quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Padrastos e a relação de posse com as enteadas



Há alguns dias atrás (precisamente no dia 17 deste mês) os corpos da estudante de Enfermagem Loanne Rodrigues da Silva Costa, 19 anos, e de seu padrasto, Joaquim Lourenço da Luz, 47 anos, foram encontrados acorrentados pelos pés a uma árvore no Morro do Frota, em Pirenópolis (GO). A estudante de enfermagem se encontrava sem vida amarrada e abraçada ao corpo do padrasto também morto. De acordo com peritos os dois corpos apresentavam lacerações no tórax provocadas por explosão de dinamite.
 
A jovem e padrasto teriam saído na segunda-feira em direção ao morro para fazerem algumas fotos e não retornaram. Logo que perceberam o desaparecimento a polícia foi acionada, entretanto os corpos só foram encontrados por um homem que passava pelo local. A polícia suspeita de crime passional, assassinato seguido de suicídio. A polícia trabalha com a hipótese de crime premeditado. Há indícios de que o padrasto arquitetava o crime há algum tempo. Policiais informaram que os materiais encontrados no local do crime, e que teriam sido utilizados na prática dos homicídios, a corda, corrente, dinamite, barraca, faca e até um colchão eram do Joaquim. Informação confirmada pela mãe da estudante, em depoimento, ao reafirmar que dinamite que ele guardava em casa não estava mais lá.

Outros indícios apontam para o padrasto, como o depoimento do filho de Joaquim, ao assegurar que o suspeito estava muito perturbado nos últimos dias e apresentava um comportamento obsessivo em relação à enteada – “Ele chegou a perguntar na empresa se suicídio era coberto pelo seguro de vida que tinha” – A própria mãe de Loanne apesar de não acreditar que o marido seja o responsável pelas mortes, admite que o marido, com quem foi casada durante sete anos, tinha um carinho enorme pela enteada. Ela inclusive afirmou claramente que o marido vigiava Loanne nas festas, ligava o tempo todo no celular demonstrando preocupação e um ciúme incontrolável. Quando ela não atendia, insistia até que atendesse e chegava a ser agressivo quando isso acontecia. Algumas testemunhas também informaram que o viram andando na área de preservação ambiental pouco antes das mortes para deixar tudo pronto. A polícia continua investigando o crime. Serão pedidas as quebras de sigilo telefônico dos envolvidos, inclusive do sigilo telefônico da mãe da jovem. Apesar de não haver sobre a mãe, a hipótese de envolvimento de outras pessoas no crime não está descartada.

A história toda é muito estranha, no entanto, um caso clássico, um padrasto possessivo com a enteada e cuja história termina em homicídio.

10/10/13. “Uma mulher de 26 anos foi morta a facadas por volta das 21h desta quarta-feira (9) na Avenida Oswaldo Cruz, em Três Pontas (MG). Segundo a Polícia Civil, Elke Elaine Vaz caminhava com a mãe pelo local quando foi agredida pelo padrasto,  o lavrador Juscelino Vitor Dias, de 51 anos. Ela chegou a ser socorrida e levada para o pronto-socorro da cidade, mas morreu pouco tempo depois. De acordo com os policiais, o suspeito do crime viu quando mãe e filha estavam na rua, se aproximou em uma bicicleta e disse para a companheira que não gostava da vítima. Pouco depois, o homem voltou e agrediu a enteada na frente da mãe dela. Ela foi golpeada no peito e na barriga.” G1.

02/12/13. ” Um homem foi preso em flagrante após confessar o assassinato da enteada de 11 anos em Ibirama, no Vale do Itajaí. O crime ocorreu na tarde de segunda-feira (2). Segundo a Polícia Militar (PM), o homem contou que estava embriagado e cometeu o crime após se irritar por ser punido no trabalho. O padrasto foi encaminhado ao presídio de Rio do Sul, também no Vale. De acordo com a PM, os agentes foram acionados por uma vizinha da vítima por volta de 14h30. Ela ouviu a mãe da menina gritando que a filha havia sido morta. Quando chegaram à casa, os policiais encontraram a criança caída ao lado da cama, sem sinais de vida, com cortes no pescoço e indícios de violência sexual.” G1.


07/06/13 “Homicídio seguido de suicídio choca Venâncio Aires. O crime aconteceu em Linha Travessa, e chocou a comunidade. A vítima foi identificada como Karin Caroline da Luz e Silva de 19 anos. O autor do homicídio, Pedro da Conceição, de 65 anos, foi encontrado enforcado em um matagal, próximo ao Campo do Flor de Maio, de Linha Travessa. A polícia investiga o caso. O Instituto geral de perícias se deslocou de Porto Alegre para posterior liberação dos corpos. Vênus FM.

Poderia ter me estendido nessa busca e encontrar muitos outros casos desse tipo de homicídio, entretanto, acho que a exposição dos casos acima já basta para denunciar as relações de possessividade que muitas vezes os padrastos estabelecem com relação as enteadas. São comuns os casos de abusos sexuais cometidos por estes homens que “substituiriam” o pai biológico. Há até casos em que o sujeito se aproxima da mãe já visando à filha.

Trata-se de uma relação doentia, já que muito deles acompanham o desabrochar dessas crianças. Alguns destes não chegam a esperar nem por esse desabrochar, os estupros começam ainda na infância. 



13/11/13 “Pedreiro é acusado de abusar das enteadas há dez anos. Olímpio Cardoso Neto, 52 anos foi preso na manhã desta terça-feira (12), no município de Timon, acusado de abusar sexualmente das três enteadas há mais de 10 anos. De acordo com a delegada Wládia Holanda de Lima, titular da Delegacia da Mulher, o acusado usava o dedo para manipular a genitália das meninas. Um exame de corpo de delito confirma que a mais nova, de apenas seis anos, tem o hímen rompido. A filha mais velha, de iniciais C.G.S.S, 18 anos, contou em depoimento que os abusos acontecem desde quando ela tinha cinco anos. Em seu depoimento, a vítima relata que os abusos ocorriam de madrugada. Para cometer os abusos, ele chegava a dopar a mãe das garotas. A mãe, de iniciais B.S.L, 39 anos, é portadora de esquizofrenia e faz tratamento no CAPS.” Diário deNotícias de Rosário.  

Esses crimes refletem exatamente a vulnerabilidade da mulher frente à violência de gênero, denunciam o machismo, o patriarcalismo e a tolerância do Estado com a violência contra a mulher, uma situação que há muito tempo se tornou insustentável. Por quanto tempo mais assistiremos aos feminicídios impassíveis? Não se pode mais tolerar que homens sintam-se proprietários da vida da mulher,      que homens possam dispor das nossas vidas por conta da cultura patriarcal que coloca a mulher entre as propriedades do marido ou do pai. Não se pode conceber que em pleno século XXI homens ainda utilizem do homicídio como meio de impedir que a mulher tenha a liberdade de se relacionar com o parceiro que desejar. Dizeres como “se ela não for minha não será de mais ninguém” não mais podem ser tolerados por nossa sociedade. Precisamos romper com a cultura de coisificação de nossas meninas e com a tolerância com a violência contra a mulher pra ontem. 
 
Aguardo ansiosa o dia em que famílias como a de Loanne não tenham de chorar por perdas tão dolorosas. Que a mãe encontre o consolo necessário para superar sua dor.


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