sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sobre as declarações machista e homofóbicas do Secretário de Defesa Social



A indignação não deixa de tomar conta de mim nesse momento. Sabemos perfeitamente que o sexismo está profundamente arraigado na nossa sociedade, mas que um Secretário de Defesa Social, repito, “Defesa Social” incorpore o discurso machista e o professe de forma natural me foge a compreensão. A entrevista do Secretário policial revela claramente a institucionalização do sexismo, demonstra o caráter machista e corporativo das polícias.   

Ao ser entrevistado pelo jornal sobre denúncias de abusos sexuais praticados por policiais, o secretário, que tem 30 anos de carreira nas polícias Civil e Federal, disse: 

"Desvio de conduta a gente tem em todo lugar. Tem na casa da gente, tem um irmão que é homossexual, tem outro que é ladrão, entendeu? Lógico que a homossexualidade não quer dizer bandidagem, mas foge ao padrão de comportamento da família brasileira tradicional. Então, em todo lugar tem alguma coisa errada, e a polícia... né? A linha em que a polícia anda, ela é muito tênue, não é?", afirmou o secretário ao jornal... Elas às vezes até se acham porque estão com policial. O policial exerce um fascínio no dito sexo frágil. Eu não sei por que é que mulher gosta tanto de farda. Todo policial militar mais antigo tem duas famílias, tem uma amante, duas. É um negócio. Eu sou policial federal, feio para c..., a gente ia para Floresta [cidade do sertão] para esses lugares. Quando chegávamos lá, colocávamos o colete, as meninas ficavam tudo sassaricadas. Às vezes tinham namorado, às vezes eram mulheres casadas. Para ela é o máximo tá [sic] dando para um policial. Dentro da viatura, então, o fetiche vai lá em cima, é coisa de doido.” Folha de São Paulo.

Segundo a matéria as declarações motivaram repúdio de entidades da sociedade civil e da oposição. O OmbudsPE, observatório da mídia do Centro de Cultura Luiz Freire, em Olinda, publicou nota de entidades de direitos humanos e movimentos sociais criticando o secretário, pedindo sua saída e chamando as declarações de machistas e homofóbicas. "O machismo institucional impregnado nas palavras do secretário é o mesmo que está presente na atuação da polícia. Assim, é conivente e legitima estupros, espancamentos e abusos cometidos por policiais nas noites do Recife", diz o texto. 

A entrevistana íntegra provoca náuseas, o Secretário demonstra um profundo desrespeito com os casos quando coloca num só parágrafo as expressões “obrigou a fazer sexo oral... com a arma apontada pra cabeça... A linha que a polícia anda, ela é muito tênue, né?” ao justificar os casos de abusos cometidos pelos policiais.

“a moça estava no bar, com homens, e tal... era ligada à prostituição... e aí chegou no posto para prestar uma queixa. Os policiais disseram tá bom, vamos levar. Chegando lá, o bar já estava fechado, não deu em nada o trabalho. Ela alega que eles [policias] a levaram para a beira do mar e lá um deles a obrigou a fazer sexo oral (em entrevista, a vítima, então com 28 anos, informou que o policial manteve uma arma apontada para sua cabeça). Ficamos sabendo, botamos a corregedoria atrás, prendemos a guarnição, pegamos por nosso sistema de rastreamento. E aí, eles foram presos. Quer dizer: desvio de conduta a gente tem em todo lugar. Tem na casa da gente, tem um irmão que é homossexual, tem outro que é ladrão, entendeu? Lógico que a homossexualidade não quer dizer bandidagem, mas foge ao padrão de comportamento da família brasileira tradicional. Então, em todo lugar tem alguma coisa errada, e a polícia... né? A linha em que a polícia anda, ela é muito tênue, não é?” Damázio.

Estupro é uma violência sexual grave e não há dúvidas de que uma arma apontada para a cabeça de alguém represente uma ameaça. Tênue é a linha que sustenta a vida de uma pessoa que se encontra nessa situação. Ela se acha rendida, entregue aos desejos de um psicopata que supostamente estaria ali para defender essa vítima e que, entretanto,  escora sua vida através de um dedo engatilhado em sua arma. 

Que o policial pense de uma forma tão machista não me surpreende, afinal vivemos numa região onde o coronelismo e patriarcalismo ainda estão impregnados na sociedade e, infelizmente, nas instituições públicas. No entanto, que uma pessoa com esse tipo de ideologia assuma exatamente a Secretaria de Defesa Social ai me parece ironia. 

Enquanto mulher, mas também como cidadã, repudio veementemente esse tipo de discurso que denigre a imagem da mulher, desqualifica os homossexuais e reproduz a bravata machista de culpabilizar a vítima de estupro. Como a mulher vai se sentir confortável em procurar a polícia se sequer o Secretário de Defesa é capaz que reconhecer o estupro como violência e a mulher como vítima? Esse senhor merece ser banido da vida pública. Desvio de conduta é o policial usar a viatura para pegar o filho na escola, estupro é crime, corrupção é crime, violação dos direitos humanos é crime senhor ex-secretário.


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