Por Ana Eufrázio
“A guerra invisível” é um documentário
dirigido Kirby Dick e Amy Ziering. O documentário aborda um tema extremamente
delicado, mas que alcançou a dimensão de uma epidemia, estupros de mulheres nas
forças armadas americanas. O documentário tem pouco mais de uma hora e meia de
duração e revela as histórias chocantes de abusos de poder, ameaças, estupros, violência
institucional, omissão, corporativismos, impunidade e humilhação de centenas de
milhares de mulheres que serviram nas forças armadas americanas.
O
documentário exibe uma convocação, usada na abertura à participação feminina,
as mulheres a participar das forças armadas. Nela o sargento Stuart Queen
declara que “O privilégio em servir os Estados Unidos em uniforme não é mais
limitado aos homens”. Em seguida é exibindo
chamadas e propagandas atuais, todas bastantes atraentes. As chamadas instigam
as mulheres a ingressarem nas forças armadas através do sonho de servir ao país,
contribuir com a pátria, vencer desafios e o inimigo.
Através
das falas de Kori Cioca, Jessica Hinves, Hobin Lynne, Lieutenant, Hannah Sewell
Trina McDonald (todas veteranas) é possível perceber o quanto as forças armadas
eram atraentes para elas. Talvez não só por conta dos comerciais exibidos, como
também pelo fascínio pela “farda” (disciplina, bravura, hombridade, autoridade...),
ou como algumas gostam de afirmar, por herança genética. Depois de passar pelas
forças armadas, o que restaram nessas mulheres depois dos abusos foram a decepção,
sofrimento, falta de amor próprio e desejo de morte. Elas sentiram na pele o
horror de fazer parte de um sistema fechado, baseado na hierarquia, no corporativismo
e no poder. Somente depois serem
vitimadas perceberem que aqueles homens, que “serviam” à pátria e dos quais se
sentiam companheiras e até familiares, eram estupradores em série e que seus
superiores não se importavam com o que estava acontecendo a elas.
Assim
como ocorre aqui no Brasil, além da violência sexual, as vítimas têm de
conviver com a violência institucional, onde a própria justiça militar ou civil
pode acusa-la de estar mentindo de ter provocado ou procurado o estupro. Nesse primeiro
caso, a vítima é punida severamente. De qualquer modo, ou sob qualquer circunstância,
a mulher sempre sofre retaliações e passa por diversos processos humilhantes.
Nos EUA,
os casos de violência sexuais em hipótese alguma são punidos pela justiça
militar. Sempre procuram desqualificar ou desacreditar vítima. Por estes
motivos as força armadas tornaram-se refúgio principal dos estupradores em
série, pois eles sabem que lá estão a salvo da justiça e podem agir sem medo. Além do que, nesses espaços eles aprendem qual a todas as formas e mecanisnmos de burlar a lei. Um
estudo na marinha encontrou que 15% dos novos recrutas tentaram ou cometeram
estupros antes de ingressar no exército, uma taxa duas vezes maior que entre a
população civil.
Mais
de 20% das veteranas foram abusadas sexualmente enquanto serviam. Em 1991, em
depoimento ao congresso, o governo americano estimou que 200.000 mulheres teriam
sido estupradas no exercito dos EUA até aquele momento. Levando em consideração
o número de mulheres que não denunciam por medo da extrema retaliação, esse
numero poderia atingir o impensável montante de 500.000 mil mulheres violadas
no Exercito americano, isso até o começo da década de 90. De acordo com o
departamento de defesa 3.230 homens e mulheres relataram ataques no ano de
2009. No entanto, eles admitem que 80% dos sobreviventes de agressões sexuais
não relatam ou denunciam os casos. Então, pode-se concluir que 16.150 membros
do serviço foram agredidos sexualmente no ano.
No
pelotão do quartel da Marinha de Washington, um dos mais importantes do país, um comandante revelou ao soldado
feminino, Lieutenant, que “as mulheres fuzileiras não são nada aqui, mais do
que objetos sexuais para os marines foderem”.
Através
dessa declaração é possível verificar que o problema da violência sexual esta
longe de ter um fim nas forças armadas americana. Até mesmo porque o corporativismo
impede que as denúncias cheguem ao alto comando, e às que chegam são
arquivadas. Porque tudo que o alto escalão militar menos quer é que as
corporações tenham sua honra manchada por esse tipo de escândalo. Daí o
impasse, caso julguem procedentes os casos de abusos eles têm suas corporações
manchadas, caso se neguem a investigarem os casos, são acusados de omissos. No entanto,
anualmente centenas de denúncias vazam na mídia e o governo é obrigado a ir à
imprensa dar explicações sobre os casos. A cada nova enxurrada de denúncias o
governo vai à TV e informa sobre planos de tolerância zero com os agressores e
medidas de prevenção ao abuso. Apesar disso, os casos de impunidade persistem e
a tolerância com os abusos ídem.
Veja
o vídeo e conheça a realidades das militares nos EUA.
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