federal é importante no sentido de investigar e prender os suspeitos. Entretanto, é preciso a efetiva punição dos exploradores como também o rompimento com a cultura da coisificação da mulher. Também é necessário a assistência às mulheres em condição de exploração ou de vulnerabilidade.

Fontes: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pf-acusa-general-angolano-de-trafico-de-mulheres
      http://www.dw.de/interpol-procura-ex-militar-e-empres%C3%A1rio-de-angola-por-tr%C3%A1fico-de-mulheres/a-17194197
        http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3506003&seccao=CPLP
  http://www.voaportugues.com/content/executivos-angolanos-mencionados-em-caso-de-trafico-de-mulheres/1778602.html
 

Sem comentários: