Estava da uma “folheada” na internet quando me
deparei com a seguinte manchete: “Jornal inglês aponta
Fortaleza como a “capital da prostituição infantil”.
De cara me surpreendi com a expressão
“prostituição infantil”. Não sei se a expressão foi transcrita literalmente do
inglês ou se por desconhecimento os jornalistas não atentaram para o fato de
que criança não se prostitui, ela é explorada sexualmente. A dúvida me surgiu
porque logo em seguida eles utilizam o termo correto pra a situação, no entanto
voltam a falar de crianças trabalhando com prostituição.
“No impresso, Fortaleza
foi apontada como a ‘capital da exploração sexual infantil’ no Brasil e destaca
a vinda da Copa do Mundo de 2014 como cenário favorável para a promoção da
indústria ilegal do sexo. 18 horas
na Praia de Iracema, litoral de Fortaleza. Crianças e adolescentes passeiam
pelo calçadão. Do outro lado, nos bares ou nas janelas límpidas dos grandes
hotéis da região, homens loiros e altos observam a movimentação. A caça e o
caçador separados por alguns dólares ou até mesmo um lanche qualquer. Essa
realidade é observada facilmente na capital cearense. Marca triste, Fortaleza
vem sendo apontada como principal destino quando o assunto é turismo sexual.
Esta situação foi levantada nesta segunda-feira (9) por um dos maiores jornais
britânicos, o The Guardian. Segundo o Fórum Nacional de Prevenção ao Trabalho
Infantil (organização não governamental), o número de crianças e adolescentes
envolvidas com prostituição em 2012, compreendia cerca de 500 mil, o que
representa um aumento de cinco vezes desde 2001 quando as estimativas da Unicef
apontavam que 100 mil crianças trabalhavam no comércio do sexo. Um dos pontos
turísticos do sexo indicados na matéria, é a Avenida Juscelino Kubitschek,
no Bairro Castelão, que dá acesso à Arena Castelão, estádio que vai
receber pelo menos seis jogos, incluindo as seleções do Brasil, Alemanha e Uruguai. Com a chegada da Copa do
Mundo de 2014, a preocupação é ainda maior, pois este trecho será um dos mais
movimentados da cidade. Teme-se ainda, segundo o jornal, que profissionais do
sexo migrem para as cidades sede e junto a isso, os cafetões ‘recrutem’ mais
jovens para atender à demanda dos turistas que procuram por esse tipo de
turismo.” Tribuna do Ceará.
A matéria
ainda informa que a Prefeitura de Fortaleza vem atuando através da
Coordenadoria da Criança e do Adolescente da Secretaria de Cidadania e Direitos
Humanos em diversos programas com foco na criança e no adolescente. Foi criado
o Programa Ponte de Encontro, onde é realizada “Busca Ativa”, com vistas a
coibir à exploração sexual, em vários pontos de Fortaleza. Consta que além dos
programas, a Prefeitura manteria quatro espaços específicos para o acolhimento
de crianças e adolescentes em situação de risco de violência: Casa dos Meninos, Casa das Meninas, Espaço
Temporário de Acolhimento e Espaço Aquarela.
Dentre
as estratégias para coibir esse tipo de crime durante a copa está a campanha “Não
Desvie o Olhar”, uma campanha internacional de sensibilização contra a
exploração sexual de crianças e adolescentes, desenvolvida em 17 países, coordenada
mundialmente pela rede internacional ECPAT que trabalha para a eliminação da
prostituição infantil, pornografia infantil e tráfico de crianças para fins
sexuais.
A
campanha “Não Desvie o Olhar!” é um projeto de
“Prevenção da Exploração Sexual no Turismo e Sensibilização dos Turistas Durante
os Grandes Eventos”. No Brasil, a campanha é realizada nas 12 Cidades-sede da
Copa do Mundo 2014, com o envolvimento de atores públicos, privados e da
sociedade civil que trabalham na temática, com a coordenação da FNP e do
Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria – SESI.
A luta contra a violência sexual infantil ganhou
reforço em 2013, um órgão específico pra tratar do assunto, o Programa Nacional
de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (PNEVSCA), órgão
vinculada a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A partir
daí surgiu o Disque 100, um número que recebe denúncias de violência contra a
criança e o adolescente. Entre 2011 e 2012, foram registradas 10.892 denúncias relacionadas à violação de
vulnerável somente no Ceará.
Apesar do grande número de denuncias, a estatística
acima não representa uma estimativa que delimite concretamente o tamanho do
problema. Até mesmo porque não há convergência entre as informações que são
coletadas entre os órgãos competentes e estes
dados não são sistematizados. De acordo Nadja Furtado Bartolotti, Assessora jurídica
do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), a sociedade tem resistência em denunciar
os casos de exploração sexual. Esses casos são subnotificados. Alem disso, as
pessoas costumam se recusar a prestar testemunho a polícia, o que acaba por
dificultar a punição dos agressores. Sem levar em consideração de que as
pessoas não reconhecem o problema.
Ainda conforme Nadja, a tolerância da sociedade com
esse tipo de crime decorre do machismo, que tende a sempre culpar a criança
pelos abusos e ainda vitimizar o adulto agressor. Outro fator agravante da
situação seria a cultura adultocêntrica, que tende a desacreditar nos relatos da
criança e atribuir a ela uma imaginação muito fértil.
“As políticas voltadas para o combate as exploração
sexual infantil no ceará são bastantes falhas. Em todo o estado do Ceará há
apenas uma delegacia especializada, a Delegacia de Combate a Exploração de
Crianças de Adolescentes (Dececa). Além disso, a equipe é deficitária, há apenas
uma delegada atuando. O combate a esse tipo de crime deve ser proativo,
preventivo. Enquanto não houver uma convergência na coleta e sistematização de
dados sobre a exploração não haverá como desenvolver políticas realmente
eficazes no combate a esse tipo de crime” Nadja Bartolotti.
A exploração sexual é um fenômeno grave e de
bastante incidência. A tolerância da sociedade com esse tipo de crime, bem como
o descaso do estado com o problema torna o combate uma tarefa extremamente
complicada de ser implementada. É preciso o rompimento com a cultura machista e
adultocêntrica. Também é preciso que o Estado encare esse problema de frente e
amplie a rede atenção à criança e ao adolescente.
As campanhas preventivas devem abordar a problemática
de forma clara e informar claramente que a exploração sexual infantil é crime. Além
disso, o adulto que mantém qualquer tipo de contato com conotação sexual com um(a)
menor de 14 anos esta cometendo estupro, independente de seu consentimento ou
de suas experiências sexuais. Mais uma vez enfatizo que criança ou adolescente
não se prostitui é explorada sexualmente.
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