Por Altenor Júnior
Suzane continua lutando pela vida, mas não apenas
por sua própria. Integrante de diversos grupos feministas e ativista pela
igualdade de gênero, Suzane Jardim pode ser comparada à garota paquistanesa
Malala. A jovem que se tornou símbolo mundial de luta por igualdade ao ser
baleada por defender o direito à educação de meninas inspira tanto quanto a
jovem que quase foi assassinada por defender o direito à dignidade das
mulheres. Enquanto a misoginia, a homofobia, o racismo e qualquer crime de ódio
continuar existir, Malalas e Suzanes continuarão a lutar.
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Suzane saiu por volta de três da madrugada de um bar em Diadema rumo à Vila Mariana, na Zona Sul da capital. Acompanhada de Luis Henrique e do casal Tito e Adelly, acabara de conhecer. Algum tempo após chegar ao apartamento de Tito, Luis Henrique, sem qualquer provocação, passa a humilhar Adelly, valendo-se de sua suposta superioridade masculina, chamando-a "piranha" e "puta" e desferindo outras ofensas pesadas. Diante da inércia do parceiro da agredida, Suzane decide não se omitir e defende a moça, mesmo esta sendo uma quase desconhecida. Diz que Luis é um "machista de merda" e é desafiada a ir à janela gritar para toda a vizinhança o quão machista ele é. Com seus sentidos afetados pelo álcool, a jovem de 22 anos chega à janela para cumprir o desafio sem perceber a covardia do monstro que lhe segue. Sentindo as mãos que lhe agarram o tornozelo, ela mal consegue gritar antes de perceber estar em queda livre, de cabeça para baixo, a uma altura pelo menos doze metros.
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Suzane saiu por volta de três da madrugada de um bar em Diadema rumo à Vila Mariana, na Zona Sul da capital. Acompanhada de Luis Henrique e do casal Tito e Adelly, acabara de conhecer. Algum tempo após chegar ao apartamento de Tito, Luis Henrique, sem qualquer provocação, passa a humilhar Adelly, valendo-se de sua suposta superioridade masculina, chamando-a "piranha" e "puta" e desferindo outras ofensas pesadas. Diante da inércia do parceiro da agredida, Suzane decide não se omitir e defende a moça, mesmo esta sendo uma quase desconhecida. Diz que Luis é um "machista de merda" e é desafiada a ir à janela gritar para toda a vizinhança o quão machista ele é. Com seus sentidos afetados pelo álcool, a jovem de 22 anos chega à janela para cumprir o desafio sem perceber a covardia do monstro que lhe segue. Sentindo as mãos que lhe agarram o tornozelo, ela mal consegue gritar antes de perceber estar em queda livre, de cabeça para baixo, a uma altura pelo menos doze metros.
O crime horrendo corre sério risco de entrar para
as estatísticas da impunidade. O Brasil está entre os países com maior índice
de feminicídios no mundo. Este crime não é o simples assassinato de uma mulher,
mas o assassinato da mulher por ser mulher, por considerá-la um ser inferior ou
por imaginar ter posse sobre seu corpo. Em um ranking deste tipo de crime
composto por 84 nações, o Brasil ocupa a sétima posição. O que não chega a ser
uma surpresa em uma sociedade com desigualdade de gênero enorme. Os dados do
Mapa da Violência Cebela/Flacso de 2012 mostram salto de 230% nos assassinatos
misóginos nos últimos trinta anos, e uma tendência quase linear de subida que
preocupa as autoridades e ameaça a vida e a liberdade de milhões de brasileiras.
O machismo arraigado na sociedade brasileira levará uma parcela assustadoramente grande da população a dizer que neste caso, como em tantos, a vítima trouxe sobre si seu destino. Ela será acusada de ter sido promíscua, ou petulante, ou no mínimo ingênua. Estas acusações não sobrevivem a um olhar mais atento, já que isto seria tão ridículo quando chamar de provocativo ou ingênuo o cidadão que acaba de ter seus bens subtraídos em um assalto. O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo Mapa da Violência, avalia que "o mecanismo de autojustificação de várias instituições, principalmente aquelas que deveriam zelar pela segurança e pela proteção da mulher, coloca a vítima como culpada. A mulher é responsabilizada pela violência que sofre. Este tipo de postura institucional de tolerância à violência e impunidade não só permite como incentiva o feminicídio".
Como que por milagre, Suzane não morreu. Foi levada de Helicóptero para o Hospital das Clínicas e passou os dias seguintes respirando com auxílio de aparelhos. Fraturou dez costelas, clavícula, bacia e perna, além de um pulmão perfurado e múltiplas hemorragias internas. Continua internada em estado grave no Centro de Terapia Intensiva do hospital e ainda não está totalmente fora de perigo. Adelly fugiu assim que percebeu a chegada da polícia. Encontrada ainda consciente pelos policiais, Suzane contou aos policiais de que havia sido arremessada. Ao ouvir a acusação, o agressor disse aos homens da lei que a vítima estava surtada e isto foi o suficiente para que a ocorrência fosse registrada como queda acidental. Após ser liberado ainda teve a audácia de buscar refúgio na residência de um amigo em comum com a vítima, mas não foi mais visto posteriormente.
Para a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência,
Eleonora Menicucci, as iniciativas respondem ao desafio de se enfrentar o crime
do feminicídio a partir de um dos consensos que cerca esse tema: o de que as
investigações do crime têm caráter especializado e que, muitas vezes, por falta
de uma real perspectiva de gênero, não se coletam as evidências necessárias,
fomentando assim a impunidade crônica que estimula a sua recorrência. Na
opinião de Leila Barsted, o estado brasileiro ainda acredita que crimes como
tráfico de drogas e formação de grupos criminosos são mais graves que os crimes
contra as mulheres. Ela disse que os assassinatos contra mulheres são crimes
mal periciados e mal investigados e que os processos e inquéritos ainda estão
marcados pela ideia errônea que o homicídio contra mulheres não tem tanta
gravidade.
Apesar da gravidade dos
ferimentos Suzane vem aos poucos se recuperando. Seu pulmão se recuperou quase
completamente e ela já respira sem auxílio de aparelhos há mais de uma semana.
A cirurgia para correção das fraturas mais graves foi um sucesso, e ela deve
receber alta em breve, mesmo que os médicos estimem que ela só deverá ser capaz
de voltar a andar em torno de seis meses. Mas Suzane continuará lutando, mas
não apenas por si própria. Integrante de diversos grupos feministas e ativista
pela igualdade de gênero, Suzane Jardim pode ser comparada à garota
paquistanesa Malala. A jovem que se tornou símbolo mundial de luta por
igualdade ao ser baleada por defender o direito à educação de meninas inspira
tanto quanto a jovem que quase foi assassinada por defender o direito à
dignidade das mulheres. Enquanto a misoginia, a homofobia, o racismo e qualquer
crime de ódio continuar existir, Malalas e Suzanes continuarão a lutar.
Altenor Júnior é Arquiteto
de Software, estudante de Direito e ativista de Direitos Humanos.
E-mail: altenorjr@gmail.com
Página no facebook: fb.com/altenorjr
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