Há alguns
dias atrás (precisamente no dia 17 deste mês) os corpos da estudante de
Enfermagem Loanne Rodrigues da Silva Costa, 19 anos, e de seu padrasto, Joaquim
Lourenço da Luz, 47 anos, foram encontrados acorrentados pelos pés a uma árvore
no Morro do Frota, em Pirenópolis (GO). A estudante de enfermagem se encontrava
sem vida amarrada e abraçada ao corpo do padrasto também morto. De acordo com
peritos os dois corpos apresentavam lacerações no tórax provocadas por explosão
de dinamite.
A jovem
e padrasto teriam saído na segunda-feira em direção ao morro para fazerem
algumas fotos e não retornaram. Logo que perceberam o desaparecimento a polícia
foi acionada, entretanto os corpos só foram encontrados por um homem que
passava pelo local. A polícia suspeita de crime passional, assassinato seguido
de suicídio. A polícia trabalha com a hipótese de crime premeditado. Há indícios
de que o padrasto arquitetava o crime há algum tempo. Policiais informaram que os
materiais encontrados no local do crime, e que teriam sido utilizados na prática
dos homicídios, a corda, corrente, dinamite, barraca, faca e até um colchão
eram do Joaquim. Informação confirmada pela mãe da estudante, em depoimento, ao
reafirmar que dinamite que ele guardava em casa não estava mais lá.
Outros
indícios apontam para o padrasto, como o depoimento do filho de Joaquim, ao
assegurar que o suspeito estava muito perturbado nos últimos dias e apresentava
um comportamento obsessivo em relação à enteada – “Ele chegou a perguntar na
empresa se suicídio era coberto pelo seguro de vida que tinha” – A própria mãe
de Loanne apesar de não acreditar que o marido seja o responsável pelas mortes,
admite que o marido, com quem foi casada durante sete anos, tinha um carinho
enorme pela enteada. Ela inclusive afirmou claramente que o marido vigiava
Loanne nas festas, ligava o tempo todo no celular demonstrando preocupação e um
ciúme incontrolável. Quando ela não atendia, insistia até que atendesse e
chegava a ser agressivo quando isso acontecia. Algumas testemunhas também
informaram que o viram andando na área de preservação ambiental pouco antes das
mortes para deixar tudo pronto. A polícia continua investigando o crime. Serão
pedidas as quebras de sigilo telefônico dos envolvidos, inclusive do sigilo
telefônico da mãe da jovem. Apesar de não haver sobre a mãe, a hipótese de
envolvimento de outras pessoas no crime não está descartada.
A história
toda é muito estranha, no entanto, um caso clássico, um padrasto possessivo com
a enteada e cuja história termina em homicídio.
10/10/13. “Uma mulher de 26 anos
foi morta a facadas por volta das 21h desta quarta-feira (9) na Avenida Oswaldo
Cruz, em Três
Pontas (MG). Segundo a Polícia Civil, Elke Elaine Vaz caminhava com a mãe
pelo local quando foi agredida pelo padrasto, o lavrador Juscelino Vitor
Dias, de 51 anos. Ela chegou a ser socorrida e levada para o pronto-socorro da
cidade, mas morreu pouco tempo depois. De acordo com os policiais, o suspeito
do crime viu quando mãe e filha estavam na rua, se aproximou em uma bicicleta e
disse para a companheira que não gostava da vítima. Pouco depois, o homem
voltou e agrediu a enteada na frente da mãe dela. Ela foi golpeada no peito e
na barriga.” G1.
02/12/13. ” Um homem foi preso em
flagrante após confessar o assassinato da enteada de 11 anos em Ibirama,
no Vale do Itajaí. O crime ocorreu na tarde de segunda-feira (2). Segundo a
Polícia Militar (PM), o homem contou que estava embriagado e cometeu o crime
após se irritar por ser punido no trabalho. O padrasto foi encaminhado ao
presídio de Rio do Sul, também no Vale. De acordo com a PM, os agentes foram
acionados por uma vizinha da vítima por volta de 14h30. Ela ouviu a mãe da
menina gritando que a filha havia sido morta. Quando chegaram à casa, os
policiais encontraram a criança caída ao lado da cama, sem sinais de vida, com
cortes no pescoço e indícios de violência sexual.” G1.
07/06/13 “Homicídio seguido de suicídio choca Venâncio Aires. O crime aconteceu em Linha Travessa, e chocou a comunidade. A vítima foi identificada como Karin Caroline da Luz e Silva de 19 anos. O autor do homicídio, Pedro da Conceição, de 65 anos, foi encontrado enforcado em um matagal, próximo ao Campo do Flor de Maio, de Linha Travessa. A polícia investiga o caso. O Instituto geral de perícias se deslocou de Porto Alegre para posterior liberação dos corpos. Vênus FM.
Poderia
ter me estendido nessa busca e encontrar muitos outros casos desse tipo de homicídio,
entretanto, acho que a exposição dos casos acima já basta para denunciar as relações
de possessividade que muitas vezes os padrastos estabelecem com relação as
enteadas. São comuns os casos de abusos sexuais cometidos por estes homens que “substituiriam”
o pai biológico. Há até casos em que o sujeito se aproxima da mãe já visando à
filha.
Trata-se
de uma relação doentia, já que muito deles acompanham o desabrochar dessas
crianças. Alguns destes não chegam a esperar nem por esse desabrochar, os
estupros começam ainda na infância.
13/11/13 “Pedreiro é acusado de
abusar das enteadas há dez anos. Olímpio Cardoso Neto, 52 anos foi preso na
manhã desta terça-feira (12), no município de Timon, acusado de abusar
sexualmente das três enteadas há mais de 10 anos. De acordo com a delegada
Wládia Holanda de Lima, titular da Delegacia da Mulher, o acusado usava o dedo
para manipular a genitália das meninas. Um exame de corpo de delito
confirma que a mais nova, de apenas seis anos, tem o hímen rompido. A filha
mais velha, de iniciais C.G.S.S, 18 anos, contou em depoimento que os abusos
acontecem desde quando ela tinha cinco anos. Em seu depoimento, a vítima relata
que os abusos ocorriam de madrugada. Para cometer os abusos, ele chegava a
dopar a mãe das garotas. A mãe, de iniciais B.S.L, 39 anos, é portadora de
esquizofrenia e faz tratamento no CAPS.”
Diário deNotícias de Rosário.
Esses
crimes refletem exatamente a vulnerabilidade da mulher frente à violência de gênero,
denunciam o machismo, o patriarcalismo e a tolerância do Estado com a violência
contra a mulher, uma situação que há muito tempo se tornou insustentável. Por quanto
tempo mais assistiremos aos feminicídios impassíveis? Não se pode mais tolerar
que homens sintam-se proprietários da vida da mulher, que homens possam dispor das nossas vidas por conta da cultura
patriarcal que coloca a mulher entre as propriedades do marido ou do pai. Não se
pode conceber que em pleno século XXI homens ainda utilizem do homicídio como
meio de impedir que a mulher tenha a liberdade de se relacionar com o parceiro
que desejar. Dizeres como “se ela não for minha não será de mais ninguém” não mais
podem ser tolerados por nossa sociedade. Precisamos romper com a cultura de
coisificação de nossas meninas e com a tolerância com a violência contra a mulher pra ontem.
Aguardo ansiosa o dia em que famílias como a de Loanne não tenham de chorar por perdas tão dolorosas. Que a mãe encontre o consolo necessário para superar sua dor.
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