Recentemente
o Instituto Avon divulgou uma pesquisa, feita em parceria com o Data Popular –
Percepções dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher.
E já
adianto que o resultado é preocupante, pra quem defendia que não existe mais
machismo na nossa sociedade e que o sexismo é história de feminista, recomendo
que leia com atenção as estatísticas reveladas por este estudo.
A
primeira revelação é de que certas atitudes ainda não são vistas como violência,
isso fica evidente quando apenas 16% dos homens assumem ter sido violentos com
a ex-companheira, perfazendo um total de 8,8 milhões de agressores, e 12%
admitem violência com a companheira atual, 5,1 milhões. No entanto, a
incidência aumenta quando são listadas xingar, empurrar, humilhar em público e ameaçar com
palavras (atitudes que configuram violência doméstica), nessa
situação o percentual de agressores subiu para 56% dos homens. Os dados revelaram que 41% da população brasileira
conhece pelo menos um homem que já foi violento com alguma parceira, o que
equivale a 52 milhões de pessoas.
Dentre
os agressores a maioria é reincidente, ou seja, cometeu uma dessas atitudes
mais de uma vez. Quando é feito uma análise a partir de um recorte social os
homens da classe alta aparecem como os mais agressivos, 59% revelaram ter
cometido algum tipo de agressão contra sua ex ou atual companheira, a classe
média vem em segundo lugar com 55% e em último lugar, com 53%, os homens
pobres. A pesquisa ainda constatou que 67% dos agressores, durante a infância, viram
os pais discutirem, e 21% deles presenciaram uma agressão física. Entre os não
agressores esse índice cai para 9%. A pesquisa ainda revelou que homens acham
que a mulher não deve recorrer à polícia ou ir a delegacia em caso de alguns tipos
de agressão. Eles acreditam que o agressor deve recorrer à conversa e terapia
pra solucionar o problema. Somente 28% acham que a vítima deva recorrer ao
aparato policial em caso de violência.
Quanto
ao passado dos entrevistados, 75% dos homens revelaram terem apanhado de um
adulto, no entanto, entre os agressores, esse percentual sobe 81%. Os pesquisados
ainda investigaram sobre o comportamento dos pais, 74 % dos entrevistados
revelaram que a mãe era mais carinhosa e 60% que o pai era mais bravo. Ainda persiste
a ideia de que o homem precisa mais de sexo (47%) do que a mulher (36%). Os entrevistados
acreditam que o homem trai mais (62%).
Quanto
ao comportamento feminino, 85% dos homens acham inaceitável que a mulher fique
bêbada, 69% que a mulher saia com os amigos e 46% que a mulher use roupas
decotadas. Também é inaceitável que a esposa não mantenha a casa em ordem, foi
o que informaram 89% dos homens. Enquanto 72% dos homens disseram que fariam tudo
pra manter o seu casamento, 53% deles revelaram que atribuem o sucesso do
casamento as mulheres.
Os entrevistados
responderam que a violência pode surgir no relacionamento principalmente por
ciúmes e quando falta respeito, diálogo e amor, e que o casamento ideal deve
ter respeito, companheirismo, amor e diálogo. Entretanto, os homens acham (76%)
que falar sobre problemas e ser carinhoso (66%) são coisas de mulher.
Estudo revela que comumente o homem responsabiliza
a mulher pela violência. 29% dos entrevistados disseram que ‘o homem só bate
porque a mulher provoca’ e 23% afirmaram que ‘tem mulher que só para de falar
se levar um tapa’. Eles também confessaram que 12% acreditar que ‘se a mulher
trai o marido ele tem razão de bater nela’.
Diante de um quadro tão obscuro como esse os
homens (81%) ainda revelaram que a Lei Maria da Penha deveria servir para proteger
os homens que são agredidos pelas mulheres. No entanto, 37% dos entrevistados
acreditam que depois da Lei Maria da Penha as mulheres passaram a
desrespeita-los mais. 35% dos homens revelaram desconhecerem a Lei Maria
da penha (total ou quase totalmente). O que muita gente ainda não compreendeu é
que a
lei foi elaborada no intuito reduzir as desigualdades de gênero.
“A ideia de que um
homem pode usar da violência para resolver determinados conflitos foi ensinada,
pelas brincadeiras, pelas orientações, pela fé, dentro de casa. Esse modelo de
masculinidade acaba se tornando muito rígido, com pouca flexibilidade e com
poucas saídas para gerenciar os conflitos. Muitas vezes a gente vê que alguns
aspectos da hierarquia de gênero estão mudando e parece que não avisaram esses
homens. Vem se falando muito sobre crise da masculinidade, da sexualidade masculina.
É um reflexo de tudo isso.”
Dario Adolfo Córdova Posada
(Psicólogo do Centro de Referência da Cidadania LGBT da Secretária de Estado de
Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro).
Naturalmente,
esse estudo só serviu para confirmar o que todo mundo já sabia, que nossa
sociedade é muito machista. Depois da pesquisa ficou difícil dizer que homens e
mulheres são tratados igualmente.
Por Ana Eufrázio
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