Por Ana Eufrázio
Após
a operação Garina (menina na gíria de Angola), deflagrada na semana passada
pela Polícia Federal (PF), foi revelado um extenso esquema de tráfico de
mulheres para exploração sexual. A atuação da quadrilha era investigada há um
ano até ser desbaratada na última quinta-feira, dia 24. A PF acusa um parente do
presidente de Angola, general e empresário Bento dos Santos Kangamba, de
chefiar o esquema internacional de tráfico de mulheres do Brasil para África do
Sul, Portugal, Angola e Áustria.
Bento dos Santos Kangamba. Fonte: Voa - Voz da América. |
A PF
suspeita que o esquema de tráfico e prostituição estivesse funcionando desde
2007 e que cerca de 1500 mulheres foram aliciadas pela quadrilha. Parte delas era
atraída pela promessa de pagamentos, que poderiam chegar a 100 mil dólares por
semana para fazerem programas de sexo no exterior. Nos
últimos meses, policiais acompanharam o embarque de algumas delas, no Aeroporto
de Guarulhos.
O
delegado
da Polícia Federal, Luiz Tempestini, à frente da operação, informou
que a quadrilha aliciou mulheres com perfis diversos, de garotas famosas a
mulheres carentes, e que algumas delas nem sequer sabiam que estavam indo para o
exterior para trabalhar com prostituição.
Em média,
cada mulher brasileira era obrigada a manter por volta de 15 a 20 relações
sexuais por dia. A polícia revelou que há fortes indícios de
que parte das vítimas tenha sofrido privação de liberdade, como também foram
obrigadas a manter relações sexuais sem preservativos com os clientes. Para
essas vítimas, os criminosos ofereciam um falso coquetel de drogas antiaids.
De
acordo Tempestini, “A investigação começou através de
uma fonte humana nossa que trabalha na noite paulistana. Chegou-nos a
informação de que haveria um grupo que estava traficando mulheres para Angola.
E o destino seria um grande empresário de Angola, conhecido como ‘Tio Bento’, e
ele é patrocinador de clubes de futebol, grande empresário, político e deputado
federal, antigo brigadeiro da Aeronáutica e casado com a sobrinha do Presidente
da República”. DW África.
Durante
as investigações a PF descobriu que as mulheres eram aliciadas em casas
noturnas paulistanas no bairro de Indianópolis, Zona Sul de São Paulo, mediante
acordo de pagamento de 10 mil dólares por semana para se prostituírem com
clientes de alto padrão econômico. Já as modelos e capas de revistas masculinas
ou as participantes de programas de TV recebiam até 100 mil dólares para
se relacionar sexualmente com o general. Segundo o delegado Tempestini, as
mulheres sofriam abusos sexuais às mãos de Kangamba, que as colocava também à
disposição de parceiros de negócios e amigos.
“Na Operação Garina, deflagrada
nesta quinta-feira, a Justiça concedeu a (mandado de - grifo meu) prisão do
general Bento dos Santos Kangamba, caso ele desembarque no Brasil, e incluiu
seu nome e o de um comparsa na lista de procurados da Interpol. Chamado de
"tio Bento" ou "tio Chico" pelos integrantes da quadrilha,
o general é casado com uma sobrinha do presidente de Angola, José Eduardo
Santos, no cargo desde 1979. O general é dirigente do Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA), mesmo partido do presidente, e tem influência no
governo por meio de sua mulher, uma filha de Avelino dos Santos, irmão do
presidente. Presidente do grupo Kabuscorp, um complexo industrial com sede em
Angola, o general também é influente no mundo dos negócios. Kangamba é o maior
patrocinador do Vitória Sport Clube, da primeira divisão de Portugal, e
possui um time de futebol no país africano. Duas atividades usadas na
lavagem de dinheiro do crime organizado.” Veja - Abril.
No
Brasil, o esquema era liderado pelo ex-pagodeiro da banda Desejos, Wellington
Eduardo Santos de Sousa, que a PF identificou nos relatórios de inteligência
como Latino, braço direito do general.
Durante
a operação foram cumpridos dezesseis mandados judiciais: cinco de
prisão e onze de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, São Bernardo,
Cotia e Guarulhos. Foram apreendidos onze carros de luxo, 23 passaportes,
nove cópias de passaportes, catorze pedidos de visto para Angola,
moeda estrangeira e drogas. As cinco pessoas presas, em São Paulo, são acusadas
de tráfico internacional de mulheres. Os 20 passaportes apreendidos pertencem
às vítimas, aliciadas por três mulheres nas casas noturnas. Os documentos e o
dinheiro, que seriam usados para a viagem ao exterior, estavam na casa de um
empresário, preso nesta quinta-feira (24).
Sobre
o mandados de prisão contra o empresário e político
Bento dos Santos "Kangamba" e o responsável máximo da produtora de
espetáculos LS-Republicano de Angola, Fernando Vasco Inácio Republicano
declarações da Agência Angop
“o
empresário Bento dos Santos Kangamba não recebeu, até à data, qualquer
notificação policial sobre o assunto. O empresário nega ter mantido contato,
desta forma, com cidadãos do Brasil, África do Sul, Portugal, Angola e Áustria.
No desmentido, feito por fonte oficial não identificada, a Angop afirma ainda
que a acusação ao empresário foi para atingir e caluniar outras personalidades
angolanas.” DW África.
“A Polícia angolana
disse hoje que não foi ainda notificada pela sua congénere brasileira sobre o
desmantelamento de uma rede de tráfico de mulheres para Angola, África do Sul,
Portugal e Áustria que alegadamente envolve um familiar do Presidente angolano.
A informação foi avançada pelo segundo comandante da Polícia Nacional de Angola,
comissário-chefe Paulo de Almeida, à margem de uma conferência de imprensa
sobre o processo de desarmamento da população civil angolana. Segundo Paulo de
Almeida, a polícia angolana coopera com a polícia de vários países e é também
membro da Interpol, mas até agora não foi contactada por nenhuma dessas
organizações, nem tem informação oficial sobre o assunto.” DN - Globo.
De
acordo com a PF, a organização movimentou 45 milhões de dólares com o tráfico
internacional de mulheres desde 2007. Mas estima-se que esse valor possa ser ainda maior.
A
exploração sexual é uma atividade extremamente lucrativa e arriscada. Quem esta
na ponta do esquema, a vítima, sofre os mais impensáveis riscos, desde os
riscos inerentes da profissão (abusos, doenças, drogas) á espancamentos e até o
risco de morte. Enquanto os aliciadores e chefes do esquema lucram muito com a
atividade, basta ver o rendimento da quadrilha desbaratada na quinta-feira da
última semana. As vítimas desses tipos de esquema são exploradas ao máximo pra
que os lucros também sejam maximizados. É comum que as mulheres sob essas
condições se submetam a 20, 30, 40 ou mais programas por dia.
Os
esquemas de prostituição revelam nada mais do que um moderno processo de
escravidão, no qual se submete a mulher a uma violência indescritível. Como
dimensionar os prejuízos provocados a essas mulheres?
Inestimável.
São perdas que 10 000 ou 100 000 dólares não pagarão.
Não
se trata de moralismo, falamos de autonomia e de salubridade. Ser submetida a
cárcere privado, a violência sexual e ao risco de se contaminar com HIV, já que
o risco é maior em se tratando de países da África, é indiscutivelmente
insalubre.
Nesse
caso, não há que se discutir a prostituição e sim a exploração da mulher como
objeto sexual ou como mercadoria. Todas foram vítimas, ganhando mais ou menos.
As
principais vítimas de esquemas de exploração sexual são as mulheres pobres,
mais vulneráveis financeiramente e que muitas vezes se submetem à prostituição
na tentativa de garantir a própria ou ter um padrão de vida um pouco melhor. Quando
se torna vítima de cafetões ou de uma rede de prostituição elas perdem grande
parte de sua autonomia e se tornam escravas do esquema.
O
trabalho da Polícia Federal é importante no sentido de investigar e prender os
suspeitos. Entretanto, é preciso a efetiva punição dos exploradores como também
o rompimento com a cultura da coisificação da mulher. Também é necessário a assistência às mulheres em condição de exploração ou de vulnerabilidade.
Fontes: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pf-acusa-general-angolano-de-trafico-de-mulheres
http://www.dw.de/interpol-procura-ex-militar-e-empres%C3%A1rio-de-angola-por-tr%C3%A1fico-de-mulheres/a-17194197
http://www.dw.de/interpol-procura-ex-militar-e-empres%C3%A1rio-de-angola-por-tr%C3%A1fico-de-mulheres/a-17194197
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3506003&seccao=CPLP
http://www.voaportugues.com/content/executivos-angolanos-mencionados-em-caso-de-trafico-de-mulheres/1778602.html
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