Por Ana Eufrázio
Os
altos índices de crimes em razão de gênero no país, e em especial no Norte e Nordeste, guarda uma forte
relação com a “cultura machista e patriarcal” que ainda é marcante no Brasil.
No
Ceará, de acordo com o Mapa da Violência Contra à Mulher, em 2012, a taxa de
homicídios foi de 3,7 para cada 100 mil mulheres, deixando o Estado na 21º
colocação em números de homicídios. Fortaleza, por seu turno, ocupa a 10ª
posição, com 5,4 mortes para cada 100 mil habitantes.
O
líder do Estado (11º no Brasil) no ranque de assassinatos de mulheres é o
município de Barbalha, com uma taxa de 17,6 de assassinatos para cada 100 mil habitantes.
Brabalha está localizada na região do Cariri, exatamente na área onde o número de
feminicídios a coloca em segundo lugar no Estado, tendo resultado em 23
assassinatos no período. O primeiro lugar ficou para a região metropolitana de
Fortaleza, 123 homicídios dolosos.
Em 2012, o
número de crimes sexuais registrados no Ceará alcançou a marca de 1 492 casos.
Entretanto, conforme alerta Rodrigo Cavalcante, Coordenadoria Especial de
Políticas Públicas para as Mulheres (CEPAM), do Gabinete do Governador, esse
número tende a ser três vezes superior, já que as vítimas desse tipo de
agressão costumam se sentirem constrangidas em fazer as denúncias. Os valores
registrados no ano revelam um aumento de mais 17% em relação ao ano passado, quando
foram denunciadas 1 331 agressões.
No
Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, somente em 2012 deram
entrada nos hospitais e clínicas do (SUS) Sistema Único de Saúde 18.007
mulheres apresentando indícios de terem sofrido violência sexual, o que implica
na média de duas mulheres violentas a cada hora. A maioria esmagadoras das
vítimas, cerca de 75%, eram crianças, adolescentes e idosas. Os dados foram
colhidos através do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) e
representam apenas os casos onde a vítima procurou atendimento médico. Confira aqui.
Segundo
dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública sobre 2012, em todo país,
foram registrados 50.617 casos de estupro no ano passado, o que equivale a 26,1
estupros por grupo de 100 mil habitantes. Em relação a 2011, quando a taxa foi
de 22,1 por grupo de 100 mil o houve um aumento de 18,17%. A cada hora
aproximadamente 6 mulheres são estupradas em todo país.
Os
campeões no ranque da violência sexual no país, ou estados que mais registraram
casos de estupros por 100 mil habitantes em 2012, foram Roraima (52,2), Rondônia
(49) e Santa Catarina (45,8). Entretanto, há ressalvas em relação aos
dados colhido nesses três estados, eles estão no chamado "grupo 2" de
qualidade de informação, o que significa que os índices de fato podem ser ainda
piores.
Conforme
pode ser observado, os dados fornecidos pelo SUS estão em discordância com as
informações fornecidas pelo Anuário, este é um dos problemas encontrados quando
se pensa no combate à violência. A falta de entrosamento entre as entidades que
atuam nesse segmento provocam várias disparidades entre as estatísticas. Além
disso, os mecanismos de atuação também não são coordenados e desenvolvidos em
conjunto.
O
ideal seria que as delegacias de defesa da mulher, e outras, estivessem
interligadas às redes de assistência médica e as de apoio às vitimas, somente
dessa forma seria possível obter dados precisos sobre violência, efetivar as
medidas de prevenção e combate aos crimes, como também realizar o atendimento
médico especializado ás vitimas.
Além
disso, os números de delegacias da mulher no país são insuficientes para
atender a demanda, sem contar que o corpo policial que presta atendimento à
mulher em situação de violência não é preparado para essa finalidade e infelizmente
os trabalhadores da saúde não estão treinados para prestar esse tipo de
atendimento.
No Ceará,
por exemplo, temos o medíocre número de 7 delegacias para atender todo o
estado. Em Fortaleza (01); Crato (01); Caucaia (01); Maracanaú (01); Sobral
(01); Juazeiro (01) e Iguatu (01). Além de termos poucas unidades de
atendimento, os responsáveis pela delegacia daqui de Fortaleza sequer atendem
ao telefone, sem falar que as delegacias da mulher só atendem de segunda à sexta e de 08:00 as 18:00 horas. O difícil é convencer os agressores a atuarem somente nesses dias e horários.
Apesar
das declarações de que a mulher tem se sentido mais segura para denunciar as
agressões e que o governo adotou o lema “tolerância zero” em ralação ao tema, o
combate a violência contra a mulher ainda não saiu efetivamente do plano
teórico.
“Embora o aumento da
notificação do número de estupros reflita também uma maior coragem das mulheres
em denunciá-los, e uma maior receptividade dos serviços de segurança e saúde, é
inegável que este é o tipo de crime que pede tolerância zero, como, aliás, tem
afirmado a própria presidenta Dilma Rousseff em vários momentos". Eleonora
Menicucci, ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, em nota que o
crescimento dos casos de estupro.
As
mulheres em situação de violência ainda continuam sem ter fácil acesso às
medidas protetivas, aos serviços especializados de saúde e jurídicos, sem apoio
institucional no sentido de garantir abrigo e amparo financeiro para que elas
possam garantir a subsistência.
A realidade
é que a mulher continua vulnerável a toda e qualquer violência de gênero. O Estado
ainda permanece omisso quando se trata de punir os crimes de violência e
amparar a mulher em situação vulnerabilidade. A impunidade funciona como fator
estimulador da violência e a falta de abrigo e condições objetivas de subsistência
leva a mulher a voltar ou permanecer sob o a guarda do agressor.
Noutros
casos, quando a vítima pode subsistir por si e denuncia as agressões, as
medidas protetivas não são eficazes em evitar a aproximação do agressor, as novas
agressões e os assassinatos.
Grande
parte dos agressores é reincidente e parte das vítimas de homicídios já havia
dado queixa a polícia sobre ameaças ou agressões praticadas pelo assassino e
algumas delas já tinham conseguido medidas protetivas. Mesmo assim os assassinos
desobedecem às ordens judiciais e, numa clara afronta ao Estado, se aproximam
da vítima, as agridem novamente e as matam.
Esse
comportamento reflete a cultura da tolerância. Somos tolerantes com o machismo,
com a pequena agressão, com o preconceito, com as desigualdades de gênero e
principalmente com os agressores.
Facilmente
percebemos os resquícios da cultura patriarcal do nosso país e principalmente
do nosso Estado. O macho alfa viril não encontra opositor capaz de barrar a
satisfação dos seus desejos, sejam eles sexuais, homicidas ou outro qualquer.
A
cultura patriarcal entende a mulher como uma de suas posses e mero objeto de
satisfação de suas necessidades sexuais e domésticas. Assim sendo, o patriarca sente
que pode dispor da esposa e de qualquer outra mulher da forma que achar melhor.
O estupro, a agressão e homicídio são formas de demonstrar o seu poder.
Afirmar
“tolerância zero” com o estupro numa sociedade onde sequer há estatísticas precisas
sobre esse tipo de crimes, onde prevalece a cultura da culpabilizaçãoda vítima,onde
o aparato de proteção e socorro às vitimas não chegar a ser INsuficiente, beira
a irresponsabilidade.
Antes
disso, é preciso que o estado admita que há uma problema cultural de tolerância
e de estimulo à violência, como também a institucionalização da impunidade. Em seguida,
seria preciso fazer campanhas de rompimento com a cultura machista, associada a
elas, deveria ser divulgada informações sobre os aspectos criminais inerentes a
violência de gênero. Mas acima de tudo, o governo teria de preparar melhor o
corpo responsável por lidar com as vitimas de violência e também romper
definitivamente com o histórico de impunidade.
Somente
a partir da reversão dessa cultura patriarcal poderemos pensar numa sociedade
onde os índices de violência de gênero beirem o zero.
No
Brasil contamos com o ligue 180 que é um
serviço da Central de Atendimento à Mulher. O serviço é ofertado pela
Secretaria de Políticas para Mulher (SPM) e tem o objetivo de receber denúncias
ou relatos de violência, de ORIENTAR as mulheres sobre seus direitos e sobre a
legislação vigente e ainda, ENCAMINHA-LAS AOS SERVIÇOS ESPECIALIZADOS quando
necessário.
Fonte: Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres (CEPAM)
Gabinete do Governador
Gabinete do Governador
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